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Tite, enfim, assumiu a seleção brasileira de futebol. É praticamente consenso, há muito tempo, que é o melhor técnico no Brasil, o mais preparado. Mesmo assim, foi preterido pela CBF após o inesquecível 7 a 1 de 2014. Dunga voltou ao comando no lugar de Felipão e o resultado todos nós sabemos bem.

De lá para cá, com a seleção indo mal, a imprensa noticia que Tite teria recebido sondagens para substituir Dunga e que as rejeitou. Nos bastidores, fala-se, o motivo seria a sua antipatia por Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF – investigado pelo FBI, polícia federal dos EUA, por suposto envolvimento em casos de corrupção que já levaram alguns cartolas para a cadeia.

Não faz muito tempo, Tite assinou um documento – ao lado de várias outras personalidades do esporte – pedindo a saída do pessoal que comanda o futebol brasileiro. Agora, mesmo com a turma que ele não queria ainda lá dentro, Tite aceita a empreitada: terá pela frente o pior momento da história do futebol brasileiro.

Repare só: Marco Polo del Nero e sua gangue continuam no poder. E Tite aceitou trabalhar com essa gente mesmo depois de ter pedido as suas cabeças.

Mas por que agora Tite disse “sim”, se queria Del Nero fora da CBF?

Vamos usar um pouco de teoria econômica para tentar entender a decisão.

Em uma negociação, em geral, leva vantagem quem tem mais poder de barganha. Suponha, por exemplo, que você queira vender seu carro por precisar desesperadamente de dinheiro. E digamos que o valor mínimo que você aceite receber seja R$ 20 mil. Daí você conhece alguém que tope pagar, no máximo, R$ 30 mil por um veículo feito o seu.

Você tem urgência e pouquíssimas condições de procurar por ofertas melhores, certo? Logo, é bem provável que tente fechar o negócio o quanto antes.

Já a outra ponta, o comprador, não tem tanta pressa assim... Se você não aceitar de uma vez o que ele oferecer, quem sabe ele procure outro vendedor! Você não quer isso! Precisa da grana o quanto antes!

A necessidade faria, numa situação dessas, você ter muito pouco poder de barganha na negociação. Seria mais provável que o valor final, portanto, se aproximasse mais do mínimo exigido por você (R$ 20 mil) do que do máximo oferecido pelo potencial comprador (R$ 30 mil).

E o que isso tem a ver com Tite e a CBF?

Com a eliminação precoce na Copa América Centenário, na primeira fase, aumentou a percepção de que o Brasil pode ficar de fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez na história – especialmente, caso Dunga continuasse no comando.

Até hoje, somos a única equipe a participar de todos os torneios promovidos. Nas atuais Eliminatórias, no entanto, sob a batuta de Dunga, após seis jogos e com um aproveitamento de apenas 50% dos pontos disputados, estamos abaixo da zona de classificação.

Deve é ter batido o desespero nos dirigentes da CBF. Tinham de mudar de qualquer forma o comando da seleção, o quanto antes. E as opções no mercado não são muitas. Tite era a certamente a melhor delas. Em outras palavras: o poder de barganha da CBF virou pó.

Nestes termos, Tite entra fortalecido para negociar com os caciques do futebol brasileiro. Pode vir a pedir uma série de condições que a CBF será praticamente forçada a aceitar. Por exemplo, ele já teve a liberdade de escolher toda a comissão técnica. A CBF, inclusive, terá de gastar mais grana do que pretendia para acomodar essa exigência. É de se esperar também que Tite tenha demandado estabilidade e que não sofra interferências dos dirigentes no trabalho.

Por isso tudo, faz sentido Tite aceitar o convite só agora e não antes. Mesmo que tenha de trabalhar com as mesmíssimas pessoas que criticou em passado recente, poderá se valer de poder de barganha suficiente para ter condições de trabalho que resultem em bons resultados. Suas exigências, muito provavelmente, não seriam aceitas pela CBF em outros carnavais.

