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Recentemente, o Washington Post levantou a bola sobre a morte “lenta e secreta” da guitarra, instrumento preferido dos fãs de rock. Um dos principais motivos alegados na reportagem: o desaparecimento de guitarristas famosos. De 1960 a 1990, a música revelou grandes nomes na guitarra: Jimi Hendrix, Keith Richards, Eric Clapton, Jimmy Page, Slash, Carlos Santana, entre outros. E muitos já se foram e outros estão ficando velhos, sem forças para tocar com a desenvoltura de outros tempos. Poucos do que ainda estão na ativa continuarão tocando por muitos anos.

Assim como os guitarristas, os consumidores de guitarras também estão envelhecendo com pouca renovação. Poucos bons guitarristas surgidos nesses últimos 20 anos são reconhecidos mundialmente - as exceções talvez sejam John Frusciante, Joe Bonamassa e John Mayer. Os jovens, naturalmente, têm menos incentivo a aprender o instrumento.

Quem idolatra algum guitarrista, em grande parte, prefere a turma das antigas. Esses enfrentam, portanto, um custo de oportunidade muito maior em relação aos jovens de antigamente que escolheram aprender o instrumento, afetando mais ainda suas decisões de tocar ou não.

Espera aí... "Custo de oportunidade"?

O custo de oportunidade é um conceito econômico difícil de calcular, mas fácil de entender. Por exemplo, em vez de aprender a tocar guitarra – o que exige tempo, equipamento e aulas -, o jovem poderia utilizar todos os recursos gastos para estudar economia, trabalhar ou jogar futebol. Esses são os eventuais benefícios perdidos enquanto se aprende a tocar guitarra. Mas são inúmeras as possibilidades. Nos últimos anos, apesar de algum respiro conquistado em 2016, a Gibson - a empresa líder no mercado de guitarras - registrou receitas de vendas muito menores que nos anos anteriores. Veja aí no gráfico: receita-gibson-guitarras Para virar esses anos no azul, a empresa teve que cortar muito de seus gastos. Mas, se as receitas continuarem caindo, quais são as saídas que a Gibson e suas concorrentes têm para reverterem essa situação? A Fender – a maior concorrente da Gibson – parece ter encontrado nos investimentos em tecnologia um meio de se aproximar dos consumidores: lançou o Fender Play, um aplicativo que ensina a tocar guitarra com uma série de vídeo-aulas, sendo a primeira gratuita e as demais por um valor de US$ 20. Em economês: a Fender tenta diminuir o custo de oportunidade do jovem guitarrista iniciante. A opção por investir em festivais e grandes shows de rock pode ser boa alternativa. As marcas de guitarra poderiam instalar tendas de suas marcas para os frequentadores de shows, onde muitos são músicos, experimentarem guitarras recém-lançadas. Possivelmente, há grandes chances de aumentar os números de vendas e clientes. Explorar novos mercados e consumidores em outros países parece também boa ideia. Mas, no caso do Brasil, a situação é mais complicada. O preço das guitarras norte-americanas é muito caro no país por causa de quatro principais fatores: 1) Taxa de importação: a maioria das marcas de guitarra tem suas sedes localizadas nos Estados Unidos e, para os instrumentos musicais virem para o Brasil, são cobradas tarifas de importação, como a TEC (Tarifa Externa Comum). Já no Canadá, que pertence ao mesmo bloco econômico dos Estados Unidos – o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) – essa tarifa, em teoria, não existe. 2) Impostos: um dos impostos que incide sobre o preço da guitarra é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é recaído sobre a entrada de qualquer mercadoria importada do exterior de pessoa física ou jurídica; 3) Margem de lucro do revendedor: para continuar seus negócios e por assumir riscos de venda, os donos de lojas de instrumentos musicais aumentam os valores das guitarras para garantir lucros. O mercado de instrumentos musicais no Brasil não é competitivo, sendo poucos os que revendem os instrumentos, podendo aumentar mais ainda os preços. Quanto mais poder do mercado você tem, mais você pode decidir sobre o quanto de preço cobrar. 4) Taxa de câmbio: a taxa de câmbio entre o real em relação ao dólar está depreciada, o que aumenta o valor de reais necessários para se comprar uma guitarra em dólares. Em 2016, o pessoal da Reverb não poderia ter terminado a matéria “Guitarras tornaram-se mais caras ao longo do tempo?” de maneira mais brilhante. Leia, em tradução livre: “Agora, imagine que você é um executivo responsável por uma das maiores e mais antigas empresas de guitarra. Você tem todo o legado cultural de seus modelos mais populares para alavancar. Muitos clientes fiéis exigem que você não altere nada sobre eles. Outros pedem por mudanças. Há tanta oportunidade tentadora, mas também há muita incerteza. Por outro lado, há também uma suspeita assustadora de que a demanda pelos modelos mais antigos pode cair repentina e rapidamente em vinte anos. O que você faria?”  

