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Em 2015, o lamaçal liberado pela quebra da barragem da Samarco na cidade de Mariana (MG) deixou um rastro de destruição que se estendeu de Minas Gerais até o Espírito Santo. Como parte da reparação aos atingidos pela devastação, a empresa está fornecendo cartões de R$ 1.000,00 que podem ser gastos em despesas pessoais. Algumas pessoas, no entanto, estão vendendo seus cartões na internet. Os preços entre R$ 700,00 e R$ 800,00 nos anúncios. Trata-se de um desconto substancial - veja mais aqui, em reportagem da rádio CBN.

Por que os cartões custam menos do que seu poder de compra? E por que alguém estaria disposto a vender um cartão por menos de R$ 1.000,00?

Na verdade, o cartão não é creditado imediatamente. Pode demorar até 90 dias para que os valores estejam disponíveis. Quem vende o cartão tem necessidade do dinheiro agora, e estaria disposto a pagar por isso. Quem o compra abre mão dos recursos hoje, porém só faz isso se houver alguma compensação. Daí observarmos os deságios no valor do cartão em anúncios na internet.

Esse deságio tende a ser maior ainda por causa de risco: e se o cartão não funcionar, como fica o comprador?

A transação acima é muito semelhante a um contrato de dívida. Tomar dinheiro emprestado significa antecipar um recurso no tempo. Por exemplo: você quer fazer uma viagem para o exterior, mas não tem dinheiro hoje. Para isso realiza um empréstimo, que será pago no futuro. Em outras palavras, você está trazendo para hoje um dinheiro que ganhará só lá na frente.

Mas isso é possível porque há alguém lhe emprestando dinheiro. E essa pessoa faz o contrário de você. Ela abre mão desses recursos hoje, para recebê-los futuramente, quando você fará o pagamento.

Para incentivar a pessoa a antecipar o dinheiro, você tem que pagar um preço – que é a taxa de juros. Quem abre mão de dinheiro hoje o faz justamente para ganhar mais no futuro.

Pensemos no caso das indenizações pagas pela Samarco. Quem compra o cartão paga, por exemplo, R$ 800,00 hoje, para ter direito a R$ 1.000,00 daqui a alguns meses, quando o crédito é realizado. É equivalente a emprestar R$ 800,00 no presente para receber R$ 1.000 no futuro. Em outras palavras, R$ 1.000 – R$ 800 = R$ 200 são os juros associados à transação.

E qual seria a taxa de juros? O percentual ganho em cima do valor investido, isto é, R$ 200 ÷ R$ 800 = 25%. Se considerarmos um período de 3 meses para receber o dinheiro, isso daria uma taxa de juros anual de cerca de 144%. Sem dúvida bem elevada. Lembre-se, porém, que há taxas ainda maiores aqui no Brasil, como as de cartões de crédito e cheque especial, que passam de 300% ao ano (se considerarmos o preço do cartão igual a R$ 700,00, como em alguns casos registrados pela reportagem da CBN, a taxa de juros anual chega a 317%).

Contratos de dívida em geral carregam um risco: o devedor pode não honrar com suas obrigações. Para compensar essa contingência, eles embutem um prêmio de risco ao emprestador, na forma de uma taxa de juros mais elevada.

No caso da Samarco, algo do tipo também pode ocorrer. E se der algum problema no cartão? Como continua tudo no nome do beneficiário da indenização, quem compra o cartão terá que contar com a ajuda dessa pessoa. Depois de alguns meses, será ainda possível encontrá-la?

Pior: o titular poderia alegar perda ou roubo, levando ao cancelamento do cartão vendido. Quem adquirisse o cartão ficaria com as mãos abanando. E o saldo retornaria ao beneficiário oficial da indenização. Seria equivalente a um calote no contrato de dívida.

Note: a transação é totalmente feita na informalidade. Isso significa que o emprestador aqui (quem compra o cartão) não pode acionar a Justiça em caso de calote.

Assim, dá para esperar um prêmio de risco nada trivial nas operações de compra e venda dos cartões da Samarco. No caso, isso corresponderia a um preço ainda menor para o cartão. E ajudaria a entender porque os preços que observamos na internet são tão mais baixos que R$ 1.000,00.

