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No mundo dos bancos centrais e da política monetária, palavras importam. A comunicação é crucial para que a instituição comunique ao público seus próximos passos. Ela ajuda a ajustar as expectativas, reduzindo solavancos na atividade econômica.


No Brasil, como em vários outros países, a política monetária segue uma regra de juros. O Banco Central planeja suas ações de modo que a taxa básica, a Selic, atinja determinado valor. Tal valor é fixado pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, em suas reuniões periódicas, tendo como objetivo principal assegurar a estabilidade de preços. Como seguimos o sistema de metas de inflação, isso significa manter a inflação mais próxima o possível da meta, que em 2022 será de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5% para cima e para baixo.

Na última reunião, no início do mês, o Copom decidiu mais uma vez aumentar a Selic em 1,5 ponto percentual. Ela terminará o ano em 9,25%. Na verdade, esse movimento era completamente esperado, pois o Banco Central o havia sinalizado na ata da reunião anterior, em outubro. Já a ata da última reunião de dezembro traz mais informações sobre os rumos da Selic em 2022. Especificamente, a subida dos juros deverá ser mais prolongada e agressiva.

Voltemos um pouco no tempo para entender a evolução da Selic. Em 2020, a pandemia atingiu a economia mundial. Por aqui, não foi diferente: a atividade econômica despencou, e com ela a inflação, que chegou a entrar em território negativo. Diante disso, o Banco Central reduziu a taxa básica a níveis historicamente baixos. Ela iniciou 2021 em incríveis 2% ao ano.

O próprio Banco Central reconhecia, em seus comunicados, a política monetária nesses moldes como estimulativa. Ou seja, esse valor baixo não seria sustentado no longo prazo. Ao longo de 2021, com a inflação mostrando as garras e as expectativas de inflação subindo, a instituição iniciou um processo de subida forte, porém bastante previsível, na Selic. Inicialmente promoveu aumentos de 0,75 ponto percentual.
Mas, com a inflação e as expectativas ainda em elevação, passou a apertar o passo na escalada da taxa básica, com aumentos de 1 ponto percentual. Esse movimento se intensificou com a deterioração do panorama fiscal oriundo da PEC dos precatórios e do relaxamento da regra do teto dos gastos. Como resultado, a dívida pública brasileira passou a ser vista com mais reserva por investidores, que tendem a demandar taxas de juros mais elevadas para financiar o governo brasileiro. O Banco Central então acompanhou esse movimento, passando a realizar aumentos de 1,5 ponto percentual nas duas últimas reuniões do Copom de 2021. E já promete nova elevação nessa magnitude para a primeira reunião de 2022, em que a taxa Selic chegará a dois dígitos.

O Banco Central passou a reconhecer, ainda, que a política monetária chegou ao terreno contracionista, isto é, ela ultrapassou seu nível de longo prazo. Isso significa que a instituição está disposta a sacrificar parte da atividade econômica para garantir que a inflação não desgarre.

Apesar de todo esse aumento na Selic, a meta de inflação de 2021 – 3,75% com intervalo de tolerância de 1,5% – não será cumprida por larga margem. No acumulado de 12 meses, ela já passou de 10%. Entretanto, boa parte da inflação deste ano origina-se de fatores que não têm nada a ver com política monetária, como a crise hídrica, subida dos preços internacionais de commodities, falta de insumos no mercado internacional e instabilidade política no Brasil. Isoladamente, esse furo na meta não deve arranhar a reputação do Banco Central e sua capacidade de manter a estabilidade de preços.

O risco para a credibilidade da instituição é se esse processo de inflação alta se espalhar para outros anos. E já estamos vendo um movimento preocupante para 2022, com as expectativas na casa dos 5%, bem no limite superior do intervalo de tolerância da meta. Para empurrar essas expectativas para baixo, o Banco Central precisa mostrar mais dente. É nesse sentido que a ata do Copom de dezembro traz uma comunicação mais agressiva. O caráter contracionista da política monetária deve se intensificar.

Assim, devemos esperar que o processo de subida na Selic seja maior e mais prolongado ao longo de 2022.  