Se Tite não engole a CBF, por que vai pra seleção?

Tite, enfim, assumiu a seleção brasileira de futebol. É praticamente consenso, há muito tempo, que é o melhor técnico no Brasil, o mais preparado. Mesmo assim, foi preterido pela CBF após o inesquecível 7 a 1 de 2014. Dunga voltou ao comando no lugar de Felipão e o resultado todos nós sabemos bem. De lá para cá, com a seleção indo mal, a imprensa noticia que Tite teria recebido sondagens para substituir Dunga e que as rejeitou. Nos bastidores, fala-se, o motivo seria a sua antipatia por Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF – investigado pelo FBI, polícia federal dos EUA, por suposto envolvimento em casos de corrupção que já levaram alguns cartolas para a cadeia. Não faz muito tempo, Tite assinou um documento – ao lado de várias outras personalidades do esporte – pedindo a saída do pessoal que comanda o futebol brasileiro. Agora, mesmo com a turma que ele não queria ainda lá dentro, Tite aceita a empreitada: terá pela frente o pior momento da história do futebol brasileiro. Repare só: Marco Polo del Nero e sua gangue continuam no poder. E Tite aceitou trabalhar com essa gente mesmo depois de ter pedido as suas cabeças. Mas por que agora Tite disse “sim”, se queria Del Nero fora da CBF? Vamos usar um pouco de teoria econômica para tentar entender a decisão. Em uma negociação, em geral, leva vantagem quem tem mais poder de barganha. Suponha, por exemplo, que você queira vender seu carro por precisar desesperadamente de dinheiro. E digamos que o valor mínimo que você aceite receber seja R$ 20 mil. Daí você conhece alguém que tope pagar, no máximo, R$ 30 mil por um veículo feito o seu. Você tem urgência e pouquíssimas condições de procurar por ofertas melhores, certo? Logo, é bem provável que tente fechar o negócio o quanto antes. Já a outra ponta, o comprador, não tem tanta pressa assim... Se você não aceitar de uma vez o que ele oferecer, quem sabe ele procure outro vendedor! Você não quer isso! Precisa da grana o quanto antes! A necessidade faria, numa situação dessas, você ter muito pouco poder de barganha na negociação. Seria mais provável que o valor final, portanto, se aproximasse mais do mínimo exigido por você (R$ 20 mil) do que do máximo oferecido pelo potencial comprador (R$ 30 mil). E o que isso tem a ver com Tite e a CBF? Com a eliminação precoce na Copa América Centenário, na primeira fase, aumentou a percepção de que o Brasil pode ficar de fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez na história – especialmente, caso Dunga continuasse no comando. Até hoje, somos a única equipe a participar de todos os torneios promovidos. Nas atuais Eliminatórias, no entanto, sob a batuta de Dunga, após seis jogos e com um aproveitamento de apenas 50% dos pontos disputados, estamos abaixo da zona de classificação. Deve é ter batido o desespero nos dirigentes da CBF. Tinham de mudar de qualquer forma o comando da seleção, o quanto antes. E as opções no mercado não são muitas. Tite era a certamente a melhor delas. Em outras palavras: o poder de barganha da CBF virou pó. Nestes termos, Tite entra fortalecido para negociar com os caciques do futebol brasileiro. Pode vir a pedir uma série de condições que a CBF será praticamente forçada a aceitar. Por exemplo, ele já teve a liberdade de escolher toda a comissão técnica. A CBF, inclusive, terá de gastar mais grana do que pretendia para acomodar essa exigência. É de se esperar também que Tite tenha demandado estabilidade e que não sofra interferências dos dirigentes no trabalho. Por isso tudo, faz sentido Tite aceitar o convite só agora e não antes. Mesmo que tenha de trabalhar com as mesmíssimas pessoas que criticou em passado recente, poderá se valer de poder de barganha suficiente para ter condições de trabalho que resultem em bons resultados. Suas exigências, muito provavelmente, não seriam aceitas pela CBF em outros carnavais.
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