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O número de pessoas investindo na Bolsa só aumenta. Chegou a mais de 2 milhões. Nós do Por Quê? temos insistido na ideia de que há duas maneiras de usarmos a Bolsa: a certa e a errada. A errada é tentar usar a Bolsa como uma boa fonte de renda de curto prazo, por exemplo, através de day trade. A certa, é usá-la como um ótimo investimento previdenciário, com gordos "prêmios de risco" para serem colhidos ao longo do tempo. A seguir, vamos explicar o que são esses prêmios de risco. 

Imagine que só você fica sabendo que lá no topo do Everest existe uma mala recheada de dólares. Você vai até lá para tentar pegá-la? Se a sua resposta foi algo do tipo “depende de quanto dinheiro tem na mala”, você já sabe o que é prêmio de risco.
No mundo das finanças é a mesma coisa. Suponha que o governo federal está hoje vendendo um título pré-fixado de um ano por R$ 909,09. Trocando em miúdos, as pessoas podem investir hoje R$ 909,09 para receber R$ 1.000,00 daqui a um ano com certeza absoluta. Ou seja, esse investimento oferece um retorno sem risco de 10% ao ano (R$ 1.000,00 dividido por R$ 909,09). Ao mesmo tempo, um economista sabichão disse hoje no jornal que a perspectiva para a Bolsa no período de um ano é de alta. Foi convicto: “No pior cenário, com 50% de chances, a Bolsa fica estável; no melhor cenário, com 50% de chances, ela sobe 20%.” Se você tem R$ 909,09 para investir, o que você faz? Compra o título pré-fixado, ou investe na Bolsa?

Imagino que, depois de pensar um pouco, você deve ter respondido que compra o título pré-fixado. Você deve ter matutado: “De acordo com o economista, o retorno esperado da Bolsa para o próximo ano é de 10%, já que 50% x 0% mais 50% x 20% é igual a 10%. E isso é exatamente a mesma coisa que o retorno certeiro do título público. Então, por que eu vou correr o risco de investir na Bolsa?” Foi isso mesmo que você pensou? Provavelmente, afinal de contas, essa seria a lógica típica de uma pessoa avessa ao risco e, de acordo com as evidências empíricas da literatura econômica, quase todo mundo é avesso ao risco.

O fato é que, nesse cenário do economista da TV, a Bolsa não estaria oferecendo um prêmio de risco suficientemente grande para que você considerasse seu risco atrativo. Na verdade, ela não estaria oferecendo prêmio de risco nenhum: o retorno esperado da Bolsa, ativo arriscado, seria o mesmo do título público, ativo livre de risco! O resultado disso qual seria? Ninguém, ou pouca gente, investiria na Bolsa.

E é aí que o economista da TV pisou na bola. Ele não percebeu que aquela sua previsão para Bolsa não poderia ser válida em equilíbrio. Sob o cenário traçado pelo economista, você, e quase todo mundo, iria querer investir no título pré-fixado e não na Bolsa. Por causa disso, o que iria acontecer? Sim, o preço do título iria subir e o valor da Bolsa iria cair. Com o título custando mais, o retorno oferecido por ele cairia. Com a Bolsa custando menos, o retorno esperado oferecido por ela subiria. E essa dinâmica de preço do título subindo e preço da Bolsa caindo iria até onde? Até o momento em que a Bolsa passasse a ficar tão atrativa quanto o título público.

Nos últimos 50 anos, a Bolsa dos Estados Unidos teve um rendimento médio de 7% ao ano. No mesmo período, a média da taxa de juros livre de risco americana foi de 1% ao ano. Dessa forma, podemos dizer que ao investir na Bolsa, os americanos esperavam receber 6% ao ano a mais do que o investimento livre de risco daria. Ou seja, o prêmio de risco nos Estados Unidos no período foi de 6% ao ano.

No Brasil, o curto horizonte de estabilidade econômica nos impede de calcular o prêmio de risco da Bolsa olhando para o passado. Como o histórico é curto – temos, no máximo, 25 anos de dados sem inflação enorme – a média do retorno passado não representa o retorno que os investidores esperavam ter. Isso acontece porque não há tempo suficiente para que os retornos inesperados positivos que ocorreram se anulem com os retornos inesperados negativos. Mas não há por que imaginarmos que o prêmio de risco por aqui possa ser muito diferente do dos Estados Unidos. Assim, quem investe na Bolsa para o longo prazo, pode ter retornos muito atrativos lá na frente. Para a grande maioria das pessoas, é para isso que a Bolsa serve.


COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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O prêmio de risco da Bolsa

O número de pessoas investindo na Bolsa só aumenta. Chegou a mais de 2 milhões. Nós do Por Quê? temos insistido na ideia de que há duas maneiras de usarmos a Bolsa: a certa e a errada. A errada é tentar usar a Bolsa como uma boa fonte de renda de curto prazo, por exemplo, através de day trade. A certa, é usá-la como um ótimo investimento previdenciário, com gordos "prêmios de risco" para serem colhidos ao longo do tempo. A seguir, vamos explicar o que são esses prêmios de risco. 

Imagine que só você fica sabendo que lá no topo do Everest existe uma mala recheada de dólares. Você vai até lá para tentar pegá-la? Se a sua resposta foi algo do tipo “depende de quanto dinheiro tem na mala”, você já sabe o que é prêmio de risco.
No mundo das finanças é a mesma coisa. Suponha que o governo federal está hoje vendendo um título pré-fixado de um ano por R$ 909,09. Trocando em miúdos, as pessoas podem investir hoje R$ 909,09 para receber R$ 1.000,00 daqui a um ano com certeza absoluta. Ou seja, esse investimento oferece um retorno sem risco de 10% ao ano (R$ 1.000,00 dividido por R$ 909,09). Ao mesmo tempo, um economista sabichão disse hoje no jornal que a perspectiva para a Bolsa no período de um ano é de alta. Foi convicto: “No pior cenário, com 50% de chances, a Bolsa fica estável; no melhor cenário, com 50% de chances, ela sobe 20%.” Se você tem R$ 909,09 para investir, o que você faz? Compra o título pré-fixado, ou investe na Bolsa?

Imagino que, depois de pensar um pouco, você deve ter respondido que compra o título pré-fixado. Você deve ter matutado: “De acordo com o economista, o retorno esperado da Bolsa para o próximo ano é de 10%, já que 50% x 0% mais 50% x 20% é igual a 10%. E isso é exatamente a mesma coisa que o retorno certeiro do título público. Então, por que eu vou correr o risco de investir na Bolsa?” Foi isso mesmo que você pensou? Provavelmente, afinal de contas, essa seria a lógica típica de uma pessoa avessa ao risco e, de acordo com as evidências empíricas da literatura econômica, quase todo mundo é avesso ao risco.

O fato é que, nesse cenário do economista da TV, a Bolsa não estaria oferecendo um prêmio de risco suficientemente grande para que você considerasse seu risco atrativo. Na verdade, ela não estaria oferecendo prêmio de risco nenhum: o retorno esperado da Bolsa, ativo arriscado, seria o mesmo do título público, ativo livre de risco! O resultado disso qual seria? Ninguém, ou pouca gente, investiria na Bolsa.

E é aí que o economista da TV pisou na bola. Ele não percebeu que aquela sua previsão para Bolsa não poderia ser válida em equilíbrio. Sob o cenário traçado pelo economista, você, e quase todo mundo, iria querer investir no título pré-fixado e não na Bolsa. Por causa disso, o que iria acontecer? Sim, o preço do título iria subir e o valor da Bolsa iria cair. Com o título custando mais, o retorno oferecido por ele cairia. Com a Bolsa custando menos, o retorno esperado oferecido por ela subiria. E essa dinâmica de preço do título subindo e preço da Bolsa caindo iria até onde? Até o momento em que a Bolsa passasse a ficar tão atrativa quanto o título público.

Nos últimos 50 anos, a Bolsa dos Estados Unidos teve um rendimento médio de 7% ao ano. No mesmo período, a média da taxa de juros livre de risco americana foi de 1% ao ano. Dessa forma, podemos dizer que ao investir na Bolsa, os americanos esperavam receber 6% ao ano a mais do que o investimento livre de risco daria. Ou seja, o prêmio de risco nos Estados Unidos no período foi de 6% ao ano.

No Brasil, o curto horizonte de estabilidade econômica nos impede de calcular o prêmio de risco da Bolsa olhando para o passado. Como o histórico é curto – temos, no máximo, 25 anos de dados sem inflação enorme – a média do retorno passado não representa o retorno que os investidores esperavam ter. Isso acontece porque não há tempo suficiente para que os retornos inesperados positivos que ocorreram se anulem com os retornos inesperados negativos. Mas não há por que imaginarmos que o prêmio de risco por aqui possa ser muito diferente do dos Estados Unidos. Assim, quem investe na Bolsa para o longo prazo, pode ter retornos muito atrativos lá na frente. Para a grande maioria das pessoas, é para isso que a Bolsa serve.


COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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