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Este texto não tem a pretensão de desvendar o mistério da falta de troco, mas apenas levanta potenciais suspeitos. Vamos falar de  um suspeito em particular: o custo de produção do dinheiro.

Não é segredo para ninguém: é duro arranjar troco no Brasil. Se você tenta pagar alguma coisa em dinheiro, principalmente se os valores são “quebrados”, comerciantes recorrerão a gambiarras como arredondamentos ou troco em mercadorias (balas, chicletes etc.).

Com o avanço das compras com cartão de crédito e débito (e logo, logo com celulares), esse problema está se tornando cada vez menor. Mas há ainda várias transações que funcionam na base do dinheiro vivo – como as das feiras livres.

Certa vez um feirante me disse que pagava para ter dinheiro em moedas ou notas de baixa denominação. Para cada R$ 100, ele recebia R$ 96 em moedas de R$ 1. Isso dá uma ideia do problema de escassez de moedas no mercado.

Uma explicação para esse fenômeno seria que produzir moedas é mais caro que produzir cédulas. O governo optaria, portanto, por privilegiar cédulas, provocando falta de moedas. Em certa medida isso faz sentido, dado que é preciso metal para produzir moedas. Mas a produção de cédulas envolve papel especial e tecnologia específica para prevenir falsificações, o que certamente não é barato.

O Banco Central disponibiliza informações sobre o custo de produzir dinheiro no Brasil.  Veja no gráfico abaixo. Moedas são mais caras, mas a diferença não é tão grande assim. Por exemplo, produzir uma moeda de 5 centavos custa quase o mesmo que produzir uma nota de 100 reais.

 



Só que a produção de dinheiro gera receita para o governo – a chamada senhoriagem. Com o dinheiro novo, ele pode financiar parte dos seus gastos.  Quanto maior o valor da nota/moeda, maior a receita de senhoriagem que o governo levanta quando a produz.

Note, no gráfico, que o custo de produzir moedas de 5, 10 e 25 centavos é maior que próprio valor delas. Por exemplo, o custo para produzir uma moeda de 5 centavos corresponde a cerca de 6 vezes o valor da moeda. O governo perde dinheiro com essas denominações mais baixas.

Para ter uma ideia dos ônus e bônus para o governo, calculamos a razão entre custo de produção e valor da moeda/cédula, da mesma forma que realizamos acima para a moeda de 5 centavos. Quanto mais alta a razão, menor o retorno de produzir a moeda/cédula para o governo.



Note que, para as moedas, essa razão é bem mais elevada. Ou seja, compensa produzir notas – e quanto maiores as notas, maior o retorno de gerá-las.

Essa, logicamente, não é a única explicação. Se fosse o único canal relevante, o governo imprimiria apenas notas de 100 reais – e provavelmente lançaria notas de 200, 500, 1000... Cédulas de 20 reais, por exemplo, são mais importantes para fazer trocas corriqueiras do que as de 100 reais. O governo reage a isso, produzindo notas menores.

Entretanto, os dados ilustram que o custo de produzir dinheiro de baixa denominação (em que se encaixam as moedas) tende a ser bastante elevado na comparação com a receita que ele traz para o governo. Isso poderia explicar a baixa propensão do governo a introduzir mais moedas no mercado e a consequente falta crônica de troco que observamos por aí.

Você pode estar se perguntando: isso não é verdade para outros países, em que o problema de troco não é tão agudo? Vamos comparar o Brasil com os Estados Unidos nessa mesma dimensão. Lá, o governo também perde dinheiro para produzir moedas menores, mas a diferença não é tão grande quanto aqui. O custo de produção de uma moeda de 5 centavos de dólar, por exemplo, corresponde a 1,12 vezes o seu valor (no Brasil, como vimos, é mais de 6 vezes). Algo similar pode ser visto nas moedas de 10 e 25 centavos, como se pode conferir no gráfico a seguir, que mostra a razão entre custo e valor das moedas aqui e nos Estados Unidos.