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Por que cada vez menos pessoas tocam guitarra?

slash-colecao-de-guitarras Recentemente, o Washington Post levantou a bola sobre a morte “lenta e secreta” da guitarra, instrumento preferido dos fãs de rock. Um dos principais motivos alegados na reportagem: o desaparecimento de guitarristas famosos. De 1960 a 1990, a música revelou grandes nomes na guitarra: Jimi Hendrix, Keith Richards, Eric Clapton, Jimmy Page, Slash, Carlos Santana, entre outros. E muitos já se foram e outros estão ficando velhos, sem forças para tocar com a desenvoltura de outros tempos. Poucos do que ainda estão na ativa continuarão tocando por muitos anos. Assim como os guitarristas, os consumidores de guitarras também estão envelhecendo com pouca renovação. Poucos bons guitarristas surgidos nesses últimos 20 anos são reconhecidos mundialmente - as exceções talvez sejam John Frusciante, Joe Bonamassa e John Mayer. Os jovens, naturalmente, têm menos incentivo a aprender o instrumento. Quem idolatra algum guitarrista, em grande parte, prefere a turma das antigas. Esses enfrentam, portanto, um custo de oportunidade muito maior em relação aos jovens de antigamente que escolheram aprender o instrumento, afetando mais ainda suas decisões de tocar ou não. Espera aí... "Custo de oportunidade"? O custo de oportunidade é um conceito econômico difícil de calcular, mas fácil de entender. Por exemplo, em vez de aprender a tocar guitarra – o que exige tempo, equipamento e aulas -, o jovem poderia utilizar todos os recursos gastos para estudar economia, trabalhar ou jogar futebol. Esses são os eventuais benefícios perdidos enquanto se aprende a tocar guitarra. Mas são inúmeras as possibilidades. Nos últimos anos, apesar de algum respiro conquistado em 2016, a Gibson - a empresa líder no mercado de guitarras - registrou receitas de vendas muito menores que nos anos anteriores. Veja aí no gráfico: receita-gibson-guitarras Para virar esses anos no azul, a empresa teve que cortar muito de seus gastos. Mas, se as receitas continuarem caindo, quais são as saídas que a Gibson e suas concorrentes têm para reverterem essa situação? A Fender – a maior concorrente da Gibson – parece ter encontrado nos investimentos em tecnologia um meio de se aproximar dos consumidores: lançou o Fender Play, um aplicativo que ensina a tocar guitarra com uma série de vídeo-aulas, sendo a primeira gratuita e as demais por um valor de US$ 20. Em economês: a Fender tenta diminuir o custo de oportunidade do jovem guitarrista iniciante. A opção por investir em festivais e grandes shows de rock pode ser boa alternativa. As marcas de guitarra poderiam instalar tendas de suas marcas para os frequentadores de shows, onde muitos são músicos, experimentarem guitarras recém-lançadas. Possivelmente, há grandes chances de aumentar os números de vendas e clientes. Explorar novos mercados e consumidores em outros países parece também boa ideia. Mas, no caso do Brasil, a situação é mais complicada. O preço das guitarras norte-americanas é muito caro no país por causa de quatro principais fatores: 1) Taxa de importação: a maioria das marcas de guitarra tem suas sedes localizadas nos Estados Unidos e, para os instrumentos musicais virem para o Brasil, são cobradas tarifas de importação, como a TEC (Tarifa Externa Comum). Já no Canadá, que pertence ao mesmo bloco econômico dos Estados Unidos – o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) – essa tarifa, em teoria, não existe. 2) Impostos: um dos impostos que incide sobre o preço da guitarra é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é recaído sobre a entrada de qualquer mercadoria importada do exterior de pessoa física ou jurídica; 3) Margem de lucro do revendedor: para continuar seus negócios e por assumir riscos de venda, os donos de lojas de instrumentos musicais aumentam os valores das guitarras para garantir lucros. O mercado de instrumentos musicais no Brasil não é competitivo, sendo poucos os que revendem os instrumentos, podendo aumentar mais ainda os preços. Quanto mais poder do mercado você tem, mais você pode decidir sobre o quanto de preço cobrar. 4) Taxa de câmbio: a taxa de câmbio entre o real em relação ao dólar está depreciada, o que aumenta o valor de reais necessários para se comprar uma guitarra em dólares. Em 2016, o pessoal da Reverb não poderia ter terminado a matéria “Guitarras tornaram-se mais caras ao longo do tempo?” de maneira mais brilhante. Leia, em tradução livre: “Agora, imagine que você é um executivo responsável por uma das maiores e mais antigas empresas de guitarra. Você tem todo o legado cultural de seus modelos mais populares para alavancar. Muitos clientes fiéis exigem que você não altere nada sobre eles. Outros pedem por mudanças. Há tanta oportunidade tentadora, mas também há muita incerteza. Por outro lado, há também uma suspeita assustadora de que a demanda pelos modelos mais antigos pode cair repentina e rapidamente em vinte anos. 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