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Paraisópolis, a maior favela de São Paulo (de acordo com o censo de 2010 do IBGE) terá um banco comunitário e uma moeda de circulação interna, a Nova Paraisópolis - veja mais detalhes aqui. Parte do projeto faz sentido, parte não. E adiantando a conclusão, mesmo a parte boa da iniciativa não chegará a fazer milagres pelos moradores da comunidade.



Vamos nos livrar logo da parte incômoda: para que uma moeda local? Não há necessidade e pode gerar problemas sérios de falsificação. Agora vamos ao banco em si.

Não é a primeira vez que esse tipo de inciativa ganha a luz do dia. Em 1998, em Fortaleza, surgia o Banco Palmas, que logo de cara quebrou por fazer empréstimos a torto e a direito. Foi refinanciado e hoje funciona bem, cobrando juros de quase 1% ao mês – ou seja, empresta a uma taxa que é o dobro da taxa básica da economia, a Selic.

Acesso a crédito e a serviços financeiros é algo importante. E tomar crédito em um banco tradicional, principalmente para quem não tem garantia, é quase impossível. E extremamente caro. Se o Banco de Paraisópolis conseguir se transformar num microemprestador local, evitando excessos desde o começo, de fato, pode fazer diferença na vida das pessoas da comunidade.

Mas é mais difícil do que parece, e o microcrédito não é panaceia. Os bancos tradicionais pouco emprestam para os mais pobres não por serem malvadões, mas porque é muito custoso emprestar em montantes pequenos (e obviamente é inviável emprestar grandes quantias para pessoas de baixa renda). O ganho do banco vem do diferencial do quanto ele paga para levantar recursos e a taxa a que ele empresta. Sem falar nos custos administrativos e tecnológicos, que não são baixos.

Um banco local e pequeno que faz mil empréstimos de 100 reais num dado mês, por exemplo, se financia a 8% e empresta a 12% (em termos anuais), tem um ganho (com a equivocada hipótese de inexistência de calote) de 10.000 x 0,04 = 4.000 reais. Como ele vai cobrir todos os seus outros custos com 4.000 reais? Agora mudemos a escala. Ele empresta para 10 mil pessoas e empresas e a cada uma empresta 10.000 reais. O ganho dele nesse caso é 4 milhões. Já dá para financiar com folga o funcionamento do banco.

O parágrafo acima é um exemplo do que chamamos de "ganho de escala" em economia. Para um banco, é muito difícil se equilibrar com escala pequena. Então é preciso cautela.

Mas o Paraisópolis pode dar certo sim. Primeiro, porque a concorrência cobra juros exorbitantes; segundo, porque a comunidade é grande, o que além de tudo facilita a tarefa crucial de diversificação de risco de carteira. Terceiro, por causa de uma vantagem dos microbancos em relação aos tradicionais: os custos associados a perdas por calote e monitoramento são menores quando o senso de comunidade entre devedores é mais forte. O tintureiro de Paraisópolis conhece bem o padeiro, o que constrange o padeiro a não sumir com o dinheiro que poderia num momento futuro servir de fonte para empréstimo ao primeiro. Além disso, o gerente do banco é vizinho de ambos!

Para concluir, um ponto importante e uma sugestão. O ponto importante: o microcrédito não é tão milagroso no combate à pobreza como pensavam os economistas 20 anos atrás. Ele não gera uma escola pública melhor, não gera um hospital público melhor, não resolve o problema de infraestrutura e nem o de políticas macroeconômicas de má qualidade. A sugestão: não tentem reinventar a roda. Não é errado usar Serasa e SPC como fontes de informação sobre a qualidade do tomador de empréstimo. Use essas e tantas outras mais que puder, pois assim você beneficia o bom devedor e garante a sustentabilidade do Banco de Paraisópolis.

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Paraisópolis terá banco e moedas próprios: faz sentido?

Paraisópolis, a maior favela de São Paulo (de acordo com o censo de 2010 do IBGE) terá um banco comunitário e uma moeda de circulação interna, a Nova Paraisópolis - veja mais detalhes aqui. Parte do projeto faz sentido, parte não. E adiantando a conclusão, mesmo a parte boa da iniciativa não chegará a fazer milagres pelos moradores da comunidade. Vamos nos livrar logo da parte incômoda: para que uma moeda local? Não há necessidade e pode gerar problemas sérios de falsificação. Agora vamos ao banco em si. Não é a primeira vez que esse tipo de inciativa ganha a luz do dia. Em 1998, em Fortaleza, surgia o Banco Palmas, que logo de cara quebrou por fazer empréstimos a torto e a direito. Foi refinanciado e hoje funciona bem, cobrando juros de quase 1% ao mês – ou seja, empresta a uma taxa que é o dobro da taxa básica da economia, a Selic. Acesso a crédito e a serviços financeiros é algo importante. E tomar crédito em um banco tradicional, principalmente para quem não tem garantia, é quase impossível. E extremamente caro. Se o Banco de Paraisópolis conseguir se transformar num microemprestador local, evitando excessos desde o começo, de fato, pode fazer diferença na vida das pessoas da comunidade. Mas é mais difícil do que parece, e o microcrédito não é panaceia. Os bancos tradicionais pouco emprestam para os mais pobres não por serem malvadões, mas porque é muito custoso emprestar em montantes pequenos (e obviamente é inviável emprestar grandes quantias para pessoas de baixa renda). O ganho do banco vem do diferencial do quanto ele paga para levantar recursos e a taxa a que ele empresta. Sem falar nos custos administrativos e tecnológicos, que não são baixos. Um banco local e pequeno que faz mil empréstimos de 100 reais num dado mês, por exemplo, se financia a 8% e empresta a 12% (em termos anuais), tem um ganho (com a equivocada hipótese de inexistência de calote) de 10.000 x 0,04 = 4.000 reais. Como ele vai cobrir todos os seus outros custos com 4.000 reais? Agora mudemos a escala. Ele empresta para 10 mil pessoas e empresas e a cada uma empresta 10.000 reais. O ganho dele nesse caso é 4 milhões. Já dá para financiar com folga o funcionamento do banco. O parágrafo acima é um exemplo do que chamamos de "ganho de escala" em economia. Para um banco, é muito difícil se equilibrar com escala pequena. Então é preciso cautela. Mas o Paraisópolis pode dar certo sim. Primeiro, porque a concorrência cobra juros exorbitantes; segundo, porque a comunidade é grande, o que além de tudo facilita a tarefa crucial de diversificação de risco de carteira. Terceiro, por causa de uma vantagem dos microbancos em relação aos tradicionais: os custos associados a perdas por calote e monitoramento são menores quando o senso de comunidade entre devedores é mais forte. O tintureiro de Paraisópolis conhece bem o padeiro, o que constrange o padeiro a não sumir com o dinheiro que poderia num momento futuro servir de fonte para empréstimo ao primeiro. Além disso, o gerente do banco é vizinho de ambos! Para concluir, um ponto importante e uma sugestão. O ponto importante: o microcrédito não é tão milagroso no combate à pobreza como pensavam os economistas 20 anos atrás. Ele não gera uma escola pública melhor, não gera um hospital público melhor, não resolve o problema de infraestrutura e nem o de políticas macroeconômicas de má qualidade. A sugestão: não tentem reinventar a roda. Não é errado usar Serasa e SPC como fontes de informação sobre a qualidade do tomador de empréstimo. Use essas e tantas outras mais que puder, pois assim você beneficia o bom devedor e garante a sustentabilidade do Banco de Paraisópolis. Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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