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																					Recentemente
um grupo de quase 200 altos executivos das mais importantes empresas americanas
– o chamado Business Roundtable – anunciou que estava redefinindo o propósito de uma companhia. Em vez de focar exclusivamente no
valor propiciado aos acionistas, passariam a dar maior ênfase em aspectos como
responsabilidade social e investimento em funcionários e consumidores.

Isso parece desafiar uma das principais hipóteses de comportamento da teoria econômica tradicional: a de que as atitudes de uma firma são guiadas por um principal (e muitas vezes único) objetivo – maximizar seus lucros. Afinal, os acionistas são os donos da empresa, e quanto mais lucrativa ela é, mais dinheiro eles recebem, sob a forma de dividendos, e maior o valor das ações.

Na verdade, a maximização de lucros e outros objetivos não são necessariamente incompatíveis. Consumidores podem rejeitar o produto de uma empresa caso descubram que ela está tratando mal seus funcionários ou que não se preocupa com a comunidade de que faz parte.

Por exemplo, uma companhia poderia cortar o plano de pensão de seus funcionários, mas isso espantaria uma quantidade grande de consumidores preocupados com o bem-estar desses trabalhadores. A redução dos benefícios levaria a menos custos e a um lucro maior. Mas uma menor demanda também jogaria os lucros para baixo. Dependendo de quão forte for a reação negativa dos consumidores, a lucratividade da empresa pode cair se ela reduzir os benefícios – o que pode compeli-la a mantê-los.

Note, no nosso exemplo, que a empresa não fez isso porque se preocupa intrinsecamente com o bem-estar dos funcionários, mas sim para não perder consumidores – o que, em última instância, ajuda-a a maximizar seus lucros.

Entretanto, atitudes como a discutida acima acarretam custos maiores, que acabam sendo repassados para os preços. Como os consumidores esperam esse comportamento da empresa, eles estariam dispostos a pagar um pouco mais por seus produtos ou serviços. Acabam, assim, arcando com parte dessas ações socialmente responsáveis da firma.

A imagem de uma empresa preocupada com a sociedade pode também ajudá-la a recrutar trabalhadores que valorizam esse aspecto. Um artigo acadêmico recente de Daniel Hedblom, Brent Hickman e John List encontra evidências nessa direção . Com base em um experimento aleatório, em que foi aberta uma empresa verdadeira, os autores avaliaram o impacto de divulgar suas ações em benefício da comunidade sobre a disposição de pessoas em aceitar uma oferta para realizar um trabalho online.

Eles encontraram que há um aumento de 24% nessa disposição. Em outras palavras, a empresa não precisaria aumentar salários para atrair trabalhadores – bastaria investir em sua imagem. Dependendo do custo dessas ações sociais, elas podem elevar a lucratividade. Nesse caso, quem estaria pagando por parte disso seriam os trabalhadores, via salários mais baixos.

***

Essa discussão nos remete ao imbróglio do governo brasileiro com relação ao meio ambiente. Vimos reações de governos estrangeiros aos incêndios na Amazônia, chegando a ameaçar acordos comerciais, como o recém-aprovado entre a União Europeia e o Mercosul. Mas a sinalização de que o governo brasileiro pouco se importa com o meio ambiente pode mexer com o comportamento de empresas estrangeiras que compram nossos produtos.

Afinal, muitos consumidores estrangeiros valorizam a proteção ao meio ambiente e esperam que as empresas ajam de acordo com essas preocupações. Caso contrário, eles deixam de comprar produtos dessas companhias. Para não perder lucros, empresas podem tomar atitudes que sinalizem sua preocupação ambiental – por exemplo, deixando de comprar do Brasil por causa da repercussão internacional envolvendo a Amazônia.

Vimos alguns exemplos recentemente. Uma importante empresa americana de vestuário e calçados anunciou que suspenderá a compra de couro do Brasil  .A jornalista Miriam Leitão, em  sua coluna semanal, relata a sinalização de uma grande empresa chinesa de que gostaria de comprar mais do agronegócio brasileiro, mas ressalta sua preocupação com a sustentabilidade.

Não sabemos se esses são exemplos isolados. Entretanto, se o governo brasileiro não tomar atitudes que indiquem maior preocupação com o meio ambiente e com a proteção da Amazônia, as coisas podem piorar.

ARTIGO PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO


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Por que lucratividade e responsabilidade social não são incompatíveis?

