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Muita gente está na expectativa para assistir ao novo filme dos Vingadores, que teve sua estreia mundial no último fim de semana. O presente texto tem spoilers moderados de Guerra infinita (2018), filme que antecede este mais novo.

Guerra infinita é um filme muito bom e que traz uma discussão interessante sobre economia. Na história, o vilão Thanos tem um objetivo muito claro: destruir metade da população no universo para que a outra metade tenha qualidade de vida. Afinal, os recursos são finitos – um mantra de economista, que é mencionado por Thanos no filme. Com tanta gente por aí, não dá para alimentar todo mundo. A miséria é a regra.

Ao eliminar metade dos habitantes do universo, sobrariam mais recursos para atender à metade que sobreviveu, que poderia ter uma vida melhor.

A narrativa do filme lembra bastante as ideias do economista britânico Thomas Malthus (1766-1834). As contribuições de Malthus estão até hoje presentes na literatura econômica moderna, no que se convencionou chamar de modelo malthusiano de crescimento.

De acordo com essas ideias, a tendência geral é que as pessoas se mantenham em um nível bem pobre, que garanta basicamente sua subsistência. Qualquer melhora nesse padrão de vida (por uma inovação tecnológica, por exemplo) faz com que os indivíduos queiram ter mais filhos. A população então cresce, levando o padrão de vida a retornar ao nível de subsistência no longo prazo.

Essa teoria explica satisfatoriamente o mundo pré-industrial, em que a estagnação da renda per capita era a regra. Além disso, o modelo implica que locais tecnologicamente mais avançados deveriam ter população maior, e não uma renda per capita mais alta. Essa predição é confirmada pelos dados para o período anterior ao ano 1500, como documentado pelos economistas Quamrul Ashraf e Oded Galor, em artigo acadêmico.

Nesse mundo malthusiano, o controle populacional é uma ferramenta efetiva para garantir que o padrão de vida não caia. Afinal, quando a vida melhora um pouco, as pessoas decidem ter mais filhos, o que no longo prazo faz com que voltemos à situação de subsistência. Se, de alguma forma, limitarmos o crescimento da população, o mecanismo não entra em ação e a renda per capita não reverte a seu nível baixo.

Aqui entra Thanos. Ao matar metade dos indivíduos do universo, ele garante que a vida das pessoas remanescentes de fato melhore. O que falta a Thanos é uma política de controle populacional. Caso contrário, as pessoas passarão a ter mais filhos, fazendo com que a população cresça e o padrão de vida volte à subsistência ao longo do tempo. Nessa toada, Thanos terá que fazer um novo genocídio daqui a alguns séculos.

***

Como falamos, o modelo malthusiano descreve bem o mundo pré-industrial. Mas não a experiência dos últimos séculos. Principalmente a partir do século 19, pudemos observar aumento tanto na renda per capita  como na população. E aquela evidência que mencionamos, do artigo de Ashraf e Galor, desaparece nos dados mais recentes: locais tecnologicamente mais avançados apresentam sim melhor padrão de vida médio.

O que mudou? A tecnologia pré-industrial era fortemente calcada na agricultura, em que há uma limitação muito clara: a quantidade de terra. Com a Revolução Industrial, o mundo foi ficando cada vez menos dependente da terra, aliviando essa restrição. Com isso, o avanço tecnológico pode fazer com que a renda e a população aumentem ao mesmo tempo. O crescimento populacional não mais empurra as pessoas de volta ao nível de subsistência.

Agora pense no mundo dos Vingadores. Aquilo se parece mais com uma sociedade agrária ou industrial? Thanos está errado. Pode haver muita pobreza no universo. Mas em um mundo industrial como o do filme, isso não tem nada a ver com excesso de gente.

O que o filme dos Vingadores tem a ver com economia?

Muita gente está na expectativa para assistir ao novo filme dos Vingadores, que teve sua estreia mundial no último fim de semana. O presente texto tem spoilers moderados de Guerra infinita (2018), filme que antecede este mais novo. Guerra infinita é um filme muito bom e que traz uma discussão interessante sobre economia. Na história, o vilão Thanos tem um objetivo muito claro: destruir metade da população no universo para que a outra metade tenha qualidade de vida. Afinal, os recursos são finitos – um mantra de economista, que é mencionado por Thanos no filme. Com tanta gente por aí, não dá para alimentar todo mundo. A miséria é a regra. Ao eliminar metade dos habitantes do universo, sobrariam mais recursos para atender à metade que sobreviveu, que poderia ter uma vida melhor. A narrativa do filme lembra bastante as ideias do economista britânico Thomas Malthus (1766-1834). As contribuições de Malthus estão até hoje presentes na literatura econômica moderna, no que se convencionou chamar de modelo malthusiano de crescimento. De acordo com essas ideias, a tendência geral é que as pessoas se mantenham em um nível bem pobre, que garanta basicamente sua subsistência. Qualquer melhora nesse padrão de vida (por uma inovação tecnológica, por exemplo) faz com que os indivíduos queiram ter mais filhos. A população então cresce, levando o padrão de vida a retornar ao nível de subsistência no longo prazo. Essa teoria explica satisfatoriamente o mundo pré-industrial, em que a estagnação da renda per capita era a regra. Além disso, o modelo implica que locais tecnologicamente mais avançados deveriam ter população maior, e não uma renda per capita mais alta. Essa predição é confirmada pelos dados para o período anterior ao ano 1500, como documentado pelos economistas Quamrul Ashraf e Oded Galor, em artigo acadêmico. Nesse mundo malthusiano, o controle populacional é uma ferramenta efetiva para garantir que o padrão de vida não caia. Afinal, quando a vida melhora um pouco, as pessoas decidem ter mais filhos, o que no longo prazo faz com que voltemos à situação de subsistência. Se, de alguma forma, limitarmos o crescimento da população, o mecanismo não entra em ação e a renda per capita não reverte a seu nível baixo. Aqui entra Thanos. Ao matar metade dos indivíduos do universo, ele garante que a vida das pessoas remanescentes de fato melhore. O que falta a Thanos é uma política de controle populacional. Caso contrário, as pessoas passarão a ter mais filhos, fazendo com que a população cresça e o padrão de vida volte à subsistência ao longo do tempo. Nessa toada, Thanos terá que fazer um novo genocídio daqui a alguns séculos. *** Como falamos, o modelo malthusiano descreve bem o mundo pré-industrial. Mas não a experiência dos últimos séculos. Principalmente a partir do século 19, pudemos observar aumento tanto na renda per capita  como na população. E aquela evidência que mencionamos, do artigo de Ashraf e Galor, desaparece nos dados mais recentes: locais tecnologicamente mais avançados apresentam sim melhor padrão de vida médio. O que mudou? A tecnologia pré-industrial era fortemente calcada na agricultura, em que há uma limitação muito clara: a quantidade de terra. Com a Revolução Industrial, o mundo foi ficando cada vez menos dependente da terra, aliviando essa restrição. Com isso, o avanço tecnológico pode fazer com que a renda e a população aumentem ao mesmo tempo. O crescimento populacional não mais empurra as pessoas de volta ao nível de subsistência. Agora pense no mundo dos Vingadores. Aquilo se parece mais com uma sociedade agrária ou industrial? Thanos está errado. Pode haver muita pobreza no universo. Mas em um mundo industrial como o do filme, isso não tem nada a ver com excesso de gente.
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