Cédulas de dólar são também mais baratas que as de real. Entretanto, como proporção do valor da nota, as diferenças entre Brasil e Estados Unidos não são tão elevadas como no caso das moedas. Ou seja, a desvantagem de produzir moedas é muito maior por aqui. Dados para os Estados Unidos podem ser encontrados aqui e aqui.

Claro, há outros suspeitos para a falta de troco por essas bandas. Uma explicação alternativa tem a ver com a elevada taxa de juro nominal no Brasil. Nessa situação, segurar dinheiro vivo é particularmente custoso – ele não rende juros e ainda tem seu poder de compra corroído pela inflação. O dinheiro “queima” nas mãos de consumidores e empresas.

Assim, os agentes têm pouco incentivo a segurar dinheiro. Levam rapidamente recursos ao banco e depositam. Só que bancos precisam reter uma parcela grande desses recursos que recebem, por causa do depósito compulsório (fração dos depósitos que o Banco Central obriga os bancos a não utilizarem para empréstimo), que é bem alto por aqui. Isso incluiria moedas, reduzindo a disponibilidade de troco no mercado.

Mas os juros caíram fortemente nos últimos anos. Dá para esperar que esse mecanismo se torne cada vez mais fraco, à medida que a taxa de juros se consolide nesse patamar mais baixo.

Bom, como dito no texto, essas são especulações. O que você acha? Faz sentido?  Alguma explicação alternativa?

***

Você já deve ter visto a máquina abaixo. Você coloca 1 ou 2 reais, e ela lhe dá uma bolinha. Aceita somente moedas de R$ 1. Crianças amam esse negócio.



Imagino que a geringonça seja extremamente lucrativa. Primeiro, você paga 1 ou 2 reais por uma mísera bolinha. Segundo, você entrega moedas para quem quer que seja o dono da máquina – moedas que são valiosas por essas bandas, em que o troco é tão escasso. Afinal, como já vimos, 100 reais em moedas valem mais do que 100 reais em notas maiores.

Por que falta tanto troco no Brasil?

