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Atravessamos uma fase complicada da pandemia. Estados e municípios passaram a endurecer medidas de contenção, com restrições ao funcionamento de atividades econômicas. Dessa forma, não surpreendem os protestos de empresários particularmente afetados pelas medidas, como os associados ao comércio e aos serviços. Talvez o caso mais emblemático seja o de bares e restaurantes.

O que surpreende, na verdade, é a falta de uma pressão semelhante desses grupos para que autoridades acelerem o processo de vacinação. A imunização de boa parte da população permitiria que as coisas normalizassem e que restrições fossem relaxadas. Muito mais gente voltaria a frequentar esses estabelecimentos – inclusive quem não está saindo de casa mesmo enquanto eles podem funcionar. A vacinação ampla ainda removeria uma camada de incerteza, na medida em que novas rodadas de restrições poderiam ser evitadas no futuro.

Por que, então, empresários esperneiam frente às restrições, mas fazem pouco barulho para que a vacinação seja acelerada?

Minha interpretação tem a ver com o conceito de ação coletiva, muito presente na economia e na ciência política. Quando algo beneficia muitas pessoas, com interesses heterogêneos e difusos, os interessados têm dificuldade de se organizar. Surge o problema do carona: eu deixo que outros potencial beneficiários façam o esforço de pressionar autoridades, já que posso colher os benefícios de qualquer forma.
Só que, com muita gente agindo dessa forma, ninguém faz esforço. Parece ser o caso da vacina, que beneficia grupos amplos, não apenas empresários de ramos específicos. Então o incentivo individual a fazer pressão é mais baixo.

Mas, no caso das restrições, o efeito recai desproporcionalmente sobre determinados setores, que perdem muita receita. Ao contrário de outras atividades econômicas, que conseguem funcionar relativamente bem mesmo sem a presença física dos consumidores. Como as perdas são mais concentradas, o incentivo individual a espernear é maior. Além disso, sendo o grupo mais homogêneo, é mais fácil manter a coesão e evitar o problema do carona. 


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Por que empresários reclamam das restrições, mas não da falta de vacina?

Atravessamos uma fase complicada da pandemia. Estados e municípios passaram a endurecer medidas de contenção, com restrições ao funcionamento de atividades econômicas. Dessa forma, não surpreendem os protestos de empresários particularmente afetados pelas medidas, como os associados ao comércio e aos serviços. Talvez o caso mais emblemático seja o de bares e restaurantes.

O que surpreende, na verdade, é a falta de uma pressão semelhante desses grupos para que autoridades acelerem o processo de vacinação. A imunização de boa parte da população permitiria que as coisas normalizassem e que restrições fossem relaxadas. Muito mais gente voltaria a frequentar esses estabelecimentos – inclusive quem não está saindo de casa mesmo enquanto eles podem funcionar. A vacinação ampla ainda removeria uma camada de incerteza, na medida em que novas rodadas de restrições poderiam ser evitadas no futuro.

Por que, então, empresários esperneiam frente às restrições, mas fazem pouco barulho para que a vacinação seja acelerada?

Minha interpretação tem a ver com o conceito de ação coletiva, muito presente na economia e na ciência política. Quando algo beneficia muitas pessoas, com interesses heterogêneos e difusos, os interessados têm dificuldade de se organizar. Surge o problema do carona: eu deixo que outros potencial beneficiários façam o esforço de pressionar autoridades, já que posso colher os benefícios de qualquer forma.
Só que, com muita gente agindo dessa forma, ninguém faz esforço. Parece ser o caso da vacina, que beneficia grupos amplos, não apenas empresários de ramos específicos. Então o incentivo individual a fazer pressão é mais baixo.

Mas, no caso das restrições, o efeito recai desproporcionalmente sobre determinados setores, que perdem muita receita. Ao contrário de outras atividades econômicas, que conseguem funcionar relativamente bem mesmo sem a presença física dos consumidores. Como as perdas são mais concentradas, o incentivo individual a espernear é maior. Além disso, sendo o grupo mais homogêneo, é mais fácil manter a coesão e evitar o problema do carona. 


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