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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Por que a Selic vai subir ainda mais em 2022?

No mundo dos bancos centrais e da política monetária, palavras importam. A comunicação é crucial para que a instituição comunique ao público seus próximos passos. Ela ajuda a ajustar as expectativas, reduzindo solavancos na atividade econômica.


No Brasil, como em vários outros países, a política monetária segue uma regra de juros. O Banco Central planeja suas ações de modo que a taxa básica, a Selic, atinja determinado valor. Tal valor é fixado pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, em suas reuniões periódicas, tendo como objetivo principal assegurar a estabilidade de preços. Como seguimos o sistema de metas de inflação, isso significa manter a inflação mais próxima o possível da meta, que em 2022 será de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5% para cima e para baixo.

Na última reunião, no início do mês, o Copom decidiu mais uma vez aumentar a Selic em 1,5 ponto percentual. Ela terminará o ano em 9,25%. Na verdade, esse movimento era completamente esperado, pois o Banco Central o havia sinalizado na ata da reunião anterior, em outubro. Já a ata da última reunião de dezembro traz mais informações sobre os rumos da Selic em 2022. Especificamente, a subida dos juros deverá ser mais prolongada e agressiva.

Voltemos um pouco no tempo para entender a evolução da Selic. Em 2020, a pandemia atingiu a economia mundial. Por aqui, não foi diferente: a atividade econômica despencou, e com ela a inflação, que chegou a entrar em território negativo. Diante disso, o Banco Central reduziu a taxa básica a níveis historicamente baixos. Ela iniciou 2021 em incríveis 2% ao ano.

O próprio Banco Central reconhecia, em seus comunicados, a política monetária nesses moldes como estimulativa. Ou seja, esse valor baixo não seria sustentado no longo prazo. Ao longo de 2021, com a inflação mostrando as garras e as expectativas de inflação subindo, a instituição iniciou um processo de subida forte, porém bastante previsível, na Selic. Inicialmente promoveu aumentos de 0,75 ponto percentual.
Mas, com a inflação e as expectativas ainda em elevação, passou a apertar o passo na escalada da taxa básica, com aumentos de 1 ponto percentual. Esse movimento se intensificou com a deterioração do panorama fiscal oriundo da PEC dos precatórios e do relaxamento da regra do teto dos gastos. Como resultado, a dívida pública brasileira passou a ser vista com mais reserva por investidores, que tendem a demandar taxas de juros mais elevadas para financiar o governo brasileiro. O Banco Central então acompanhou esse movimento, passando a realizar aumentos de 1,5 ponto percentual nas duas últimas reuniões do Copom de 2021. E já promete nova elevação nessa magnitude para a primeira reunião de 2022, em que a taxa Selic chegará a dois dígitos.

O Banco Central passou a reconhecer, ainda, que a política monetária chegou ao terreno contracionista, isto é, ela ultrapassou seu nível de longo prazo. Isso significa que a instituição está disposta a sacrificar parte da atividade econômica para garantir que a inflação não desgarre.

Apesar de todo esse aumento na Selic, a meta de inflação de 2021 – 3,75% com intervalo de tolerância de 1,5% – não será cumprida por larga margem. No acumulado de 12 meses, ela já passou de 10%. Entretanto, boa parte da inflação deste ano origina-se de fatores que não têm nada a ver com política monetária, como a crise hídrica, subida dos preços internacionais de commodities, falta de insumos no mercado internacional e instabilidade política no Brasil. Isoladamente, esse furo na meta não deve arranhar a reputação do Banco Central e sua capacidade de manter a estabilidade de preços.

O risco para a credibilidade da instituição é se esse processo de inflação alta se espalhar para outros anos. E já estamos vendo um movimento preocupante para 2022, com as expectativas na casa dos 5%, bem no limite superior do intervalo de tolerância da meta. Para empurrar essas expectativas para baixo, o Banco Central precisa mostrar mais dente. É nesse sentido que a ata do Copom de dezembro traz uma comunicação mais agressiva. O caráter contracionista da política monetária deve se intensificar.

Assim, devemos esperar que o processo de subida na Selic seja maior e mais prolongado ao longo de 2022.  

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