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														Pense num lago em que várias pessoas tentam pegar peixes. A quantidade de peixes é limitada. Mas o impacto de cada pescador sobre o total de peixes é pequeno. Se eu pegar muitos peixes, pouco afetarei o número total deles no lago. Então meu incentivo a “economizar” peixes é pequeno. Individualmente, a melhor estratégia é pescar o maior número de peixes que eu conseguir.

O problema é que, coletivamente, isso leva ao desastre. Com cada pescador tentando pegar o máximo de peixes que puder, a quantidade de peixes no lago rapidamente se esgota. A bonança do presente se converte em pobreza no futuro.

Podemos utilizar essa metáfora para entender o problema das contas do governo. Há benefícios claros em manter as finanças em ordem. Sinaliza estabilidade da dívida pública no longo prazo, o que espanta cenários de calote e inflação alta no futuro. Assim, credores passam a cobrar um prêmio menor para emprestar para o governo, permitindo taxas de juros mais baixas. Além disso, as expectativas de inflação se mantêm sob controle, o que ajuda a controlar a própria inflação.

Só que esses benefícios estão no nível agregado – na nossa metáfora, eles representam a quantidade total de peixes no lago.

Há diversos indivíduos (congressistas, ministros, empresários, entre outros) que gostariam de expandir gastos em uma rubrica específica, ou cortar impostos para determinadas atividades econômicas. Esses grupos muitas vezes podem se beneficiar dessas medidas, ou simplesmente julgam que elas são importantes para o país – e elas podem muito bem ser importantes para o país.

Quando esses indivíduos pressionam o governo por medidas do tipo, seu impacto isolado nas finanças agregadas do governo é muito pequeno. Eles são como os “pescadores” do lago. Então, como individualmente há benefícios e pouco custo, o melhor a fazer a pressionar ao máximo o governo a liberar recursos para a rubrica que lhe é cara. O problema é que os mais diversos grupos de interesse farão o mesmo, de modo que o resultado é uma gritaria geral que ameaça as finanças do governo.

Mas há uma figura importante que ajuda a disciplinar essa bagunça: o ministro da Fazenda. Seu papel é explicitar a restrição orçamentária, deixando claro aos “pescadores” que, se todo mundo tentar pescar o máximo possível, os peixes do lago se esgotarão.

Para que isso funcione, o ministro precisa do apoio do presidente da República. No entanto, se o chefe do governo o desautoriza e diz que sua principal política econômica, o arcabouço fiscal, não será cumprida sem nem sequer ser colocada a prova, é sinal de que estamos em apuros, e um recado aos pescadores de que podem atacar o lago à vontade. 

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO 

Link relacionado:
Como a fala de Lula pode impactar na economia | Economia está em Tudo #258

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Por que é uma má ideia enfraquecer seu ministro da Fazenda?

Pense num lago em que várias pessoas tentam pegar peixes. A quantidade de peixes é limitada. Mas o impacto de cada pescador sobre o total de peixes é pequeno. Se eu pegar muitos peixes, pouco afetarei o número total deles no lago. Então meu incentivo a “economizar” peixes é pequeno. Individualmente, a melhor estratégia é pescar o maior número de peixes que eu conseguir.

O problema é que, coletivamente, isso leva ao desastre. Com cada pescador tentando pegar o máximo de peixes que puder, a quantidade de peixes no lago rapidamente se esgota. A bonança do presente se converte em pobreza no futuro.

Podemos utilizar essa metáfora para entender o problema das contas do governo. Há benefícios claros em manter as finanças em ordem. Sinaliza estabilidade da dívida pública no longo prazo, o que espanta cenários de calote e inflação alta no futuro. Assim, credores passam a cobrar um prêmio menor para emprestar para o governo, permitindo taxas de juros mais baixas. Além disso, as expectativas de inflação se mantêm sob controle, o que ajuda a controlar a própria inflação.

Só que esses benefícios estão no nível agregado – na nossa metáfora, eles representam a quantidade total de peixes no lago.

Há diversos indivíduos (congressistas, ministros, empresários, entre outros) que gostariam de expandir gastos em uma rubrica específica, ou cortar impostos para determinadas atividades econômicas. Esses grupos muitas vezes podem se beneficiar dessas medidas, ou simplesmente julgam que elas são importantes para o país – e elas podem muito bem ser importantes para o país.

Quando esses indivíduos pressionam o governo por medidas do tipo, seu impacto isolado nas finanças agregadas do governo é muito pequeno. Eles são como os “pescadores” do lago. Então, como individualmente há benefícios e pouco custo, o melhor a fazer a pressionar ao máximo o governo a liberar recursos para a rubrica que lhe é cara. O problema é que os mais diversos grupos de interesse farão o mesmo, de modo que o resultado é uma gritaria geral que ameaça as finanças do governo.

Mas há uma figura importante que ajuda a disciplinar essa bagunça: o ministro da Fazenda. Seu papel é explicitar a restrição orçamentária, deixando claro aos “pescadores” que, se todo mundo tentar pescar o máximo possível, os peixes do lago se esgotarão.

Para que isso funcione, o ministro precisa do apoio do presidente da República. No entanto, se o chefe do governo o desautoriza e diz que sua principal política econômica, o arcabouço fiscal, não será cumprida sem nem sequer ser colocada a prova, é sinal de que estamos em apuros, e um recado aos pescadores de que podem atacar o lago à vontade. 

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