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														O governo apenas começou, o que torna inferências cabais sobre o que será o Lula 3 um exercício temeroso. Mas até aqui, está com jeito de que não vai ser bom no quesito economia.

Fernando Haddad e Simone Tebet – nomes fortes da área econômica – conversam e conversaram com técnicos muito bem preparados e sempre se colocaram de modo mais equilibrado sobre temas da economia. Antes de assumir o ministério, Haddad buscou para auxiliares nomes de excelência no mundo acadêmico, mas teve dificuldade para recrutá-los. Por sua vez, Simone Tebet escolheu para conselheira econômica durante a campanha eleitoral Elena Landau, economista ortodoxa, com larga experiência executiva. Assim que, quando das nomeações – e mesmo um pouco depois – a coisa não parecia tão ruim.

Mas aí começaram as falas irresponsáveis do presidente da República e de líderes do governo, e os vacilos da Fazenda.

Na verdade, os problemas começaram antes, na discussão orçamentária do fim de 2022, com a turma que agora está no comando apoiando um aumento de gastos para os próximos anos substancialmente mais elevado do que o necessário para cumprir o proposto durante a campanha! E a campanha, diga-se, já havia sido marcada por um retórica populista nos dois lados do espectro político, cheia de promessas fiscalmente comprometedoras. Como já falamos aqui diversas vezes, na base de todo equilíbrio macreconômico, de uma inflação estável e de juros moderados, sempre e em todo lugar, esteve e está a “chata” responsabilidade fiscal. O governo entrante lutou, antes de assumir, para enfraquecê-la.

Não estamos falando apenas de retórica para agradar a militância, como as inúmeras falas de Lula sobre os supostos horrores decorrentes do teto de gastos. Teto este que já veio enfraquecido pelas diversas PECs aprovadas durante a gestão Bolsonaro, perdendo consequentemente sua capacidade de sinalizar algum equilíbrio fiscal de longo prazo. Mas o governo atual pouco fez, em termos concretos, para colocar uma alternativa no lugar – ainda temos indicações muito vagas de uma nova regra fiscal e de uma reforma tributária. Com isso, o cenário de inflação controlada e juro baixo fica cada vez mais distante.

E não para por aí. Nas últimas semanas os ataques ao Banco Central atingiram patamares preocupantes. Pressão não apenas para revisar a meta de inflação para cima (apesar de sermos contra, vemos espaço para essa discussão, ainda que certamente não nesse momento), mas uma grita direta para que o Banco Central iniciasse já a derrubada das taxas de juros. Apenas para contextualizar, a inflação de preços livres fechou o ano de 2022 perto de 10%, e as expectativas de inflação para 2023 encontram-se na casa de 6%. Com esses números, é virtualmente incabível o argumento de que a política monetária está tresloucada, como vem insistindo Lula e vários de seus lugares-tenentes. O presidente do país está atacando uma instituição de Estado do seu próprio país.

Recentemente, o ministro da Fazenda passou a engrossar esse coro insensato. Propôs um aumento de impostos sobre exportações que pouco faz pela restrição orçamentária intertemporal e usou a discutível medida para, publicamente, pressionar o comitê de política monetária a cortar juros na marra. Onde vimos coisa similar acontecer? Na Argentina e na Turquia, países de inflação galopante.

Em outro flanco de ataque, o presidente Lula promete usar o BNDES para contrabalançar a política de juros altos do Banco Central. Isso remete ao uso temoroso do banco durante as gestões petistas (principalmente Lula 2 e Dilma 1), caracterizadas por aumento na ineficiência da economia, diminuição na competição, piora distributiva e perda de potência da política monetária. Um dos maiores progressos institucionais dos últimos seis anos tem a ver com o remodelamento do BNDES, que deixou de usar o dinheiro mal remunerado do trabalhador para dar crédito barato para empresários.

Obviamente, todos esses sinais podem ser apenas para agradar parte da militância e da base de sustentação do governo. O problema é que não sabemos se é só isso. Se há uma probabilidade razoável de que essas promessas são para valer, o risco de o país não honrar seus compromissos aumenta. Os ativos financeiros passam a refletir tal cenário: as taxas de juros mais longas (que não são tão fortemente influenciadas pelas ações do Banco Central) sobem e as expectativas de inflação se deterioram. É um tiro no pé do próprio governo, que precisa transferir mais recursos para seus credores para compensar esse risco mais alto, além de postergar ainda mais a queda de juros do Banco Central.

