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Um dos principais destaques da Copa do Mundo não foi um craque ou um técnico, mas uma tecnologia: o VAR, ou árbitro de vídeo. Com base em diversas câmeras que captam cada detalhe do jogo, árbitros auxiliares ajudam o árbitro principal a tomar decisões sobre lances polêmicos, como pênaltis ou cartões vermelhos.

Apesar de ainda rodeado de controvérsias, o VAR traz um potencial benefício que vai além da Copa do Mundo, podendo ajudar principalmente em campeonatos de clubes, em que pesa o fator casa – isto é, o fato de as equipes mandantes terem uma chance desproporcional de ganhar as disputas.

Esse fator casa está bem documentado na literatura acadêmica de economia, e há artigos que sugerem que ele tem a ver com a pressão da torcida sobre o juiz no campo. Ao retirar parte das decisões das mãos do juiz principal e entregá-la a alguém que não está no estádio, essa pressão pode ser reduzida.

Na verdade, a literatura em economia usa o futebol como um laboratório para estudar escolhas sob uma restrição bem específica – a pressão psicológica. Já falamos sobre isso anteriormente, no contexto de disputas de pênaltis (e como a pressão pode afetar a escolha do jogador que bate a penalidade). Aqui o foco é no juiz – como sua decisão sobre dar um pênalti para o time da casa, por exemplo, depende da torcida no estádio?

A seguir, comentamos dois artigos acadêmicos empíricos que encontram evidência de que a pressão importa nesse caso.

Luis Garicano, Ignacio Palacios-Huerta e Canice Prendergast analisam a decisão do árbitro de conceder o tempo adicional no final da partida, usando dados de jogos de campeonato espanhol. Notam que, se o time da casa está perdendo por um gol de diferença no fim do jogo, o tempo adicional dado pelo juiz é significativamente maior (em comparação ao caso em que a partida está empatada). Isso beneficia a equipe local, pois amplia as chances de que o placar seja igualado nos minutos remanescentes.

E quando o time da casa está ganhando o jogo por um tento? O contrário: árbitros tendem a dar menos tempo – reduzindo assim as chances de o adversário empatar.

O interessante é que, se no fim do jogo a diferença é de dois ou mais gols – para o time da casa ou de fora –, não há impacto sobre o tempo adicional. Faz sentido: alguns minutos a mais dificilmente mudarão o resultado final nessas condições.

Mais importante, entretanto, é o impacto da torcida sobre os efeitos encontrados. Eles ficam mais fortes quanto maior a presença de torcedores no estádio (e maior a pressão sobre o juiz). Em outras palavras, quanto maior a lotação do estádio, mais tempo adicional é concedido caso o time da casa esteja atrás no placar, e menos tempo é dado caso ele esteja ganhando o jogo.

Obviamente, o VAR não pode ser usado para determinar o tempo adicional ao fim do jogo. Entretanto, a evidência acima é informativa, pois indica que a pressão psicológica pesa nas decisões de árbitros. É de se esperar que outras decisões (como pênaltis e cartões) também sejam impactadas. E o VAR, ao transferir parte da decisão para alguém que está fora do estádio, poderia mitigar tal efeito nesses casos.

Já o artigo acadêmico de Per Pettersson-Lidbom e Mikael Priks analisa o viés “caseiro” de árbitros no campeonato italiano. Para estimar o efeito, os autores se valem de um evento – uma briga feia entre torcedores dos clubes Palermo e Catania, em 2007 – que levou as autoridades a proibir jogos com torcida em estádios que não tivessem condições mínimas de segurança.

Assim, em sua amostra há partidas com e sem torcida. Isso permite avaliar o impacto da presença de torcedores sobre o comportamento dos juízes. O interessante é que os autores conseguem observar o mesmo árbitro sob as duas situações.

Os resultados apontam a presença de viés em favor do time da casa. Quando há torcedores no estádio, o número de faltas e cartões contra o time de fora (relativamente ao da casa) são significativamente mais elevados do que quando o estádio está vazio.

O VAR tem o potencial de reduzir esses vieses, ao delegar algumas decisões para quem está fora estádio (e menos sujeito à pressão da torcida local). Veremos logo o que acontece na prática à medida que a tecnologia se dissemina em campeonatos de clubes pelo mundo.

Publicado primeiro na Coluna do Por Quê? na Folha

 

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O VAR diminui o fator casa?

