Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

Caso o estimado leitor queira montar um negócio e lhe falte poupança para dar a largada, há duas maneiras de levantar os recursos faltantes:

1) Você chega para um grupo de pessoas e diz: “Oi, pessoal, vamos nos juntar? Cada um põe uma grana e montamos uma sociedade para produzir... lapiseiras! Se der lucro, repartimos; se não, todos perdemos um pouco do nosso capital”;

2) Você emite um título com promessa de repagar no futuro em troca de dinheiro vivo hoje, e se compromete a repagar o principal com juros daqui a um certo tempo independentemente da sua condição lá na frente – nesse modelo você não tem mais sócios, mas, sim, credores.

Qual a diferença concreta entre essas alternativas?

Dividendos só são pagos se há lucro. Mas, se você não paga uma dívida, o credor vem atrás de você e dos seus ativos – aliás, essa é a natureza de um contrato de dívida: você tem que repagar qualquer que seja a contingência. Por isso, financiar-se com capital ajuda em momentos ruins: você não precisa desembolsar nada em tempos de vacas magras, o que ajuda na absorção de choques. Já a vantagem da dívida é que, em tempos bons, você não precisa compartilhar a fartura com os outros: o juro da dívida é fixo, não cresce só quando seu negócio vai melhor – em bom português: a vaca gorda fica todinha para você.

No início do século 20, 30% dos ativos de um banco típico eram financiados por capital próprio. Cem anos depois, muitas instituições financeiras possuíam – ali na véspera da crise financeira – menos que 3% de capital próprio (não no Brasil, afortunadamente). Com capital reduzido e dívida abundante, o sistema estava tão sólido quanto um castelo de areia à beira mar.

Vamos ilustrar essa história com uns números?

No dia 1º de abril, fundava-se o hoje famoso Banco RC, da dupla de economistas Rodrigues-Carvalho, os quais aportaram 5 milhões de reais de capital próprio para o empreendimento.

Adicionalmente, o banco decide emitir CDBs no valor total de 95 milhões. Com 100 milhas no caixa, RC vai em busca de projetos para financiar: empresta tanto para empresas querendo investir (que oferecem suas máquinas como garantia) como para famílias em busca do sonho da casa própria (a própria casa é o colateral).

Mas o macro otimismo que levara à fundação do RC não se concretiza: Pindorama passa por uma desaceleração do crescimento por causa de problemas externos e da má política econômica doméstica. Há aumento do desemprego e queda nas vendas das empresas dos mais variados setores. Isso significa que os ativos do RC – os empréstimos que ele fez – caem de valor. As empresas em dificuldade repagam apenas parte da dívida e as pessoas desempregadas param de repagar a prestação da casa. Em termos de números, digamos que essas dificuldades somadas sejam equivalentes a uma perda de 10% do valor dos ativos do banco, ou seja, 10 milhões de reais.

Quem comprou o CDB banco a essa altura já está para arrancar os cabelos: o banco tem que repagar 95 milhões em dívidas, mas só tem 90 milhões em ativos. E agora? E agora a conta não fecha e o melhor a fazer é correr para estar na frente da fila! Mas com todo mundo pensando assim, está instalada a confusão. E a crise se amplifica.

Mas vamos brincar de economista e aumentar o capital próprio do banco. Rodrigues e Carvalho, nessa nova versão da história, aportam 15 milhões em vez de 5 milhões. Isso significa que a dívida do banco com terceiros é agora menor, no montante de 85 milhões. A crise é a mesma: ela derruba o valor dos ativos em 10%. Porém, os 90 milhões restantes são mais do que suficientes para honrar a dívida com terceiros (os CDBs), no valor de 85 milhões. Assim, as pessoas não saem correndo desesperadas para sacar seu dinheiro. Ou seja, a crise NÃO se amplifica.

Essa explicação do fenômeno das crises bancárias está bem esquematizada, mas a ideia básica segue válida em modelos mais complexos: numa economia em que os bancos apresentam pouco capital próprio, o risco de uma crise econômica virar uma crise financeira (com impactos devastadores sobre a economia) é maior.

A essa altura, nossos 300 mil leitores podem se perguntar: mas o banco não teme essa quebra? A resposta é: não no grau que deveria temer se Rodrigues e Carvalho imaginam que o governo de Pindorama poderá vir em seu socorro na hora do aperto (e o governo tem todo incentivo a fazer isso para evitar o caos que se segue a uma quebradeira bancária). Eles jogam o jogo de quanto mais dívida melhor: em tempos de vacas gordas, eles ficam com os ganhos extras e pagam aos credores um mirrado juro fixo. No tempo de vacas magras, pedem para e contam com o governo para pagar os credores e evitar o pânico.

Com uma lei que exija mais capital próprio para cada empréstimo feito pelo banco, crises são menos frequentes. Até porque, tendo algo a perder, Rodrigues e Carvalho vão analisar com mais cuidado para quem emprestar.

Resumindo, o melhor antídoto anticrise não é regulamentar excessivamente as atividades dos bancos, mas, sim, exigir que os sócios usem mais capital e menos dívida para se financiar.

