Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

A discussão de economia que normalmente acompanhamos no noticiário tem a ver com a macroeconomia. Fala-se sobre a economia no agregado: como variou o produto e o desemprego no país? Qual o impacto das decisões do Banco Central quanto à taxa de juros básica? Como andam as finanças do governo federal?

Mas a economia não se resume a isso. Há uma grande área chamada microeconomia, que coloca uma lupa sobre o agregado, para entender como consumidores e empresas tomam suas decisões, como mercados funcionam, e quais os impactos de políticas públicas.

Essas grandes áreas não estão isoladas. Nas últimas décadas, macroeconomistas passaram a incorporar ferramentas da microeconomia em seus modelos. Faz sentido: a macroeconomia é resultado da ação conjunta de consumidores e empresas tomando suas decisões. Para avaliar o comportamento do agregado – e os impactos de políticas fiscal e monetária, por exemplo –, é preciso de alguma forma levar em conta a reação dos agentes.

Recentemente macroeconomistas passaram a também usar dados microeconômicos em suas análises. O professor Claudio Ferraz, em sua coluna no Nexo Jornal, faz uma discussão interessante sobre essa tendência.Mas aponta que o debate de política macro no Brasil ignora, em larga medida, os dados microeconômicos. De acordo com Ferraz, deveríamos “parar de discutir e analisar dados agregados e colocar os esforços em entender a persistência da crise econômica brasileira e que tipo de políticas seriam eficazes para fazer a economia crescer novamente”.

Ferraz está correto em levantar a necessidade de olharmos para a dimensão micro. Mas não podemos simplesmente ignorar a parte macro e não olhar para o dado agregado. A macroeconomia continua sendo importante.

Um excelente exemplo para entendermos isso é o do multiplicador fiscal, que é discutido por Ferraz em seu artigo. Trata-se de uma medida do impacto da política fiscal sobre a atividade econômica no curto prazo. Especificamente, se o governo aumentar seus gastos em 1 real, qual o impacto sobre o PIB?

Economistas frequentemente estimam o multiplicador usando dados macro, como PIB, emprego, gastos do governo, impostos. O resultado, em geral, é uma mistura de efeitos. Há o efeito tradicional, do gasto público estimulando a demanda por bens e serviços na economia, o que empurra a atividade no curto prazo.

Mas há outros efeitos combinados: mais gastos podem elevar a inflação no curto prazo, fazendo com que o Banco Central suba a taxa de juros básica. Ou levar a uma expectativa de aumento de impostos no futuro para compensar esse gasto corrente mais alto. Ou ainda impulsionar a dívida pública – e se a situação fiscal for crítica, o governo vai precisar pagar juros mais altos para sustentá-la. Isso sem falar de eventuais impactos sobre a taxa de câmbio.

As estimativas de multiplicador fiscal com base em dados macro nos entregam uma composição desses efeitos (e talvez outros ainda). Em geral não nos permitem separá-los. Com isso não aprendemos muito sobre os mecanismos, isto é: como de fato a política fiscal afeta a economia?

Dados micro nos permitem avançar nessa direção. Ao olharmos para o nível mais local (municípios, por exemplo), muitos dos efeitos acima listados não estão operando – como os impactos sobre dívida pública, juros do Banco Central e taxa de câmbio. O artigo de Raphael Corbi, Elias Papaioannou e Paolo Surico foca nos municípios brasileiros, analisando como mudanças nas transferências federais afetam a atividade econômica nesse nível mais micro.

Isso nos fornece uma estimativa mais confiável do impacto direto do gasto público sobre a atividade econômica – “limpa” de eventuais repercussões sobre juros, câmbio, impostos e expectativas, que operam apenas no nível nacional, não no local.

O uso de dados micro tem outra vantagem: ele nos permite avaliar efeitos heterogêneos. Por exemplo, como a política fiscal afeta os diferentes setores da atividade econômica? Como as características dos municípios mexem com o valor do multiplicador fiscal?

Entretanto, muitas vezes queremos avaliar como de fato uma alteração na política fiscal mexe com a atividade econômica no agregado. E não dá para usar as estimativas microeconômicas nesse caso, simplesmente extrapolando-as para o nível macro.

Isso porque todos aqueles componentes que “congelamos” no nível micro não desaparecem. Eles estão operando no agregado. Não dá para simplesmente ignorar impactos de gastos públicos sobre juros, inflação, câmbio, impostos e expectativas. Para entender esses efeitos combinados é que precisamos da macroeconomia.

Boa parte da agenda de pesquisa em macroeconomia se debruça justamente em construir modelos para captar essas interconexões. E os dados macro alimentam tais modelos para estimar esses efeitos conjuntamente, fornecendo uma estimativa do efeito líquido de uma mudança de política.

A macroeconomia deve cada vez mais incorporar ferramentas da microeconomia, tanto em seus modelos, como na análise dos dados. Mas não dá para ignorar o lado macro. 


