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A jabuticaba é uma fruta típica do Brasil – apesar de não existir apenas por aqui. Por isso, nos últimos anos, seu nome vem sendo usado para designar características ou políticas (em geral ruins) que distinguem a economia brasileira de outras no mundo. Uma dessas jabuticabas é o compulsório, regra que força os bancos a deixarem uma parcela de seus depósitos parada no Banco Central, em boa parte sem remuneração. Não que lá fora não se aplique essa política. A questão, por aqui, é a magnitude do compulsório. Veja aqui um comparativo internacional.

O Banco Central, por meio de sua Agenda BC+, revelou a intenção de rever o compulsório e a complexidade de suas regras. E, na semana passada, anunciou a diminuição do compulsório sobre depósitos à vista (isto é, aqueles que podem facilmente ser utilizados para realizar transações, como o dinheiro em contas correntes) de incríveis 40% para ainda elevados 25%. Estima-se que isso liberará mais de R$ 25 bilhões para empréstimos.

Antes de entrar no compulsório em si, falaremos sobre o conceito de liquidez.

As definições usuais de moeda não incluem apenas cédulas e moedas metálicas. Contam também os chamados recursos de alta liquidez, ou seja, que podem ser rapidamente usados para comprar as mais variadas coisas. Os depósitos à vista acima mencionados, por exemplo, têm essa característica, pois as pessoas podem fazer transações usando cheques ou cartão, acessando diretamente os recursos em suas contas sem que precisem transformá-los em dinheiro vivo.

Quando alguém deposita um dinheiro em determinado banco, esse recurso não fica lá parado. Parte dele é emprestado a outra pessoa ou empresa. Tal processo acaba gerando mais moeda, pois uma parcela desses empréstimos permanece em uma forma bastante líquida. Exemplo: um empresário pega um empréstimo para pagar salários de seus empregados (pois ele só vai ter receita mais para frente). Esses recursos vão parar na conta de seus funcionários, que manterão parte deles como depósito à vista, para seus gastos mais corriqueiros.

Em outras palavras, esse processo de empréstimo acaba gerando liquidez dentro do sistema bancário. E é justamente aí que o compulsório interfere.

Como dito, os bancos emprestam uma parcela dos depósitos que recebem. O restante é mantido como reserva. Fazem isso em parte voluntariamente, pois precisam fazer frente a retiradas. Se emprestarem uma parte grande dos seus depósitos, podem ficar sem dinheiro para atender a pessoas que querem tirar dinheiro de suas contas. Mas o Banco Central pode entender que essa fração mantida voluntariamente não é suficiente. Então, compulsoriamente, faz com que os bancos mantenham uma fração maior não emprestada.

Uma das funções principais do compulsório é servir de instrumento de política monetária, isto é, para aumentar ou diminuir a liquidez na economia. No entanto, os bancos centrais não o utilizam com muita frequência para esse fim, dando preferência às chamadas operações de mercado aberto.

A política, todavia, faz certo sentido para garantir mais segurança ao sistema financeiro. Especificamente, um banco pode emprestar demais e se colocar na arriscada posição de não ter recursos suficientes para fazer frente a retiradas. Tal ação não ameaça apenas aquele banco, mas todo o sistema. Afinal, clientes desesperados podem acreditar que outros bancos estão em perigo, e correr para tirar seus recursos dali. E isso efetivamente leva a uma quebradeira geral no setor bancário. O compulsório pode evitar esse cenário terrível, ao impedir que os bancos fiquem com reservas muito baixas.

Mas esse benefício não vem sem custos. Um compulsório alto significa que menos dinheiro será emprestado, não chegando a pessoas e empresas que dele necessitam. Menos consumo é financiado; negócios deixam de ser criados e expandidos.

Menos recursos para empréstimos também significam que eles ficam mais caros – o que implica altas taxas de juros. Esse custo parece ser relevante no Brasil, dadas as elevadas taxas de compulsório por aqui praticadas.

