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O populismo econômico tem raízes profundas na América Latina. Nasce meio que misturado com o patrimonialismo, característica marcante da península Ibérica do século XV, ainda antes das navegações. Ensaiamos por vezes um afastamento do populismo, ao perceber sua futilidade e suas consequências inconsequentes. Mas a ele muitas vezes retornamos, como atesta nosso grande vizinho ao sul, um dos países mais ricos do mundo na virada do século XIX para o XX e agora apenas mais um na lista dos latino-americanos para quem o futuro sempre se distancia. 

Qual a origem de políticas econômicas disfuncionais, como congelamento de preços, de salários, de juros? Ou como a mais recente invencionice do Senado brasileiro, que torna legal uma pessoa não repagar seu empréstimo consignado com o banco credor? 

Aliás, o que uma medida desse tipo gera? Bom, num primeiríssimo instante, um certo alívio para o devedor (mas note o leitor que o devedor do consignado em geral está empregado e ganhando uma renda razoável). No entanto, não é muito difícil perceber o que vem depois. Se o governo (incluindo Congresso e Judiciário), que tem o monopólio das leis e da força, expropria o credor de forma arbitrária, obviamente o credor mudará sua estratégia: ou ele reduz a oferta desse serviço, ou cobra mais pelo risco jurídico, ou provavelmente ambos. Quem sai perdendo nessa? Todos, mas o maior prejudicado é o devedor – onde o sujeito vai encontrar um crédito a taxas similares às do consignado? 

A medida é tão mal ajambrada e tola que suscita imediatamente a seguinte pergunta: "Por quê, pai amado?" Há sempre duas possibilidades quando testemunhamos uma política pública de má qualidade: uma ruim e outra ainda pior. 

A mais cínica é que alguém com poder de influenciar a política pública em questão está ganhando com sua implementação, ainda que a sociedade como um todo esteja perdendo. Uma tarifa de importação de carros na faixa dos 35%, por exemplo, claramente prejudica todos que compram carros, mas favorece a indústria automobilística nacional. Note: não somente os donos e diretores dessas empresas, mas o próprio trabalhador assalariado de renda média (não sejamos elitistas!). 
Nesse caso então, a explicação mais provável é a prevalência dos interesses de grupos concentrados sobre o bem-estar do público geral, que tem naturalmente menos capacidade de se organizar contra a imposição da tarifa. Isso não deveria ser chamado, portanto, de populismo. Trata-se do conhecido poder dos grupos pequenos de plantar distorções que os favoreçam diretamente.

Já no caso da suspensão legal de pagamentos aos bancos, ninguém sai ganhando. Chega a ser estranho. Como uma proposição que a todos prejudica pode ter o suporte do Senado Nacional? A única resposta possível é uma percepção absolutamente equivocada de como a economia funciona. Ou da parte de alguns senadores, ou da parte do público pagante. 

No calor das dificuldades presentes -- que são muitas – a lógica dá lugar ao populismo com maior facilidade. O córtex pré-frontal é engolido pela amígdala cerebral. "É preciso fazer algo, mas o quê?" O impulso imediato de alguns de jogar para a torcida é muito forte. Num primeiro momento, o Senado aparece como campeão dos devedores oprimidos nos tempos do cólera. Os problemas, ou melhor,  os efeitos colaterais vêm só um pouco depois. O que viabiliza essa estratégia (se é que disso se trate e não de pura ignorância) é o fato de que, mais adiante, poucas pessoas vão entender o apequenamento do mercado de crédito e os juros mais elevados como consequência dessa volúpia populista. 

Mas há também outra possibilidade: a de que alguns senadores não estejam agindo estrategicamente ao jogar para a plateia, mas realmente acreditem em soluções mágicas. Nesse caso cabe outra pergunta: como se tornaram senadores? Quem são seus conselheiros para temas de economia?

Seja como for, o que interessa é o seguinte: abandonar a racionalidade econômica, mesmo com a melhor das intenções, não vai ajudar , mas prejudica quem precisar. Um aviso aos senadores e aos navegantes: no futuro não distante das narrativas distorcidas, estaremos aqui para ligar causa e consequência.  


