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																					O dinheiro é uma das maiores invenções da humanidade. Pense no que aconteceria na ausência dele. Nas economias modernas, as pessoas tendem a se especializar em poucas atividades econômicas, em geral no que fazem melhor. Mas seu consumo é diversificado, ou seja, com os recursos que recebem por seu trabalho compram os mais variados bens e serviços. Esse arranjo não seria possível sem o dinheiro. Haveria uma perda enorme de produtividade e de bem-estar na sociedade.

Suponha que você estudou para ser veterinário. Gasta a maior parte do seu tempo de trabalho no exercício dessa profissão, que é provavelmente o que você faz relativamente melhor (em comparação a outras atividades econômicas). Afinal, nela você consegue fazer mais dinheiro do que em outros potenciais ofícios. Com o dinheiro recebido pelo trabalho de veterinário, você consegue comprar diversas coisas – alimentação, vestuário, serviços etc.

Agora um cano na sua casa estourou, e você precisa achar um encanador. No nosso mundo com dinheiro, você simplesmente pega o dinheiro que ganhou como veterinário, e paga o profissional. Mas em um mundo paralelo, em que não existe dinheiro, você teria de trocar diretamente seus serviços de veterinário por serviços de encanamento. Em outras palavras, você teria de encontrar não apenas um encanador, mas um encanador que precise de uma consulta para seu animal de estimação. Imagine a complicação!

Muito provavelmente você mesmo teria de consertar seu encanamento, sacrificando horas em algo que você não faz tão bem. Isso seria verdade para os diversos bens e serviços que você consome. Problema semelhante enfrentaria um encanador, que porventura precise de um reparo na roupa de seu filho. Teria de encontrar um costureiro disposto a receber serviços de encanamento.

Agora extrapole esse problema para o nível da sociedade. As pessoas não conseguiriam se especializar em seus ofícios, o que configuraria um desperdício gigantesco de recursos e perda de produtividade. E, com essa falta de especialização, não haveria a disponibilidade de bens e serviços diferentes na economia, trazendo perda de bem-estar.

O dinheiro permite “destravar” as trocas na economia, resolvendo esse problema.

Ao longo da história, várias coisas foram usadas como dinheiro: sal, ouro, pedras gigantes, até cigarros em presídios. Nos últimos séculos, convergimos para o papel-moeda, que não tem outra função além de possibilitar trocas na sociedade. Ele se baseia unicamente na confiança coletiva. Eu aceito aquele papel colorido (e entrego minha mercadoria), na expectativa de que outra pessoa também o aceitará em uma compra futura.

No entanto, carregar dinheiro tem seus custos. Uma quantidade excessiva na carteira deixa o portador exposto a ser roubado, ou faz com que o montante tenha seu poder de compra corroído pela inflação. Mas uma quantidade pequena exige idas frequentes ao banco para realizar retiradas. Nos últimos anos, o avanço tecnológico fez com que esse último custo ficasse cada vez menor. Caixas eletrônicos, cartões de débito e crédito e, por último, compras pelo celular (como pelo Pix) diminuíram significativamente a necessidade de carregar dinheiro em espécie para fazer transações. Eu, por exemplo, não me lembro da última vez que fui a um caixa eletrônico fazer um saque, e não carrego quase nada na carteira.

Mas o que acontece quando a tecnologia falha? Pudemos presenciar essa questão nas últimas semanas no litoral norte de São Paulo, quando pesadas chuvas tornaram sinais de internet indisponíveis, impossibilitando compras por cartão ou pelo Pix. Houve diversos relatos de pessoas que não conseguiam comprar comida, ou que passavam horas correndo atrás de caixas eletrônicos, em busca de dinheiro vivo. Note que esses indivíduos tinham recursos para realizar as compras – só faltava o “intermediário”.

Por essas e outras, o dinheiro continua essencial.


COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO
 

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O dinheiro ainda é necessário?

O dinheiro é uma das maiores invenções da humanidade. Pense no que aconteceria na ausência dele. Nas economias modernas, as pessoas tendem a se especializar em poucas atividades econômicas, em geral no que fazem melhor. Mas seu consumo é diversificado, ou seja, com os recursos que recebem por seu trabalho compram os mais variados bens e serviços. Esse arranjo não seria possível sem o dinheiro. Haveria uma perda enorme de produtividade e de bem-estar na sociedade.

Suponha que você estudou para ser veterinário. Gasta a maior parte do seu tempo de trabalho no exercício dessa profissão, que é provavelmente o que você faz relativamente melhor (em comparação a outras atividades econômicas). Afinal, nela você consegue fazer mais dinheiro do que em outros potenciais ofícios. Com o dinheiro recebido pelo trabalho de veterinário, você consegue comprar diversas coisas – alimentação, vestuário, serviços etc.

Agora um cano na sua casa estourou, e você precisa achar um encanador. No nosso mundo com dinheiro, você simplesmente pega o dinheiro que ganhou como veterinário, e paga o profissional. Mas em um mundo paralelo, em que não existe dinheiro, você teria de trocar diretamente seus serviços de veterinário por serviços de encanamento. Em outras palavras, você teria de encontrar não apenas um encanador, mas um encanador que precise de uma consulta para seu animal de estimação. Imagine a complicação!

Muito provavelmente você mesmo teria de consertar seu encanamento, sacrificando horas em algo que você não faz tão bem. Isso seria verdade para os diversos bens e serviços que você consome. Problema semelhante enfrentaria um encanador, que porventura precise de um reparo na roupa de seu filho. Teria de encontrar um costureiro disposto a receber serviços de encanamento.

Agora extrapole esse problema para o nível da sociedade. As pessoas não conseguiriam se especializar em seus ofícios, o que configuraria um desperdício gigantesco de recursos e perda de produtividade. E, com essa falta de especialização, não haveria a disponibilidade de bens e serviços diferentes na economia, trazendo perda de bem-estar.

O dinheiro permite “destravar” as trocas na economia, resolvendo esse problema.

Ao longo da história, várias coisas foram usadas como dinheiro: sal, ouro, pedras gigantes, até cigarros em presídios. Nos últimos séculos, convergimos para o papel-moeda, que não tem outra função além de possibilitar trocas na sociedade. Ele se baseia unicamente na confiança coletiva. Eu aceito aquele papel colorido (e entrego minha mercadoria), na expectativa de que outra pessoa também o aceitará em uma compra futura.

No entanto, carregar dinheiro tem seus custos. Uma quantidade excessiva na carteira deixa o portador exposto a ser roubado, ou faz com que o montante tenha seu poder de compra corroído pela inflação. Mas uma quantidade pequena exige idas frequentes ao banco para realizar retiradas. Nos últimos anos, o avanço tecnológico fez com que esse último custo ficasse cada vez menor. Caixas eletrônicos, cartões de débito e crédito e, por último, compras pelo celular (como pelo Pix) diminuíram significativamente a necessidade de carregar dinheiro em espécie para fazer transações. Eu, por exemplo, não me lembro da última vez que fui a um caixa eletrônico fazer um saque, e não carrego quase nada na carteira.

Mas o que acontece quando a tecnologia falha? Pudemos presenciar essa questão nas últimas semanas no litoral norte de São Paulo, quando pesadas chuvas tornaram sinais de internet indisponíveis, impossibilitando compras por cartão ou pelo Pix. Houve diversos relatos de pessoas que não conseguiam comprar comida, ou que passavam horas correndo atrás de caixas eletrônicos, em busca de dinheiro vivo. Note que esses indivíduos tinham recursos para realizar as compras – só faltava o “intermediário”.

Por essas e outras, o dinheiro continua essencial.


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