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Por que a macroeconomia continua sendo importante?

A discussão de economia que normalmente acompanhamos no noticiário tem a ver com a macroeconomia. Fala-se sobre a economia no agregado: como variou o produto e o desemprego no país? Qual o impacto das decisões do Banco Central quanto à taxa de juros básica? Como andam as finanças do governo federal?


Mas a economia não se resume a isso. Há uma grande área chamada microeconomia, que coloca uma lupa sobre o agregado, para entender como consumidores e empresas tomam suas decisões, como mercados funcionam, e quais os impactos de políticas públicas.

Essas grandes áreas não estão isoladas. Nas últimas décadas, macroeconomistas passaram a incorporar ferramentas da microeconomia em seus modelos. Faz sentido: a macroeconomia é resultado da ação conjunta de consumidores e empresas tomando suas decisões. Para avaliar o comportamento do agregado – e os impactos de políticas fiscal e monetária, por exemplo –, é preciso de alguma forma levar em conta a reação dos agentes.

Recentemente macroeconomistas passaram a também usar dados microeconômicos em suas análises. O professor Claudio Ferraz, em sua coluna no Nexo Jornal, faz uma discussão interessante sobre essa tendência.Mas aponta que o debate de política macro no Brasil ignora, em larga medida, os dados microeconômicos. De acordo com Ferraz, deveríamos “parar de discutir e analisar dados agregados e colocar os esforços em entender a persistência da crise econômica brasileira e que tipo de políticas seriam eficazes para fazer a economia crescer novamente”.

Ferraz está correto em levantar a necessidade de olharmos para a dimensão micro. Mas não podemos simplesmente ignorar a parte macro e não olhar para o dado agregado. A macroeconomia continua sendo importante.

Um excelente exemplo para entendermos isso é o do multiplicador fiscal, que é discutido por Ferraz em seu artigo. Trata-se de uma medida do impacto da política fiscal sobre a atividade econômica no curto prazo. Especificamente, se o governo aumentar seus gastos em 1 real, qual o impacto sobre o PIB?

Economistas frequentemente estimam o multiplicador usando dados macro, como PIB, emprego, gastos do governo, impostos. O resultado, em geral, é uma mistura de efeitos. Há o efeito tradicional, do gasto público estimulando a demanda por bens e serviços na economia, o que empurra a atividade no curto prazo.

Mas há outros efeitos combinados: mais gastos podem elevar a inflação no curto prazo, fazendo com que o Banco Central suba a taxa de juros básica. Ou levar a uma expectativa de aumento de impostos no futuro para compensar esse gasto corrente mais alto. Ou ainda impulsionar a dívida pública – e se a situação fiscal for crítica, o governo vai precisar pagar juros mais altos para sustentá-la. Isso sem falar de eventuais impactos sobre a taxa de câmbio.

As estimativas de multiplicador fiscal com base em dados macro nos entregam uma composição desses efeitos (e talvez outros ainda). Em geral não nos permitem separá-los. Com isso não aprendemos muito sobre os mecanismos, isto é: como de fato a política fiscal afeta a economia?

Dados micro nos permitem avançar nessa direção. Ao olharmos para o nível mais local (municípios, por exemplo), muitos dos efeitos acima listados não estão operando – como os impactos sobre dívida pública, juros do Banco Central e taxa de câmbio. O artigo de Raphael Corbi, Elias Papaioannou e Paolo Surico foca nos municípios brasileiros, analisando como mudanças nas transferências federais afetam a atividade econômica nesse nível mais micro.

Isso nos fornece uma estimativa mais confiável do impacto direto do gasto público sobre a atividade econômica – “limpa” de eventuais repercussões sobre juros, câmbio, impostos e expectativas, que operam apenas no nível nacional, não no local.

O uso de dados micro tem outra vantagem: ele nos permite avaliar efeitos heterogêneos. Por exemplo, como a política fiscal afeta os diferentes setores da atividade econômica? Como as características dos municípios mexem com o valor do multiplicador fiscal?

Entretanto, muitas vezes queremos avaliar como de fato uma alteração na política fiscal mexe com a atividade econômica no agregado. E não dá para usar as estimativas microeconômicas nesse caso, simplesmente extrapolando-as para o nível macro.

Isso porque todos aqueles componentes que “congelamos” no nível micro não desaparecem. Eles estão operando no agregado. Não dá para simplesmente ignorar impactos de gastos públicos sobre juros, inflação, câmbio, impostos e expectativas. Para entender esses efeitos combinados é que precisamos da macroeconomia.

Boa parte da agenda de pesquisa em macroeconomia se debruça justamente em construir modelos para captar essas interconexões. E os dados macro alimentam tais modelos para estimar esses efeitos conjuntamente, fornecendo uma estimativa do efeito líquido de uma mudança de política.

A macroeconomia deve cada vez mais incorporar ferramentas da microeconomia, tanto em seus modelos, como na análise dos dados. Mas não dá para ignorar o lado macro. 


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