 

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Por que vítimas da quebra da barragem da Samarco vendem indenizações?

mariana-manifestacao-um-ano-greenpeace-divulgação-reprodução Em 2015, o lamaçal liberado pela quebra da barragem da Samarco na cidade de Mariana (MG) deixou um rastro de destruição que se estendeu de Minas Gerais até o Espírito Santo. Como parte da reparação aos atingidos pela devastação, a empresa está fornecendo cartões de R$ 1.000,00 que podem ser gastos em despesas pessoais. Algumas pessoas, no entanto, estão vendendo seus cartões na internet. Os preços entre R$ 700,00 e R$ 800,00 nos anúncios. Trata-se de um desconto substancial - veja mais aqui, em reportagem da rádio CBN. Por que os cartões custam menos do que seu poder de compra? E por que alguém estaria disposto a vender um cartão por menos de R$ 1.000,00? Na verdade, o cartão não é creditado imediatamente. Pode demorar até 90 dias para que os valores estejam disponíveis. Quem vende o cartão tem necessidade do dinheiro agora, e estaria disposto a pagar por isso. Quem o compra abre mão dos recursos hoje, porém só faz isso se houver alguma compensação. Daí observarmos os deságios no valor do cartão em anúncios na internet. Esse deságio tende a ser maior ainda por causa de risco: e se o cartão não funcionar, como fica o comprador? A transação acima é muito semelhante a um contrato de dívida. Tomar dinheiro emprestado significa antecipar um recurso no tempo. Por exemplo: você quer fazer uma viagem para o exterior, mas não tem dinheiro hoje. Para isso realiza um empréstimo, que será pago no futuro. Em outras palavras, você está trazendo para hoje um dinheiro que ganhará só lá na frente. Mas isso é possível porque há alguém lhe emprestando dinheiro. E essa pessoa faz o contrário de você. Ela abre mão desses recursos hoje, para recebê-los futuramente, quando você fará o pagamento. Para incentivar a pessoa a antecipar o dinheiro, você tem que pagar um preço – que é a taxa de juros. Quem abre mão de dinheiro hoje o faz justamente para ganhar mais no futuro. Pensemos no caso das indenizações pagas pela Samarco. Quem compra o cartão paga, por exemplo, R$ 800,00 hoje, para ter direito a R$ 1.000,00 daqui a alguns meses, quando o crédito é realizado. É equivalente a emprestar R$ 800,00 no presente para receber R$ 1.000 no futuro. Em outras palavras, R$ 1.000 – R$ 800 = R$ 200 são os juros associados à transação. E qual seria a taxa de juros? O percentual ganho em cima do valor investido, isto é, R$ 200 ÷ R$ 800 = 25%. Se considerarmos um período de 3 meses para receber o dinheiro, isso daria uma taxa de juros anual de cerca de 144%. Sem dúvida bem elevada. Lembre-se, porém, que há taxas ainda maiores aqui no Brasil, como as de cartões de crédito e cheque especial, que passam de 300% ao ano (se considerarmos o preço do cartão igual a R$ 700,00, como em alguns casos registrados pela reportagem da CBN, a taxa de juros anual chega a 317%). Contratos de dívida em geral carregam um risco: o devedor pode não honrar com suas obrigações. Para compensar essa contingência, eles embutem um prêmio de risco ao emprestador, na forma de uma taxa de juros mais elevada. No caso da Samarco, algo do tipo também pode ocorrer. E se der algum problema no cartão? Como continua tudo no nome do beneficiário da indenização, quem compra o cartão terá que contar com a ajuda dessa pessoa. Depois de alguns meses, será ainda possível encontrá-la? Pior: o titular poderia alegar perda ou roubo, levando ao cancelamento do cartão vendido. Quem adquirisse o cartão ficaria com as mãos abanando. E o saldo retornaria ao beneficiário oficial da indenização. Seria equivalente a um calote no contrato de dívida. Note: a transação é totalmente feita na informalidade. Isso significa que o emprestador aqui (quem compra o cartão) não pode acionar a Justiça em caso de calote. Assim, dá para esperar um prêmio de risco nada trivial nas operações de compra e venda dos cartões da Samarco. No caso, isso corresponderia a um preço ainda menor para o cartão. E ajudaria a entender porque os preços que observamos na internet são tão mais baixos que R$ 1.000,00.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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