Qual o melhor antídoto contra crises bancárias?

Caso o estimado leitor queira montar um negócio e lhe falte poupança para dar a largada, há duas maneiras de levantar os recursos faltantes:

1) Você chega para um grupo de pessoas e diz: “Oi, pessoal, vamos nos juntar? Cada um põe uma grana e montamos uma sociedade para produzir... lapiseiras! Se der lucro, repartimos; se não, todos perdemos um pouco do nosso capital”;

2) Você emite um título com promessa de repagar no futuro em troca de dinheiro vivo hoje, e se compromete a repagar o principal com juros daqui a um certo tempo independentemente da sua condição lá na frente – nesse modelo você não tem mais sócios, mas, sim, credores.

Qual a diferença concreta entre essas alternativas?

Dividendos só são pagos se há lucro. Mas, se você não paga uma dívida, o credor vem atrás de você e dos seus ativos – aliás, essa é a natureza de um contrato de dívida: você tem que repagar qualquer que seja a contingência. Por isso, financiar-se com capital ajuda em momentos ruins: você não precisa desembolsar nada em tempos de vacas magras, o que ajuda na absorção de choques. Já a vantagem da dívida é que, em tempos bons, você não precisa compartilhar a fartura com os outros: o juro da dívida é fixo, não cresce só quando seu negócio vai melhor – em bom português: a vaca gorda fica todinha para você.

No início do século 20, 30% dos ativos de um banco típico eram financiados por capital próprio. Cem anos depois, muitas instituições financeiras possuíam – ali na véspera da crise financeira – menos que 3% de capital próprio (não no Brasil, afortunadamente). Com capital reduzido e dívida abundante, o sistema estava tão sólido quanto um castelo de areia à beira mar.

Vamos ilustrar essa história com uns números?

No dia 1º de abril, fundava-se o hoje famoso Banco RC, da dupla de economistas Rodrigues-Carvalho, os quais aportaram 5 milhões de reais de capital próprio para o empreendimento.

Adicionalmente, o banco decide emitir CDBs no valor total de 95 milhões. Com 100 milhas no caixa, RC vai em busca de projetos para financiar: empresta tanto para empresas querendo investir (que oferecem suas máquinas como garantia) como para famílias em busca do sonho da casa própria (a própria casa é o colateral).

Mas o macro otimismo que levara à fundação do RC não se concretiza: Pindorama passa por uma desaceleração do crescimento por causa de problemas externos e da má política econômica doméstica. Há aumento do desemprego e queda nas vendas das empresas dos mais variados setores. Isso significa que os ativos do RC – os empréstimos que ele fez – caem de valor. As empresas em dificuldade repagam apenas parte da dívida e as pessoas desempregadas param de repagar a prestação da casa. Em termos de números, digamos que essas dificuldades somadas sejam equivalentes a uma perda de 10% do valor dos ativos do banco, ou seja, 10 milhões de reais.

Quem comprou o CDB banco a essa altura já está para arrancar os cabelos: o banco tem que repagar 95 milhões em dívidas, mas só tem 90 milhões em ativos. E agora? E agora a conta não fecha e o melhor a fazer é correr para estar na frente da fila! Mas com todo mundo pensando assim, está instalada a confusão. E a crise se amplifica.

Mas vamos brincar de economista e aumentar o capital próprio do banco. Rodrigues e Carvalho, nessa nova versão da história, aportam 15 milhões em vez de 5 milhões. Isso significa que a dívida do banco com terceiros é agora menor, no montante de 85 milhões. A crise é a mesma: ela derruba o valor dos ativos em 10%. Porém, os 90 milhões restantes são mais do que suficientes para honrar a dívida com terceiros (os CDBs), no valor de 85 milhões. Assim, as pessoas não saem correndo desesperadas para sacar seu dinheiro. Ou seja, a crise NÃO se amplifica.

Essa explicação do fenômeno das crises bancárias está bem esquematizada, mas a ideia básica segue válida em modelos mais complexos: numa economia em que os bancos apresentam pouco capital próprio, o risco de uma crise econômica virar uma crise financeira (com impactos devastadores sobre a economia) é maior.

A essa altura, nossos 300 mil leitores podem se perguntar: mas o banco não teme essa quebra? A resposta é: não no grau que deveria temer se Rodrigues e Carvalho imaginam que o governo de Pindorama poderá vir em seu socorro na hora do aperto (e o governo tem todo incentivo a fazer isso para evitar o caos que se segue a uma quebradeira bancária). Eles jogam o jogo de quanto mais dívida melhor: em tempos de vacas gordas, eles ficam com os ganhos extras e pagam aos credores um mirrado juro fixo. No tempo de vacas magras, pedem para e contam com o governo para pagar os credores e evitar o pânico.

Com uma lei que exija mais capital próprio para cada empréstimo feito pelo banco, crises são menos frequentes. Até porque, tendo algo a perder, Rodrigues e Carvalho vão analisar com mais cuidado para quem emprestar.

Resumindo, o melhor antídoto anticrise não é regulamentar excessivamente as atividades dos bancos, mas, sim, exigir que os sócios usem mais capital e menos dívida para se financiar.
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