Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

Por Gustavo Santos Ferreira e Mario Salonikios 

Se você não é nenhum alienígena que desceu no Brasil neste instante (e está lendo esta alegoria bem clichê), já sabe que nossa economia foi rebaixada. Mas, caso você não seja mesmo deste planeta, sim: a economia do Brasil foi rebaixada por uma agência de classificação de risco chamada Standard & Poor's (S&P). Agora, seja você, ou não,  extraterrestre, dificilmente teria a curiosidade (e a paciência) de ler o relatório oficial feito pela agência. Certo?

et no rio de janeiro

Mas nós fizemos isso! Por dever de ofício, traduzimos para você, do inglês e do economês, as principais razões alegadas pela S&P para o Brasil descer do grau de investimento para o especulativo. Lá vai:

1) Os desafios políticos que o Brasil enfrenta não pararam de aumentar, pesando sobre a capacidade e vontade do governo de apresentar ao Congresso um Orçamento para 2016 coerente com uma correção significativa de sua política, sinalizada na primeira metade do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Uau. Bom, vamos explicar isso tudo ao contrário? Primeiro, depois de ser eleita, Dilma sinalizou que cortaria gastos e reestruturaria a política fiscal do governo. Segundo, passados quase três trimestres, o Brasil não consegue deixar de gastar e tem preferido aumentar impostos em detrimento de uma administração eficiente. Terceiro, e simultaneamente a isso, o descontentamento do eleitor com a presidente só faz crescer. Perto de apenas 7% aprovam a presidente. Isso põe mais lenha na fogueira armada para sustentar o “fora Dilma”. Em quarto lugar, os opositores do governo, surfando na onda pró-impeachment, atrapalham tentativas de ajuste fiscal nos instantes de lucidez do governo. Eles têm apoiado novas elevações de gastos! Enfim, tudo isso posto, o problema da economia brasileira é, em boa parte e em resumo: político, de difícil solução e de potenciais consequências desastrosas para a nossas vidas.

O desemprego crescente e a inflação atual não nos permitem discordar dessa análise.

 



2) A proposta orçamentária do governo para 2016 prevê mais uma alteração com relação à meta fiscal primária, menos de seis semanas após sua revisão para baixo, o que significaria três anos consecutivos de déficit primário e dívida líquida continuando a aumentar, se não forem tomadas medidas relacionadas a receitas ou despesas.

A S&P não precisava lançar mão de tantas palavras para dizer que, em 2014, o Brasil gastou mais do que arrecadou de todos nós em impostos. E que, em 2015, tende a fazer o mesmo. E que, em 2016, adivinha só? O governo já prometeu repetir o fiasco! Resultado? A dívida do país vai continuar subindo e o seu dinheiro sendo muito mal usado se continuarmos a dançar nesse ritmo.

Essa é a interpretação da S&P. E, assim como na primeira alegação, fica difícil não assinar embaixo.

3) Estamos reduzindo o rating de BBB- para BB+.

A explicação acima aqui é tão técnica quanto minimalista. Vamos decifrar? Bora lá.

Cada agência de classificação de risco tem notas (o tal rating) para dizer se vale a pena ou não investir num país ou numa empresa. Essas notas são divididas em dois grupos: grau de investimento (quando a agência recomenda investir) e grau especulativo (quando a agência não recomenda, por considerar riscos de o investidor aplicar ou emprestar dinheiro e não obter a grana de volta).

Para a S&P, o Brasil se encontra agora nessa segunda divisão. A nota BB+ é a mais alta dentre as economias e empresas mais mal avaliadas pela agência. Aos otimistas míopes de plantão, fica o consolo de a economia brasileira ser a primeira colocada em alguma coisa.

4) A perspectiva negativa reflete a nossa avaliação de que a probabilidade de um novo rebaixamento é maior do que 1 em 3, devido a uma maior deterioração  da posição fiscal do Brasil, potencial inversão de políticas-chave, dado a dinâmica da política, incluindo ainda mais falta de coesão no gabinete da presidente, ou devido à uma crise econômica maior do que esperamos atualmente.

Nossos bons modos impedem que digamos em radical bom português, e num só verbo bem deselegante, o que a S&P prevê para o futuro econômico do Brasil. Mas você pode imaginar. E, caso essas turbulências sejam confirmadas, devemos, desde já, apertar nossos cintos e tentar lembrar das instruções de emergência dadas pela aeromoça no começo do voo.