Um dos principais destaques da Copa do Mundo não foi um craque ou um técnico, mas uma tecnologia: o VAR, ou árbitro de vídeo. Com base em diversas câmeras que captam cada detalhe do jogo, árbitros auxiliares ajudam o árbitro principal a tomar decisões sobre lances polêmicos, como pênaltis ou cartões vermelhos. Apesar de ainda rodeado de controvérsias, o VAR traz um potencial benefício que vai além da Copa do Mundo, podendo ajudar principalmente em campeonatos de clubes, em que pesa o fator casa – isto é, o fato de as equipes mandantes terem uma chance desproporcional de ganhar as disputas. Esse fator casa está bem documentado na literatura acadêmica de economia, e há artigos que sugerem que ele tem a ver com a pressão da torcida sobre o juiz no campo. Ao retirar parte das decisões das mãos do juiz principal e entregá-la a alguém que não está no estádio, essa pressão pode ser reduzida. Na verdade, a literatura em economia usa o futebol como um laboratório para estudar escolhas sob uma restrição bem específica – a pressão psicológica. Já falamos sobre isso anteriormente, no contexto de disputas de pênaltis (e como a pressão pode afetar a escolha do jogador que bate a penalidade). Aqui o foco é no juiz – como sua decisão sobre dar um pênalti para o time da casa, por exemplo, depende da torcida no estádio? A seguir, comentamos dois artigos acadêmicos empíricos que encontram evidência de que a pressão importa nesse caso. Luis Garicano, Ignacio Palacios-Huerta e Canice Prendergast analisam a decisão do árbitro de conceder o tempo adicional no final da partida, usando dados de jogos de campeonato espanhol. Notam que, se o time da casa está perdendo por um gol de diferença no fim do jogo, o tempo adicional dado pelo juiz é significativamente maior (em comparação ao caso em que a partida está empatada). Isso beneficia a equipe local, pois amplia as chances de que o placar seja igualado nos minutos remanescentes. E quando o time da casa está ganhando o jogo por um tento? O contrário: árbitros tendem a dar menos tempo – reduzindo assim as chances de o adversário empatar. O interessante é que, se no fim do jogo a diferença é de dois ou mais gols – para o time da casa ou de fora –, não há impacto sobre o tempo adicional. Faz sentido: alguns minutos a mais dificilmente mudarão o resultado final nessas condições. Mais importante, entretanto, é o impacto da torcida sobre os efeitos encontrados. Eles ficam mais fortes quanto maior a presença de torcedores no estádio (e maior a pressão sobre o juiz). Em outras palavras, quanto maior a lotação do estádio, mais tempo adicional é concedido caso o time da casa esteja atrás no placar, e menos tempo é dado caso ele esteja ganhando o jogo. Obviamente, o VAR não pode ser usado para determinar o tempo adicional ao fim do jogo. Entretanto, a evidência acima é informativa, pois indica que a pressão psicológica pesa nas decisões de árbitros. É de se esperar que outras decisões (como pênaltis e cartões) também sejam impactadas. E o VAR, ao transferir parte da decisão para alguém que está fora do estádio, poderia mitigar tal efeito nesses casos. Já o artigo acadêmico de Per Pettersson-Lidbom e Mikael Priks analisa o viés “caseiro” de árbitros no campeonato italiano. Para estimar o efeito, os autores se valem de um evento – uma briga feia entre torcedores dos clubes Palermo e Catania, em 2007 – que levou as autoridades a proibir jogos com torcida em estádios que não tivessem condições mínimas de segurança. Assim, em sua amostra há partidas com e sem torcida. Isso permite avaliar o impacto da presença de torcedores sobre o comportamento dos juízes. O interessante é que os autores conseguem observar o mesmo árbitro sob as duas situações. Os resultados apontam a presença de viés em favor do time da casa. Quando há torcedores no estádio, o número de faltas e cartões contra o time de fora (relativamente ao da casa) são significativamente mais elevados do que quando o estádio está vazio. O VAR tem o potencial de reduzir esses vieses, ao delegar algumas decisões para quem está fora estádio (e menos sujeito à pressão da torcida local). Veremos logo o que acontece na prática à medida que a tecnologia se dissemina em campeonatos de clubes pelo mundo. Publicado primeiro na Coluna do Por Quê? na Folha   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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