A redução no compulsório pode, assim, ajudar na tão necessária diminuição do spread bancário brasileiro.
Durante muito tempo, não se realizou uma diminuição mais agressiva no compulsório, provavelmente porque a injeção de liquidez poderia impulsionar a inflação no curto prazo. Agora, entretanto, a inflação está abaixo da meta do Banco Central e sem sinais de que aumentará muito nos próximos meses. O momento é propício.
 Publicado originalmente na Coluna do Por Quê? na Folha de S.Paulo

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Por que o governo mexeu no compulsório?

banco-central-divulgacao A jabuticaba é uma fruta típica do Brasil – apesar de não existir apenas por aqui. Por isso, nos últimos anos, seu nome vem sendo usado para designar características ou políticas (em geral ruins) que distinguem a economia brasileira de outras no mundo. Uma dessas jabuticabas é o compulsório, regra que força os bancos a deixarem uma parcela de seus depósitos parada no Banco Central, em boa parte sem remuneração. Não que lá fora não se aplique essa política. A questão, por aqui, é a magnitude do compulsório. Veja aqui um comparativo internacional. O Banco Central, por meio de sua Agenda BC+, revelou a intenção de rever o compulsório e a complexidade de suas regras. E, na semana passada, anunciou a diminuição do compulsório sobre depósitos à vista (isto é, aqueles que podem facilmente ser utilizados para realizar transações, como o dinheiro em contas correntes) de incríveis 40% para ainda elevados 25%. Estima-se que isso liberará mais de R$ 25 bilhões para empréstimos. Antes de entrar no compulsório em si, falaremos sobre o conceito de liquidez. As definições usuais de moeda não incluem apenas cédulas e moedas metálicas. Contam também os chamados recursos de alta liquidez, ou seja, que podem ser rapidamente usados para comprar as mais variadas coisas. Os depósitos à vista acima mencionados, por exemplo, têm essa característica, pois as pessoas podem fazer transações usando cheques ou cartão, acessando diretamente os recursos em suas contas sem que precisem transformá-los em dinheiro vivo. Quando alguém deposita um dinheiro em determinado banco, esse recurso não fica lá parado. Parte dele é emprestado a outra pessoa ou empresa. Tal processo acaba gerando mais moeda, pois uma parcela desses empréstimos permanece em uma forma bastante líquida. Exemplo: um empresário pega um empréstimo para pagar salários de seus empregados (pois ele só vai ter receita mais para frente). Esses recursos vão parar na conta de seus funcionários, que manterão parte deles como depósito à vista, para seus gastos mais corriqueiros. Em outras palavras, esse processo de empréstimo acaba gerando liquidez dentro do sistema bancário. E é justamente aí que o compulsório interfere. Como dito, os bancos emprestam uma parcela dos depósitos que recebem. O restante é mantido como reserva. Fazem isso em parte voluntariamente, pois precisam fazer frente a retiradas. Se emprestarem uma parte grande dos seus depósitos, podem ficar sem dinheiro para atender a pessoas que querem tirar dinheiro de suas contas. Mas o Banco Central pode entender que essa fração mantida voluntariamente não é suficiente. Então, compulsoriamente, faz com que os bancos mantenham uma fração maior não emprestada. Uma das funções principais do compulsório é servir de instrumento de política monetária, isto é, para aumentar ou diminuir a liquidez na economia. No entanto, os bancos centrais não o utilizam com muita frequência para esse fim, dando preferência às chamadas operações de mercado aberto. A política, todavia, faz certo sentido para garantir mais segurança ao sistema financeiro. Especificamente, um banco pode emprestar demais e se colocar na arriscada posição de não ter recursos suficientes para fazer frente a retiradas. Tal ação não ameaça apenas aquele banco, mas todo o sistema. Afinal, clientes desesperados podem acreditar que outros bancos estão em perigo, e correr para tirar seus recursos dali. E isso efetivamente leva a uma quebradeira geral no setor bancário. O compulsório pode evitar esse cenário terrível, ao impedir que os bancos fiquem com reservas muito baixas. Mas esse benefício não vem sem custos. Um compulsório alto significa que menos dinheiro será emprestado, não chegando a pessoas e empresas que dele necessitam. Menos consumo é financiado; negócios deixam de ser criados e expandidos. Menos recursos para empréstimos também significam que eles ficam mais caros – o que implica altas taxas de juros. Esse custo parece ser relevante no Brasil, dadas as elevadas taxas de compulsório por aqui praticadas. A redução no compulsório pode, assim, ajudar na tão necessária diminuição do spread bancário brasileiro. Durante muito tempo, não se realizou uma diminuição mais agressiva no compulsório, provavelmente porque a injeção de liquidez poderia impulsionar a inflação no curto prazo. Agora, entretanto, a inflação está abaixo da meta do Banco Central e sem sinais de que aumentará muito nos próximos meses. O momento é propício.
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