Recentemente um grupo de quase 200 altos executivos das mais importantes empresas americanas – o chamado Business Roundtable – anunciou que estava redefinindo o propósito de uma companhia. Em vez de focar exclusivamente no valor propiciado aos acionistas, passariam a dar maior ênfase em aspectos como responsabilidade social e investimento em funcionários e consumidores.

Isso parece desafiar uma das principais hipóteses de comportamento da teoria econômica tradicional: a de que as atitudes de uma firma são guiadas por um principal (e muitas vezes único) objetivo – maximizar seus lucros. Afinal, os acionistas são os donos da empresa, e quanto mais lucrativa ela é, mais dinheiro eles recebem, sob a forma de dividendos, e maior o valor das ações.

Na verdade, a maximização de lucros e outros objetivos não são necessariamente incompatíveis. Consumidores podem rejeitar o produto de uma empresa caso descubram que ela está tratando mal seus funcionários ou que não se preocupa com a comunidade de que faz parte.

Por exemplo, uma companhia poderia cortar o plano de pensão de seus funcionários, mas isso espantaria uma quantidade grande de consumidores preocupados com o bem-estar desses trabalhadores. A redução dos benefícios levaria a menos custos e a um lucro maior. Mas uma menor demanda também jogaria os lucros para baixo. Dependendo de quão forte for a reação negativa dos consumidores, a lucratividade da empresa pode cair se ela reduzir os benefícios – o que pode compeli-la a mantê-los.

Note, no nosso exemplo, que a empresa não fez isso porque se preocupa intrinsecamente com o bem-estar dos funcionários, mas sim para não perder consumidores – o que, em última instância, ajuda-a a maximizar seus lucros.

Entretanto, atitudes como a discutida acima acarretam custos maiores, que acabam sendo repassados para os preços. Como os consumidores esperam esse comportamento da empresa, eles estariam dispostos a pagar um pouco mais por seus produtos ou serviços. Acabam, assim, arcando com parte dessas ações socialmente responsáveis da firma.

A imagem de uma empresa preocupada com a sociedade pode também ajudá-la a recrutar trabalhadores que valorizam esse aspecto. Um artigo acadêmico recente de Daniel Hedblom, Brent Hickman e John List encontra evidências nessa direção . Com base em um experimento aleatório, em que foi aberta uma empresa verdadeira, os autores avaliaram o impacto de divulgar suas ações em benefício da comunidade sobre a disposição de pessoas em aceitar uma oferta para realizar um trabalho online.

Eles encontraram que há um aumento de 24% nessa disposição. Em outras palavras, a empresa não precisaria aumentar salários para atrair trabalhadores – bastaria investir em sua imagem. Dependendo do custo dessas ações sociais, elas podem elevar a lucratividade. Nesse caso, quem estaria pagando por parte disso seriam os trabalhadores, via salários mais baixos.

***

Essa discussão nos remete ao imbróglio do governo brasileiro com relação ao meio ambiente. Vimos reações de governos estrangeiros aos incêndios na Amazônia, chegando a ameaçar acordos comerciais, como o recém-aprovado entre a União Europeia e o Mercosul. Mas a sinalização de que o governo brasileiro pouco se importa com o meio ambiente pode mexer com o comportamento de empresas estrangeiras que compram nossos produtos.

Afinal, muitos consumidores estrangeiros valorizam a proteção ao meio ambiente e esperam que as empresas ajam de acordo com essas preocupações. Caso contrário, eles deixam de comprar produtos dessas companhias. Para não perder lucros, empresas podem tomar atitudes que sinalizem sua preocupação ambiental – por exemplo, deixando de comprar do Brasil por causa da repercussão internacional envolvendo a Amazônia.

Vimos alguns exemplos recentemente. Uma importante empresa americana de vestuário e calçados anunciou que suspenderá a compra de couro do Brasil  .A jornalista Miriam Leitão, em  sua coluna semanal, relata a sinalização de uma grande empresa chinesa de que gostaria de comprar mais do agronegócio brasileiro, mas ressalta sua preocupação com a sustentabilidade.

Não sabemos se esses são exemplos isolados. Entretanto, se o governo brasileiro não tomar atitudes que indiquem maior preocupação com o meio ambiente e com a proteção da Amazônia, as coisas podem piorar.

ARTIGO PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO


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