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A pandemia segue virulenta no Brasil, os casos só fazem subir, os hospitais estão lotados e, no meio disso tudo, trocas e pedidos de demissão nos altos escalões do governo federal e falta de coordenação e liderança assustadoras. Na economia, a previsão é de que o PIB caia uns 7% em 2020, depois de quase uma década de taxas medíocres de crescimento. O desemprego deve bater perto dos 18%, e a dívida pública vai facilmente para 100% do PIB. A coisa está feia por onde quer que você olhe. 

Tentando tirar a cabeça da água para respirar, daqui um ano, mais ou menos, teremos um cenário em que provavelmente o vírus não estará afetando a sociedade tão dramaticamente. Haverá vacina, tratamentos melhores e anticorpos. Resumidamente, as condições epidemiológicas estarão mais amenas, possibilitando um certo retorno à normalidade. O problema é que as condições não-epidemiológicas serão de terra devastada. 

Na política, a coisa parece estar entrando numa espiral tenebrosa, com o círculo de apoio ao presidente cada vez mais restrito e radical. Praticamente todo dia surge um comunista traidor a ser defenestrado, e a possibilidade de diálogo entre governo e outros poderes e sociedade vai se desmilinguindo. Isso não tem como terminar bem. A outra margem do rio, isto é, as eleições de 2022, está muito longe. 

Na economia, o gerenciamento da crise tem tido mais acertos do que erros. Sob pressão do Congresso, o governo engordou a assistência que vai dar algum oxigênio aos trabalhadores informais. E o Banco Central reduziu juros (poderia ter sido mais agressivo, dado que a inflação caminha para 1% esse ano) e facilitou o provimento de liquidez. O choque é sinistro, e a área econômica não pode fazer muito mais que isso nesse momento. Teria ajudado muito – muito mesmo – se o governo tivesse levado o coronavírus a sério, com uma campanha de distanciamento social draconiana no começo, seguida de uma reabertura inteligente, desenhada, com testes e protocolos. Mas isso parece que não teremos: a liderança é negacionista. O mais curioso, e triste, de tudo isso é que Jair Bolsonaro, ao apressar a reabertura, não consegue entender que trabalha contra a própria economia.   

Para piorar, o desespero ressuscita a esperança em soluções mágicas, como esse PL 1.166 que tramita no Senado e visa fixar um teto para o juro do cartão de crédito em mais ou menos 1/8 do nível atual. Mágica nunca funciona em economia – apenas frieza racional.

E por falar em mágica, outra que anda fazendo certo sucesso por aí é a de imprimir moeda para pagar a dívida pública lá na frente. Que fique bem claro: a dívida pública tem que subir mesmo, o momento é de mais gastos do governo e menos arrecadação de impostos. Mas a única maneira de pagá-la depois é aumentando impostos e cortando outros gastos. E alguma hora – não agora – precisaremos voltar à agenda estrutural: reforma administrativa, reforma tributária, abertura econômica, privatizações, entre outros. 

Teremos o necessário denodo varonil para encarar as dificuldades presentes e futuras com pragmatismo e racionalidade? Se a resposta for negativa, teremos mais uma década perdida – cheia de rimas chinfrins, como essa.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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O vírus um dia acaba, mas e a crise?

A pandemia segue virulenta no Brasil, os casos só fazem subir, os hospitais estão lotados e, no meio disso tudo, trocas e pedidos de demissão nos altos escalões do governo federal e falta de coordenação e liderança assustadoras. Na economia, a previsão é de que o PIB caia uns 7% em 2020, depois de quase uma década de taxas medíocres de crescimento. O desemprego deve bater perto dos 18%, e a dívida pública vai facilmente para 100% do PIB. A coisa está feia por onde quer que você olhe. 

Tentando tirar a cabeça da água para respirar, daqui um ano, mais ou menos, teremos um cenário em que provavelmente o vírus não estará afetando a sociedade tão dramaticamente. Haverá vacina, tratamentos melhores e anticorpos. Resumidamente, as condições epidemiológicas estarão mais amenas, possibilitando um certo retorno à normalidade. O problema é que as condições não-epidemiológicas serão de terra devastada. 

Na política, a coisa parece estar entrando numa espiral tenebrosa, com o círculo de apoio ao presidente cada vez mais restrito e radical. Praticamente todo dia surge um comunista traidor a ser defenestrado, e a possibilidade de diálogo entre governo e outros poderes e sociedade vai se desmilinguindo. Isso não tem como terminar bem. A outra margem do rio, isto é, as eleições de 2022, está muito longe. 

Na economia, o gerenciamento da crise tem tido mais acertos do que erros. Sob pressão do Congresso, o governo engordou a assistência que vai dar algum oxigênio aos trabalhadores informais. E o Banco Central reduziu juros (poderia ter sido mais agressivo, dado que a inflação caminha para 1% esse ano) e facilitou o provimento de liquidez. O choque é sinistro, e a área econômica não pode fazer muito mais que isso nesse momento. Teria ajudado muito – muito mesmo – se o governo tivesse levado o coronavírus a sério, com uma campanha de distanciamento social draconiana no começo, seguida de uma reabertura inteligente, desenhada, com testes e protocolos. Mas isso parece que não teremos: a liderança é negacionista. O mais curioso, e triste, de tudo isso é que Jair Bolsonaro, ao apressar a reabertura, não consegue entender que trabalha contra a própria economia.   

Para piorar, o desespero ressuscita a esperança em soluções mágicas, como esse PL 1.166 que tramita no Senado e visa fixar um teto para o juro do cartão de crédito em mais ou menos 1/8 do nível atual. Mágica nunca funciona em economia – apenas frieza racional.

E por falar em mágica, outra que anda fazendo certo sucesso por aí é a de imprimir moeda para pagar a dívida pública lá na frente. Que fique bem claro: a dívida pública tem que subir mesmo, o momento é de mais gastos do governo e menos arrecadação de impostos. Mas a única maneira de pagá-la depois é aumentando impostos e cortando outros gastos. E alguma hora – não agora – precisaremos voltar à agenda estrutural: reforma administrativa, reforma tributária, abertura econômica, privatizações, entre outros. 

Teremos o necessário denodo varonil para encarar as dificuldades presentes e futuras com pragmatismo e racionalidade? Se a resposta for negativa, teremos mais uma década perdida – cheia de rimas chinfrins, como essa.

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