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Populismo econômico

O populismo econômico tem raízes profundas na América Latina. Nasce meio que misturado com o patrimonialismo, característica marcante da península Ibérica do século XV, ainda antes das navegações. Ensaiamos por vezes um afastamento do populismo, ao perceber sua futilidade e suas consequências inconsequentes. Mas a ele muitas vezes retornamos, como atesta nosso grande vizinho ao sul, um dos países mais ricos do mundo na virada do século XIX para o XX e agora apenas mais um na lista dos latino-americanos para quem o futuro sempre se distancia. 

Qual a origem de políticas econômicas disfuncionais, como congelamento de preços, de salários, de juros? Ou como a mais recente invencionice do Senado brasileiro, que torna legal uma pessoa não repagar seu empréstimo consignado com o banco credor? 

Aliás, o que uma medida desse tipo gera? Bom, num primeiríssimo instante, um certo alívio para o devedor (mas note o leitor que o devedor do consignado em geral está empregado e ganhando uma renda razoável). No entanto, não é muito difícil perceber o que vem depois. Se o governo (incluindo Congresso e Judiciário), que tem o monopólio das leis e da força, expropria o credor de forma arbitrária, obviamente o credor mudará sua estratégia: ou ele reduz a oferta desse serviço, ou cobra mais pelo risco jurídico, ou provavelmente ambos. Quem sai perdendo nessa? Todos, mas o maior prejudicado é o devedor – onde o sujeito vai encontrar um crédito a taxas similares às do consignado? 

A medida é tão mal ajambrada e tola que suscita imediatamente a seguinte pergunta: "Por quê, pai amado?" Há sempre duas possibilidades quando testemunhamos uma política pública de má qualidade: uma ruim e outra ainda pior. 

A mais cínica é que alguém com poder de influenciar a política pública em questão está ganhando com sua implementação, ainda que a sociedade como um todo esteja perdendo. Uma tarifa de importação de carros na faixa dos 35%, por exemplo, claramente prejudica todos que compram carros, mas favorece a indústria automobilística nacional. Note: não somente os donos e diretores dessas empresas, mas o próprio trabalhador assalariado de renda média (não sejamos elitistas!). 
Nesse caso então, a explicação mais provável é a prevalência dos interesses de grupos concentrados sobre o bem-estar do público geral, que tem naturalmente menos capacidade de se organizar contra a imposição da tarifa. Isso não deveria ser chamado, portanto, de populismo. Trata-se do conhecido poder dos grupos pequenos de plantar distorções que os favoreçam diretamente.

Já no caso da suspensão legal de pagamentos aos bancos, ninguém sai ganhando. Chega a ser estranho. Como uma proposição que a todos prejudica pode ter o suporte do Senado Nacional? A única resposta possível é uma percepção absolutamente equivocada de como a economia funciona. Ou da parte de alguns senadores, ou da parte do público pagante. 

No calor das dificuldades presentes -- que são muitas – a lógica dá lugar ao populismo com maior facilidade. O córtex pré-frontal é engolido pela amígdala cerebral. "É preciso fazer algo, mas o quê?" O impulso imediato de alguns de jogar para a torcida é muito forte. Num primeiro momento, o Senado aparece como campeão dos devedores oprimidos nos tempos do cólera. Os problemas, ou melhor,  os efeitos colaterais vêm só um pouco depois. O que viabiliza essa estratégia (se é que disso se trate e não de pura ignorância) é o fato de que, mais adiante, poucas pessoas vão entender o apequenamento do mercado de crédito e os juros mais elevados como consequência dessa volúpia populista. 

Mas há também outra possibilidade: a de que alguns senadores não estejam agindo estrategicamente ao jogar para a plateia, mas realmente acreditem em soluções mágicas. Nesse caso cabe outra pergunta: como se tornaram senadores? Quem são seus conselheiros para temas de economia?

Seja como for, o que interessa é o seguinte: abandonar a racionalidade econômica, mesmo com a melhor das intenções, não vai ajudar , mas prejudica quem precisar. Um aviso aos senadores e aos navegantes: no futuro não distante das narrativas distorcidas, estaremos aqui para ligar causa e consequência.  


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