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																																			O recém-publicado relatório Stockholm +50 apresenta evidências claras de que vivemos uma crise sistêmica: planetária e humanitária. Segundo o relatório, desde 1972, somente 10% das centenas de metas de desenvolvimento sustentável foram atingidas ou apresentaram algum progresso.

Na mesma linha, o relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2019 mostra que as tendências recentes de emissões e o nível de ambição internacional indicado pelas contribuições nacionalmente determinadas (NDC) dentro do Acordo de Paris não são consistentes com o plano de limitar o aquecimento global em menos de 2°C. Neste momento, a temperatura média global anual é cerca de 1°C mais quente que os níveis pré-industriais.

Esse aumento da temperatura tem causado fenômenos extremos em diferentes partes do planeta, como diminuição de produtividade na agricultura, aumento do nível do mar, perda de biodiversidade, alteração do regime de chuvas e disponibilidade de água; e aumento de enchentes e inundações em centros urbanos. Os impactos socioeconômicos relacionados a fome, pobreza, aumento de desigualdade, falta de saúde, entre tantos outros, são devastadores. Mais de 1 milhão de pessoas que viviam em regiões costeiras foram forçadas a deixar suas casas dado o aumento do nível do mar e as tempestades. Um estudo do Banco Mundial estima que cerca de 17 milhões de migrantes climáticos sairão da América Latina até 2050 para fugir de eventos climáticos extremos.

Associada às crises planetária e humanitária, a crise econômica instalada no mundo após a Covid-19 só reforçou a certeza de que a retomada econômica não poderia ser fundamentada no “business-as-usual” e nos combustíveis fósseis.

A retomada econômica verde tem sido considerada a única solução possível para reverter as mudanças no clima e nos ecossistemas, bem como os impactos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas. O grande desafio não se relaciona a conhecimento, tecnologia, políticas ou aspirações. Sabemos o que precisa ser feito, mas precisamos agir.

Nesse contexto, as organizações podem ser vistas como causas e soluções na busca pela sustentabilidade na retomada econômica. A urgência requer ação, mas como agir? Várias empresas, especialmente as pequenas e médias, têm “patinado” na definição do processo de integração da sustentabilidade na estratégia.

No contexto organizacional um bom ponto de partida é o desenvolvimento de um diagnóstico sistêmico dos impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela empresa em toda sua cadeia de valor. Um diagnóstico sistêmico também considera as diferentes percepções dos stakeholders e a realidade do entorno. Afinal, nenhuma empresa vai bem consistentemente e de forma perene em um país que vai mal. Também é necessário avaliar as regulações, os padrões setoriais e as melhores práticas. Depois, desenvolver uma análise de riscos e oportunidades e integrar as estratégias de sustentabilidade às estratégias dos negócios.

Mas o que são as estratégias orientadas à sustentabilidade? São as escolhas das empresas que visam criar valor compartilhado considerando o longo prazo e fatores ecológicos, sociais e econômicos – internos e externos. A integração das questões de sustentabilidade na estratégia de negócios não é algo novo. Em um artigo recente sobre o tema, constatamos que isso começou a acontecer à medida que a concorrência global aumentava na década de 1990, quando o capitalismo estava sendo redefinido como capaz de atender às necessidades do mundo. A sustentabilidade também passou a ser vista como uma estratégia compatível com eficiência de recursos, imagem e criação de valor. Nos anos 2000, já se falava que os problemas ambientais e sociais seriam os principais motivadores para as inovações organizacionais.

São inúmeras possibilidades, mas agregadamente é possível identificar quatro grandes grupos de estratégias que geram valor compartilhado: estratégias de combate à poluição, estratégias de gerenciamento de ciclo de vida de produto e serviço, estratégias de inovação verde e estratégias de visão de sustentabilidade. O pressuposto é que essas estratégias sejam consideradas em conjunto, funcionem como um portfólio. Esse modelo de geração de valor sustentável foi desenvolvido pelos professores Stuart Hart e Mark Milstein em 2003 e tem inspirado tanto acadêmicos como gestores no avanço da agenda de sustentabilidade. Segundo os proponentes do modelo, tais estratégias e práticas têm o potencial de reduzir custos e riscos, melhorar a reputação e a legitimidade da empresa, acelerar a inovação, a diversificação e o reposicionamento, bem como cristalizar caminhos e trajetórias de crescimento. Enfim, todos “pay-offs” de vital importância para a criação e distribuição de valor para os diversos stakeholders organizacionais.

Não há dúvida: à medida que as economias se reorganizam, devemos garantir que as empresas desenvolvam estratégias de longo prazo que sejam mais verdes, resilientes e mais inclusivas. Para tanto, tomadores de decisão devem reconhecer seu papel essencial nessa agenda, afinal, as decisões são tomadas pelos indivíduos. Por isso, a importância do desenvolvimento de competências orientadas à sustentabilidade. Mas esse é um tema para outro texto.


Priscila Borin Claro é professora associada e líder do Núcleo de Sustentabilidade e Negócios do Insper. É mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de Wageningen (WUR) e doutora em Administração e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Lavras.

Retomada Econômica Verde
Promovido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, Insper, Por Quê? e Arq.Futuro, com apoio do Itaú Unibanco, o ciclo “Retomada Econômica Verde” traz a sustentabilidade ao centro do debate público

Esta iniciativa busca trazer ao conhecimento da sociedade brasileira os caminhos que têm sido adotados em quatro países (Chile, EUA, China e França) para promover a transição para uma economia carbono neutra em sua estratégia de desenvolvimento.

Acompanhe pelo site www.retomadaverde.com.br ou nas redes do Por Quê?

