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Quando o Brasil enfrentou o Paraguai no Itaquerão, em março, torci para a seleção com gosto. O time de Tite satisfaz até os mais saudosistas torcedores. Não só vence partidas como vence mostrando talento e superioridade técnica, como convém a uma seleção brasileira de futebol.

Entretanto, quando Neymar bateu o pênalti que poderia ter sido mais um gol para o Brasil, eu torci contra. E vibrei quando o pênalti foi desperdiçado. Porque não seria um gol legítimo: Neymar se jogou na área, “cavando” um pênalti inexistente – o que é moralmente equivalente a bater a carteira de seu companheiro de trabalho.

Infelizmente, salvo exceções escondidas, comentarista algum criticou Neymar por trapacear. Imagino que muitos dos mesmos comentaristas que se calaram frente à injustiça do pênalti roubado se indignam quando políticos são expostos recebendo propinas. Certamente todos se indignariam se algum colega de trabalho lhes roubasse a carteira!

Mas deixam passar barato quando veem a malandragem dentro das quatro linhas.

No último domingo, o zagueiro Rodrigo Caio, do São Paulo, se chocou com seu próprio goleiro, que aparentou sentir dor nas coxas e rolou no gramado. O juiz, que seguia o lance à distância, correu na direção do atacante Jô do Corinthians, pronto para repreendê-lo injustamente com um cartão amarelo. Foi então interrompido por Rodrigo Caio, que, como deveríamos esperar de um atleta honesto, chamou para si a culpa pela contusão em seu companheiro, livrando assim o corintiano Jô do cartão amarelo.

Enquanto no futebol brasileiro tais atitudes são raras, e trapaças e malandragens são toleradas e às vezes elogiadas, em outros países do mundo a cultura futebolística não dá espaço para quebras na confiança entre atletas. Atacantes que simulam faltas são estigmatizados, assim como jogadores que simulam contusões. Um desses países com baixa tolerância a simuladores de faltas atualmente é campeão do mundo de futebol.

Extrapolando para além do futebol, o comportamento ético tem efeitos na economia. Quanto menos confiamos nos outros, mais energia gastamos para a atividade improdutiva de proteger nossos direitos e propriedades. Se temos receio de nosso colega de corredor, vamos trancar nossa sala do escritório – às vezes vamos até voltar do elevador, perdendo tempo, para averiguar se a sala está mesmo trancada! Quanto menos confiamos nos outros, mais tempo perdemos escrevendo contratos complexos para que não sejamos roubados por nossos sócios.

A falta de confiança entre agentes econômicos impõe custos de transação que inviabilizam algumas atividades econômicas.

O São Paulo não ganhou o jogo. Mas, pequeno consolo, o comportamento de seu jogador mostrou um padrão ético inspirador. Se seguirmos seu exemplo, ganhamos todos.

O que o fair play de Rodrigo Caio traz de lição econômica?

Quando o Brasil enfrentou o Paraguai no Itaquerão, em março, torci para a seleção com gosto. O time de Tite satisfaz até os mais saudosistas torcedores. Não só vence partidas como vence mostrando talento e superioridade técnica, como convém a uma seleção brasileira de futebol. Entretanto, quando Neymar bateu o pênalti que poderia ter sido mais um gol para o Brasil, eu torci contra. E vibrei quando o pênalti foi desperdiçado. Porque não seria um gol legítimo: Neymar se jogou na área, “cavando” um pênalti inexistente – o que é moralmente equivalente a bater a carteira de seu companheiro de trabalho. Infelizmente, salvo exceções escondidas, comentarista algum criticou Neymar por trapacear. Imagino que muitos dos mesmos comentaristas que se calaram frente à injustiça do pênalti roubado se indignam quando políticos são expostos recebendo propinas. Certamente todos se indignariam se algum colega de trabalho lhes roubasse a carteira! Mas deixam passar barato quando veem a malandragem dentro das quatro linhas. No último domingo, o zagueiro Rodrigo Caio, do São Paulo, se chocou com seu próprio goleiro, que aparentou sentir dor nas coxas e rolou no gramado. O juiz, que seguia o lance à distância, correu na direção do atacante Jô do Corinthians, pronto para repreendê-lo injustamente com um cartão amarelo. Foi então interrompido por Rodrigo Caio, que, como deveríamos esperar de um atleta honesto, chamou para si a culpa pela contusão em seu companheiro, livrando assim o corintiano Jô do cartão amarelo. Enquanto no futebol brasileiro tais atitudes são raras, e trapaças e malandragens são toleradas e às vezes elogiadas, em outros países do mundo a cultura futebolística não dá espaço para quebras na confiança entre atletas. Atacantes que simulam faltas são estigmatizados, assim como jogadores que simulam contusões. Um desses países com baixa tolerância a simuladores de faltas atualmente é campeão do mundo de futebol. Extrapolando para além do futebol, o comportamento ético tem efeitos na economia. Quanto menos confiamos nos outros, mais energia gastamos para a atividade improdutiva de proteger nossos direitos e propriedades. Se temos receio de nosso colega de corredor, vamos trancar nossa sala do escritório – às vezes vamos até voltar do elevador, perdendo tempo, para averiguar se a sala está mesmo trancada! Quanto menos confiamos nos outros, mais tempo perdemos escrevendo contratos complexos para que não sejamos roubados por nossos sócios. A falta de confiança entre agentes econômicos impõe custos de transação que inviabilizam algumas atividades econômicas. O São Paulo não ganhou o jogo. Mas, pequeno consolo, o comportamento de seu jogador mostrou um padrão ético inspirador. Se seguirmos seu exemplo, ganhamos todos.
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