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A tragédia natural no Rio Grande do Sul fez enorme estrago, ceifou vidas e pôs a economia do estado de joelhos. Vai também desequilibrar um pouco mais as contas públicas do governo federal (desta vez por um bom motivo). Em meio a tamanha desgraça, ao menos ressuscitou-se o debate sobre mudança climática, preservação ambiental e preparo e agilidade para lidar com catástrofes.


A agilidade para lidar com um choque adverso provocado por evento climático cai numa categoria separada, analiticamente falando. Depende menos de outros grandes players globais. É uma questão orçamentária e de planejamento local, eminentemente. Em entrevista para a Folha de S. Paulo, o governador Eduardo Leite falou com franqueza sobre ter sido alertado para os riscos de inundação, mas ressaltou que o orçamento não envolve obviamente apenas esse item, e que a situação fiscal do Rio Grande do Sul não era sólida o suficiente para permitir mais gastos. Posicionamento até compreensível, mas que a posteriori revelou uma análise custo-benefício deficiente. A sociedade e a economia estão em frangalhos (para ser justo, não sabemos quanto um aumento na alocação para prevenção teria sido capaz de atenuar a catástrofe).

Já o tema maior das mudanças climáticas é crucial e há pouco que um país sozinho, para não mencionar um estado, possa fazer. O problema é dos mais espinhosos porque demanda cooperação global. Os grandes poluidores como Estados Unidos, China e Índia precisam entrar no barco para evitar que este afunde no decorrer do próximo século. Sem isso, teremos problemas (a gente já vê os sinais!). Poluição e degradação são o que os economistas chamam de externalidades negativas. Demandam intervenção de fora do setor privado. Por que elas não ocorrem? Ora, se todo o custo de poluir nos Estados Unidos, por exemplo, recaísse nas costas dos norte-americanos, eles certamente teriam incentivos mais fortes para agir por meio de suas estruturas de governo locais e federais. Mas parte do custo vai ser dividido com outros países, e não temos um governo mundial capaz de internalizar isso.

Até aqui, a descrição é de um problema clássico de externalidade, com suas dificuldades conhecidas. O problema é que há um aspecto ainda pior, pois envolve outra dimensão do comportamento humano bem estudada por economistas e psicólogos: nossa tendência indefectível para procrastinar, a quase total incapacidade de incorporar no presente ações cujos custos são imediatos, mas os benefícios não. O que queremos dizer é que, mesmo se o problema clássico da externalidade não estivesse presente, ainda assim cuidaríamos do meio ambiente menos do que deveríamos. Custo hoje para benefício lá na frente? Nem a pau! Isso se vivêssemos duzentos anos. Para complicar ainda mais, muitos dos custos da inação recairão sobre pessoas que nem sequer vamos conhecer em vida...

A questão ambiental é portanto dificílima. Mas não caiam no conto dos negacionistas: hoje, há sim um consenso científico sobre a estreita ligação entre a ação humana e a degradação seríssima das condições climáticas e ambientais. Há menos consenso sobre se já passamos o tal ponto crítico de não retorno, é verdade, mas usar esse argumento como motivo para cruzar os braços é amoral e errado.


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Por que não há intervenção global nas externalidades negativas?

A tragédia natural no Rio Grande do Sul fez enorme estrago, ceifou vidas e pôs a economia do estado de joelhos. Vai também desequilibrar um pouco mais as contas públicas do governo federal (desta vez por um bom motivo). Em meio a tamanha desgraça, ao menos ressuscitou-se o debate sobre mudança climática, preservação ambiental e preparo e agilidade para lidar com catástrofes.

A agilidade para lidar com um choque adverso provocado por evento climático cai numa categoria separada, analiticamente falando. Depende menos de outros grandes players globais. É uma questão orçamentária e de planejamento local, eminentemente. Em entrevista para a Folha de S. Paulo, o governador Eduardo Leite falou com franqueza sobre ter sido alertado para os riscos de inundação, mas ressaltou que o orçamento não envolve obviamente apenas esse item, e que a situação fiscal do Rio Grande do Sul não era sólida o suficiente para permitir mais gastos. Posicionamento até compreensível, mas que a posteriori revelou uma análise custo-benefício deficiente. A sociedade e a economia estão em frangalhos (para ser justo, não sabemos quanto um aumento na alocação para prevenção teria sido capaz de atenuar a catástrofe).

Já o tema maior das mudanças climáticas é crucial e há pouco que um país sozinho, para não mencionar um estado, possa fazer. O problema é dos mais espinhosos porque demanda cooperação global. Os grandes poluidores como Estados Unidos, China e Índia precisam entrar no barco para evitar que este afunde no decorrer do próximo século. Sem isso, teremos problemas (a gente já vê os sinais!). Poluição e degradação são o que os economistas chamam de externalidades negativas. Demandam intervenção de fora do setor privado. Por que elas não ocorrem? Ora, se todo o custo de poluir nos Estados Unidos, por exemplo, recaísse nas costas dos norte-americanos, eles certamente teriam incentivos mais fortes para agir por meio de suas estruturas de governo locais e federais. Mas parte do custo vai ser dividido com outros países, e não temos um governo mundial capaz de internalizar isso.

Até aqui, a descrição é de um problema clássico de externalidade, com suas dificuldades conhecidas. O problema é que há um aspecto ainda pior, pois envolve outra dimensão do comportamento humano bem estudada por economistas e psicólogos: nossa tendência indefectível para procrastinar, a quase total incapacidade de incorporar no presente ações cujos custos são imediatos, mas os benefícios não. O que queremos dizer é que, mesmo se o problema clássico da externalidade não estivesse presente, ainda assim cuidaríamos do meio ambiente menos do que deveríamos. Custo hoje para benefício lá na frente? Nem a pau! Isso se vivêssemos duzentos anos. Para complicar ainda mais, muitos dos custos da inação recairão sobre pessoas que nem sequer vamos conhecer em vida...

A questão ambiental é portanto dificílima. Mas não caiam no conto dos negacionistas: hoje, há sim um consenso científico sobre a estreita ligação entre a ação humana e a degradação seríssima das condições climáticas e ambientais. Há menos consenso sobre se já passamos o tal ponto crítico de não retorno, é verdade, mas usar esse argumento como motivo para cruzar os braços é amoral e errado.


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