Julgando pelos primeiros dias, está difícil não ser pessimista com os rumos da economia.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO

 

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Os primeiros meses de Lula 3

O governo apenas começou, o que torna inferências cabais sobre o que será o Lula 3 um exercício temeroso. Mas até aqui, está com jeito de que não vai ser bom no quesito economia.

Fernando Haddad e Simone Tebet – nomes fortes da área econômica – conversam e conversaram com técnicos muito bem preparados e sempre se colocaram de modo mais equilibrado sobre temas da economia. Antes de assumir o ministério, Haddad buscou para auxiliares nomes de excelência no mundo acadêmico, mas teve dificuldade para recrutá-los. Por sua vez, Simone Tebet escolheu para conselheira econômica durante a campanha eleitoral Elena Landau, economista ortodoxa, com larga experiência executiva. Assim que, quando das nomeações – e mesmo um pouco depois – a coisa não parecia tão ruim.

Mas aí começaram as falas irresponsáveis do presidente da República e de líderes do governo, e os vacilos da Fazenda.

Na verdade, os problemas começaram antes, na discussão orçamentária do fim de 2022, com a turma que agora está no comando apoiando um aumento de gastos para os próximos anos substancialmente mais elevado do que o necessário para cumprir o proposto durante a campanha! E a campanha, diga-se, já havia sido marcada por um retórica populista nos dois lados do espectro político, cheia de promessas fiscalmente comprometedoras. Como já falamos aqui diversas vezes, na base de todo equilíbrio macreconômico, de uma inflação estável e de juros moderados, sempre e em todo lugar, esteve e está a “chata” responsabilidade fiscal. O governo entrante lutou, antes de assumir, para enfraquecê-la.

Não estamos falando apenas de retórica para agradar a militância, como as inúmeras falas de Lula sobre os supostos horrores decorrentes do teto de gastos. Teto este que já veio enfraquecido pelas diversas PECs aprovadas durante a gestão Bolsonaro, perdendo consequentemente sua capacidade de sinalizar algum equilíbrio fiscal de longo prazo. Mas o governo atual pouco fez, em termos concretos, para colocar uma alternativa no lugar – ainda temos indicações muito vagas de uma nova regra fiscal e de uma reforma tributária. Com isso, o cenário de inflação controlada e juro baixo fica cada vez mais distante.

E não para por aí. Nas últimas semanas os ataques ao Banco Central atingiram patamares preocupantes. Pressão não apenas para revisar a meta de inflação para cima (apesar de sermos contra, vemos espaço para essa discussão, ainda que certamente não nesse momento), mas uma grita direta para que o Banco Central iniciasse já a derrubada das taxas de juros. Apenas para contextualizar, a inflação de preços livres fechou o ano de 2022 perto de 10%, e as expectativas de inflação para 2023 encontram-se na casa de 6%. Com esses números, é virtualmente incabível o argumento de que a política monetária está tresloucada, como vem insistindo Lula e vários de seus lugares-tenentes. O presidente do país está atacando uma instituição de Estado do seu próprio país.

Recentemente, o ministro da Fazenda passou a engrossar esse coro insensato. Propôs um aumento de impostos sobre exportações que pouco faz pela restrição orçamentária intertemporal e usou a discutível medida para, publicamente, pressionar o comitê de política monetária a cortar juros na marra. Onde vimos coisa similar acontecer? Na Argentina e na Turquia, países de inflação galopante.

Em outro flanco de ataque, o presidente Lula promete usar o BNDES para contrabalançar a política de juros altos do Banco Central. Isso remete ao uso temoroso do banco durante as gestões petistas (principalmente Lula 2 e Dilma 1), caracterizadas por aumento na ineficiência da economia, diminuição na competição, piora distributiva e perda de potência da política monetária. Um dos maiores progressos institucionais dos últimos seis anos tem a ver com o remodelamento do BNDES, que deixou de usar o dinheiro mal remunerado do trabalhador para dar crédito barato para empresários.

Obviamente, todos esses sinais podem ser apenas para agradar parte da militância e da base de sustentação do governo. O problema é que não sabemos se é só isso. Se há uma probabilidade razoável de que essas promessas são para valer, o risco de o país não honrar seus compromissos aumenta. Os ativos financeiros passam a refletir tal cenário: as taxas de juros mais longas (que não são tão fortemente influenciadas pelas ações do Banco Central) sobem e as expectativas de inflação se deterioram. É um tiro no pé do próprio governo, que precisa transferir mais recursos para seus credores para compensar esse risco mais alto, além de postergar ainda mais a queda de juros do Banco Central.

Julgando pelos primeiros dias, está difícil não ser pessimista com os rumos da economia.

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