Por que o Brasil foi rebaixado?

Por Gustavo Santos Ferreira e Mario Salonikios  Se você não é nenhum alienígena que desceu no Brasil neste instante (e está lendo esta alegoria bem clichê), já sabe que nossa economia foi rebaixada. Mas, caso você não seja mesmo deste planeta, sim: a economia do Brasil foi rebaixada por uma agência de classificação de risco chamada Standard & Poor's (S&P). Agora, seja você, ou não,  extraterrestre, dificilmente teria a curiosidade (e a paciência) de ler o relatório oficial feito pela agência. Certo? et no rio de janeiro Mas nós fizemos isso! Por dever de ofício, traduzimos para você, do inglês e do economês, as principais razões alegadas pela S&P para o Brasil descer do grau de investimento para o especulativo. Lá vai: 1) Os desafios políticos que o Brasil enfrenta não pararam de aumentar, pesando sobre a capacidade e vontade do governo de apresentar ao Congresso um Orçamento para 2016 coerente com uma correção significativa de sua política, sinalizada na primeira metade do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Uau. Bom, vamos explicar isso tudo ao contrário? Primeiro, depois de ser eleita, Dilma sinalizou que cortaria gastos e reestruturaria a política fiscal do governo. Segundo, passados quase três trimestres, o Brasil não consegue deixar de gastar e tem preferido aumentar impostos em detrimento de uma administração eficiente. Terceiro, e simultaneamente a isso, o descontentamento do eleitor com a presidente só faz crescer. Perto de apenas 7% aprovam a presidente. Isso põe mais lenha na fogueira armada para sustentar o “fora Dilma”. Em quarto lugar, os opositores do governo, surfando na onda pró-impeachment, atrapalham tentativas de ajuste fiscal nos instantes de lucidez do governo. Eles têm apoiado novas elevações de gastos! Enfim, tudo isso posto, o problema da economia brasileira é, em boa parte e em resumo: político, de difícil solução e de potenciais consequências desastrosas para a nossas vidas. O desemprego crescente e a inflação atual não nos permitem discordar dessa análise.   2) A proposta orçamentária do governo para 2016 prevê mais uma alteração com relação à meta fiscal primária, menos de seis semanas após sua revisão para baixo, o que significaria três anos consecutivos de déficit primário e dívida líquida continuando a aumentar, se não forem tomadas medidas relacionadas a receitas ou despesas. A S&P não precisava lançar mão de tantas palavras para dizer que, em 2014, o Brasil gastou mais do que arrecadou de todos nós em impostos. E que, em 2015, tende a fazer o mesmo. E que, em 2016, adivinha só? O governo já prometeu repetir o fiasco! Resultado? A dívida do país vai continuar subindo e o seu dinheiro sendo muito mal usado se continuarmos a dançar nesse ritmo. Essa é a interpretação da S&P. E, assim como na primeira alegação, fica difícil não assinar embaixo. 3) Estamos reduzindo o rating de BBB- para BB+. A explicação acima aqui é tão técnica quanto minimalista. Vamos decifrar? Bora lá. Cada agência de classificação de risco tem notas (o tal rating) para dizer se vale a pena ou não investir num país ou numa empresa. Essas notas são divididas em dois grupos: grau de investimento (quando a agência recomenda investir) e grau especulativo (quando a agência não recomenda, por considerar riscos de o investidor aplicar ou emprestar dinheiro e não obter a grana de volta). Para a S&P, o Brasil se encontra agora nessa segunda divisão. A nota BB+ é a mais alta dentre as economias e empresas mais mal avaliadas pela agência. Aos otimistas míopes de plantão, fica o consolo de a economia brasileira ser a primeira colocada em alguma coisa. 4) A perspectiva negativa reflete a nossa avaliação de que a probabilidade de um novo rebaixamento é maior do que 1 em 3, devido a uma maior deterioração  da posição fiscal do Brasil, potencial inversão de políticas-chave, dado a dinâmica da política, incluindo ainda mais falta de coesão no gabinete da presidente, ou devido à uma crise econômica maior do que esperamos atualmente. Nossos bons modos impedem que digamos em radical bom português, e num só verbo bem deselegante, o que a S&P prevê para o futuro econômico do Brasil. Mas você pode imaginar. E, caso essas turbulências sejam confirmadas, devemos, desde já, apertar nossos cintos e tentar lembrar das instruções de emergência dadas pela aeromoça no começo do voo.
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