Este texto não tem a pretensão de desvendar o mistério da falta de troco, mas apenas levanta potenciais suspeitos. Vamos falar de  um suspeito em particular: o custo de produção do dinheiro. Não é segredo para ninguém: é duro arranjar troco no Brasil. Se você tenta pagar alguma coisa em dinheiro, principalmente se os valores são “quebrados”, comerciantes recorrerão a gambiarras como arredondamentos ou troco em mercadorias (balas, chicletes etc.). Com o avanço das compras com cartão de crédito e débito (e logo, logo com celulares), esse problema está se tornando cada vez menor. Mas há ainda várias transações que funcionam na base do dinheiro vivo – como as das feiras livres. Certa vez um feirante me disse que pagava para ter dinheiro em moedas ou notas de baixa denominação. Para cada R$ 100, ele recebia R$ 96 em moedas de R$ 1. Isso dá uma ideia do problema de escassez de moedas no mercado. Uma explicação para esse fenômeno seria que produzir moedas é mais caro que produzir cédulas. O governo optaria, portanto, por privilegiar cédulas, provocando falta de moedas. Em certa medida isso faz sentido, dado que é preciso metal para produzir moedas. Mas a produção de cédulas envolve papel especial e tecnologia específica para prevenir falsificações, o que certamente não é barato. O Banco Central disponibiliza informações sobre o custo de produzir dinheiro no Brasil.  Veja no gráfico abaixo. Moedas são mais caras, mas a diferença não é tão grande assim. Por exemplo, produzir uma moeda de 5 centavos custa quase o mesmo que produzir uma nota de 100 reais.   Só que a produção de dinheiro gera receita para o governo – a chamada senhoriagem. Com o dinheiro novo, ele pode financiar parte dos seus gastos.  Quanto maior o valor da nota/moeda, maior a receita de senhoriagem que o governo levanta quando a produz. Note, no gráfico, que o custo de produzir moedas de 5, 10 e 25 centavos é maior que próprio valor delas. Por exemplo, o custo para produzir uma moeda de 5 centavos corresponde a cerca de 6 vezes o valor da moeda. O governo perde dinheiro com essas denominações mais baixas. Para ter uma ideia dos ônus e bônus para o governo, calculamos a razão entre custo de produção e valor da moeda/cédula, da mesma forma que realizamos acima para a moeda de 5 centavos. Quanto mais alta a razão, menor o retorno de produzir a moeda/cédula para o governo. Note que, para as moedas, essa razão é bem mais elevada. Ou seja, compensa produzir notas – e quanto maiores as notas, maior o retorno de gerá-las. Essa, logicamente, não é a única explicação. Se fosse o único canal relevante, o governo imprimiria apenas notas de 100 reais – e provavelmente lançaria notas de 200, 500, 1000... Cédulas de 20 reais, por exemplo, são mais importantes para fazer trocas corriqueiras do que as de 100 reais. O governo reage a isso, produzindo notas menores. Entretanto, os dados ilustram que o custo de produzir dinheiro de baixa denominação (em que se encaixam as moedas) tende a ser bastante elevado na comparação com a receita que ele traz para o governo. Isso poderia explicar a baixa propensão do governo a introduzir mais moedas no mercado e a consequente falta crônica de troco que observamos por aí. Você pode estar se perguntando: isso não é verdade para outros países, em que o problema de troco não é tão agudo? Vamos comparar o Brasil com os Estados Unidos nessa mesma dimensão. Lá, o governo também perde dinheiro para produzir moedas menores, mas a diferença não é tão grande quanto aqui. O custo de produção de uma moeda de 5 centavos de dólar, por exemplo, corresponde a 1,12 vezes o seu valor (no Brasil, como vimos, é mais de 6 vezes). Algo similar pode ser visto nas moedas de 10 e 25 centavos, como se pode conferir no gráfico a seguir, que mostra a razão entre custo e valor das moedas aqui e nos Estados Unidos. Cédulas de dólar são também mais baratas que as de real. Entretanto, como proporção do valor da nota, as diferenças entre Brasil e Estados Unidos não são tão elevadas como no caso das moedas. Ou seja, a desvantagem de produzir moedas é muito maior por aqui. Dados para os Estados Unidos podem ser encontrados aqui e aqui. Claro, há outros suspeitos para a falta de troco por essas bandas. Uma explicação alternativa tem a ver com a elevada taxa de juro nominal no Brasil. Nessa situação, segurar dinheiro vivo é particularmente custoso – ele não rende juros e ainda tem seu poder de compra corroído pela inflação. O dinheiro “queima” nas mãos de consumidores e empresas. Assim, os agentes têm pouco incentivo a segurar dinheiro. Levam rapidamente recursos ao banco e depositam. Só que bancos precisam reter uma parcela grande desses recursos que recebem, por causa do depósito compulsório (fração dos depósitos que o Banco Central obriga os bancos a não utilizarem para empréstimo), que é bem alto por aqui. Isso incluiria moedas, reduzindo a disponibilidade de troco no mercado. Mas os juros caíram fortemente nos últimos anos. Dá para esperar que esse mecanismo se torne cada vez mais fraco, à medida que a taxa de juros se consolide nesse patamar mais baixo. Bom, como dito no texto, essas são especulações. O que você acha? Faz sentido?  Alguma explicação alternativa? *** Você já deve ter visto a máquina abaixo. Você coloca 1 ou 2 reais, e ela lhe dá uma bolinha. Aceita somente moedas de R$ 1. Crianças amam esse negócio. Imagino que a geringonça seja extremamente lucrativa. Primeiro, você paga 1 ou 2 reais por uma mísera bolinha. Segundo, você entrega moedas para quem quer que seja o dono da máquina – moedas que são valiosas por essas bandas, em que o troco é tão escasso. Afinal, como já vimos, 100 reais em moedas valem mais do que 100 reais em notas maiores.
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