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Retomada econômica verde e o papel das empresas

O recém-publicado relatório Stockholm +50 apresenta evidências claras de que vivemos uma crise sistêmica: planetária e humanitária. Segundo o relatório, desde 1972, somente 10% das centenas de metas de desenvolvimento sustentável foram atingidas ou apresentaram algum progresso.

Na mesma linha, o relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2019 mostra que as tendências recentes de emissões e o nível de ambição internacional indicado pelas contribuições nacionalmente determinadas (NDC) dentro do Acordo de Paris não são consistentes com o plano de limitar o aquecimento global em menos de 2°C. Neste momento, a temperatura média global anual é cerca de 1°C mais quente que os níveis pré-industriais.

Esse aumento da temperatura tem causado fenômenos extremos em diferentes partes do planeta, como diminuição de produtividade na agricultura, aumento do nível do mar, perda de biodiversidade, alteração do regime de chuvas e disponibilidade de água; e aumento de enchentes e inundações em centros urbanos. Os impactos socioeconômicos relacionados a fome, pobreza, aumento de desigualdade, falta de saúde, entre tantos outros, são devastadores. Mais de 1 milhão de pessoas que viviam em regiões costeiras foram forçadas a deixar suas casas dado o aumento do nível do mar e as tempestades. Um estudo do Banco Mundial estima que cerca de 17 milhões de migrantes climáticos sairão da América Latina até 2050 para fugir de eventos climáticos extremos.

Associada às crises planetária e humanitária, a crise econômica instalada no mundo após a Covid-19 só reforçou a certeza de que a retomada econômica não poderia ser fundamentada no “business-as-usual” e nos combustíveis fósseis.

A retomada econômica verde tem sido considerada a única solução possível para reverter as mudanças no clima e nos ecossistemas, bem como os impactos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas. O grande desafio não se relaciona a conhecimento, tecnologia, políticas ou aspirações. Sabemos o que precisa ser feito, mas precisamos agir.

Nesse contexto, as organizações podem ser vistas como causas e soluções na busca pela sustentabilidade na retomada econômica. A urgência requer ação, mas como agir? Várias empresas, especialmente as pequenas e médias, têm “patinado” na definição do processo de integração da sustentabilidade na estratégia.

No contexto organizacional um bom ponto de partida é o desenvolvimento de um diagnóstico sistêmico dos impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela empresa em toda sua cadeia de valor. Um diagnóstico sistêmico também considera as diferentes percepções dos stakeholders e a realidade do entorno. Afinal, nenhuma empresa vai bem consistentemente e de forma perene em um país que vai mal. Também é necessário avaliar as regulações, os padrões setoriais e as melhores práticas. Depois, desenvolver uma análise de riscos e oportunidades e integrar as estratégias de sustentabilidade às estratégias dos negócios.

Mas o que são as estratégias orientadas à sustentabilidade? São as escolhas das empresas que visam criar valor compartilhado considerando o longo prazo e fatores ecológicos, sociais e econômicos – internos e externos. A integração das questões de sustentabilidade na estratégia de negócios não é algo novo. Em um artigo recente sobre o tema, constatamos que isso começou a acontecer à medida que a concorrência global aumentava na década de 1990, quando o capitalismo estava sendo redefinido como capaz de atender às necessidades do mundo. A sustentabilidade também passou a ser vista como uma estratégia compatível com eficiência de recursos, imagem e criação de valor. Nos anos 2000, já se falava que os problemas ambientais e sociais seriam os principais motivadores para as inovações organizacionais.

São inúmeras possibilidades, mas agregadamente é possível identificar quatro grandes grupos de estratégias que geram valor compartilhado: estratégias de combate à poluição, estratégias de gerenciamento de ciclo de vida de produto e serviço, estratégias de inovação verde e estratégias de visão de sustentabilidade. O pressuposto é que essas estratégias sejam consideradas em conjunto, funcionem como um portfólio. Esse modelo de geração de valor sustentável foi desenvolvido pelos professores Stuart Hart e Mark Milstein em 2003 e tem inspirado tanto acadêmicos como gestores no avanço da agenda de sustentabilidade. Segundo os proponentes do modelo, tais estratégias e práticas têm o potencial de reduzir custos e riscos, melhorar a reputação e a legitimidade da empresa, acelerar a inovação, a diversificação e o reposicionamento, bem como cristalizar caminhos e trajetórias de crescimento. Enfim, todos “pay-offs” de vital importância para a criação e distribuição de valor para os diversos stakeholders organizacionais.

Não há dúvida: à medida que as economias se reorganizam, devemos garantir que as empresas desenvolvam estratégias de longo prazo que sejam mais verdes, resilientes e mais inclusivas. Para tanto, tomadores de decisão devem reconhecer seu papel essencial nessa agenda, afinal, as decisões são tomadas pelos indivíduos. Por isso, a importância do desenvolvimento de competências orientadas à sustentabilidade. Mas esse é um tema para outro texto.


Priscila Borin Claro é professora associada e líder do Núcleo de Sustentabilidade e Negócios do Insper. É mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de Wageningen (WUR) e doutora em Administração e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Lavras.

Retomada Econômica Verde
Promovido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, Insper, Por Quê? e Arq.Futuro, com apoio do Itaú Unibanco, o ciclo “Retomada Econômica Verde” traz a sustentabilidade ao centro do debate público

Esta iniciativa busca trazer ao conhecimento da sociedade brasileira os caminhos que têm sido adotados em quatro países (Chile, EUA, China e França) para promover a transição para uma economia carbono neutra em sua estratégia de desenvolvimento.

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