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							Para os não-economistas, a credibilidade da política monetária pode soar como um mantra repetido por economistas, mas quase nunca explicado.

Essa visão é parcialmente correta.

De fato, nas boas escolas de economia, os aprendizes de feiticeiros passam pelo menos um semestre recitando esse mantra numa sala quente e sem janelas, cheirando a incenso e suor. Mas não repita a ninguém o que acabamos de confidenciar. É um segredo da profissão.

A triste realidade é que muitos estudantes se distraem (com os colegas suados?), não memorizam o mantra e se perdem no caminho do Nirvana, aquele lugar mítico onde todos sabem o que se passa na política monetária.

A inflação, aprendemos no dia-a-dia, é um imposto que corrói o valor de nosso dinheiro. Aquela nota de 100 reais que perdemos no bolso do terno marrom, hoje, vale bem menos do que quando ternos marrom estavam na moda.

Mas a inflação causa um dano adicional: ela corrói o sistema de preços na economia.

Esse efeito é mais sentido nos preços que são determinados esporadicamente e passam a valer por períodos longos, como nos contratos de trabalho ou aluguéis.

Quanto mais alta a inflação que antevemos no futuro, maior o reajuste de salários que vamos demandar. Por quê? Porque o salário que negociamos agora será corroído pela inflação de hoje até a próxima data de reajuste.

No mundo da inflação alta, as negociações de salários focam em discutir a inflação futura em vez de a produtividade do trabalho. Quando sindicatos e patrões discordam sobre a inflação futura, vemos greves e interrupções da atividade econômica – que de todos, em algum grau, mais pobres.

O sistema de metas de inflação visa exatamente evitar esse tipo de coisa. Pretende gerar previsibilidade sobre a inflação.

No Brasil, para 2017, vale uma meta de 4,5% ao ano e o presidente do Banco Central tem um compromisso de entregar a inflação nesse nível. Se errar a trajetória por mais de um e meio ponto percentual para cima ou para baixo (margem de erro vigente para o ano) precisa explicar para a sociedade porque fracassou – uma humilhação para qualquer autoridade monetária que se preze.

É aqui que entra o pó de pirlimpimpim, digo, a credibilidade da política monetária.

Se trabalhadores, patrões e o seu Antonio da venda da esquina concordam que o Banco Central vai conseguir atingir a meta – ou seja, se a política monetária é crível –, seus reajustes de preços vão embutir a expectativa de inflação na meta. E se embutem a expectativa de inflação na meta, é exatamente isso que acontece: a inflação vai convergir para a meta!

Mas de onde vem a credibilidade da política monetária?

São várias as fontes. Pode ser a reputação do banco central, construída por vários anos de inflação na meta, ou a reputação de seu presidente, que promete atacar vigorosamente os desvios da meta e cumpre suas promessas.

É bem possível que a inflação registrada em 2016 fique de volta dentro da margem de erro da meta (abaixo de 6,5%, considerados 4,5% mais dois pontos porcentuais de lambuja) e volte para o centro da meta ao fim de 2017.

Seria uma excelente notícia. Estabeleceria que o Banco Central do Brasil recuperou a sua credibilidade.

A mágica disso é: com a credibilidade recuperada, manter a inflação na meta é muito mais fácil do que trazê-la para a meta depois que ela se desgarrou.

 					

O que significa "credibilidade da política monetária"?

Para os não-economistas, a credibilidade da política monetária pode soar como um mantra repetido por economistas, mas quase nunca explicado. Essa visão é parcialmente correta. De fato, nas boas escolas de economia, os aprendizes de feiticeiros passam pelo menos um semestre recitando esse mantra numa sala quente e sem janelas, cheirando a incenso e suor. Mas não repita a ninguém o que acabamos de confidenciar. É um segredo da profissão. A triste realidade é que muitos estudantes se distraem (com os colegas suados?), não memorizam o mantra e se perdem no caminho do Nirvana, aquele lugar mítico onde todos sabem o que se passa na política monetária. A inflação, aprendemos no dia-a-dia, é um imposto que corrói o valor de nosso dinheiro. Aquela nota de 100 reais que perdemos no bolso do terno marrom, hoje, vale bem menos do que quando ternos marrom estavam na moda. Mas a inflação causa um dano adicional: ela corrói o sistema de preços na economia. Esse efeito é mais sentido nos preços que são determinados esporadicamente e passam a valer por períodos longos, como nos contratos de trabalho ou aluguéis. Quanto mais alta a inflação que antevemos no futuro, maior o reajuste de salários que vamos demandar. Por quê? Porque o salário que negociamos agora será corroído pela inflação de hoje até a próxima data de reajuste. No mundo da inflação alta, as negociações de salários focam em discutir a inflação futura em vez de a produtividade do trabalho. Quando sindicatos e patrões discordam sobre a inflação futura, vemos greves e interrupções da atividade econômica – que de todos, em algum grau, mais pobres. O sistema de metas de inflação visa exatamente evitar esse tipo de coisa. Pretende gerar previsibilidade sobre a inflação. No Brasil, para 2017, vale uma meta de 4,5% ao ano e o presidente do Banco Central tem um compromisso de entregar a inflação nesse nível. Se errar a trajetória por mais de um e meio ponto percentual para cima ou para baixo (margem de erro vigente para o ano) precisa explicar para a sociedade porque fracassou – uma humilhação para qualquer autoridade monetária que se preze. É aqui que entra o pó de pirlimpimpim, digo, a credibilidade da política monetária. Se trabalhadores, patrões e o seu Antonio da venda da esquina concordam que o Banco Central vai conseguir atingir a meta – ou seja, se a política monetária é crível –, seus reajustes de preços vão embutir a expectativa de inflação na meta. E se embutem a expectativa de inflação na meta, é exatamente isso que acontece: a inflação vai convergir para a meta! Mas de onde vem a credibilidade da política monetária? São várias as fontes. Pode ser a reputação do banco central, construída por vários anos de inflação na meta, ou a reputação de seu presidente, que promete atacar vigorosamente os desvios da meta e cumpre suas promessas. É bem possível que a inflação registrada em 2016 fique de volta dentro da margem de erro da meta (abaixo de 6,5%, considerados 4,5% mais dois pontos porcentuais de lambuja) e volte para o centro da meta ao fim de 2017. Seria uma excelente notícia. Estabeleceria que o Banco Central do Brasil recuperou a sua credibilidade. A mágica disso é: com a credibilidade recuperada, manter a inflação na meta é muito mais fácil do que trazê-la para a meta depois que ela se desgarrou.  
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