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A proposta da Prefeitura de São Paulo de reformulação do sistema de ônibus urbano ainda não é de todo conhecida. Nessas condições, qualquer previsão sobre seus efeitos é infrutífera. Mas duas coisas já podem ser adiantadas: (1) é uma tarefa extremamente complexa, se pensarmos no imenso número de linhas de ônibus que atendem milhões de usuários todos os dias; e (2), por isso, as consequências práticas da medida são inesperadas.

Mas um fato foi noticiado: a reforma reduzirá o número de ônibus em circulação. O impacto da decisão foi negativo. Afinal, menos ônibus tendem a gerar maior lotação e desconforto para os usuários de transporte público.

E para os motoristas de carro?

Um dos argumentos para retirar alguns ônibus do tráfego é descongestionar ruas e avenidas – ônibus são grandes e ocupam bastante espaço, além de serem barulhentos e soltarem fumaça.

Suponha, então, os efeitos da decisão na Avenida Paulista. Guardar ônibus nas garagens fará com que caia o tamanho do congestionamento nessa via?

Para responder essa pergunta, simplifiquemos o problema.

Considere que para ir de uma ponta à outra da Paulista podemos usar ela própria ou as seguintes alternativas: Rua São Carlos do Pinhal ou Alameda Santos (dependendo do sentido). Vamos ignorar todas as outras opções.

Economistas chamam essas simplificações de “modelos econômicos”, usados para entendermos com mais clareza o funcionamento da economia.

Quando o número de ônibus na Paulista é reduzido, sobra mais espaço para automóveis. Com mais trajeto livre, carros viajam mais rápidos, com menos paradas, e o tempo da jornada diminui – o que todo mundo gosta. Mas nada muda nas rotas alternativas. Elas demoram o mesmo tempo de antes. Os motoristas que trafegam por elas, reconhecendo que o trânsito na Paulista flua bem (o aplicativo Wase, por sinal, faz isso com competência), desviarão para lá.

Quantos motoristas desviarão para a Paulista? Se muitos tomarem essa decisão, o trânsito na Paulista piora novamente. Quem sabe, fique até pior do que era...

Na resposta para a pergunta sobre os efeitos da medida na Paulista está a chave para entender como funciona a cabeça dos motoristas e de todo o sistema de trânsito.

Falar que o tempo gasto no trânsito diminui e que todos gostam disso é uma afirmação menos inofensiva do que parece. É razoável imaginar que os motoristas sempre tentem minimizar o tempo preso em seus carros. Logo, eles vão sempre procurar caminhos mais rápidos.

Mas quantos desviam para a Paulista?

Após a retirada dos ônibus, motoristas escolherão a avenida até que o tempo de viagem por lá suba – devido ao aumento do número de carros – e fique igual ao das ruas alternativas. A partir daí, motoristas perdem o incentivo para alterar seu trajeto para a Paulista. E o sistema, enfim, se equilibra.

Isso não acontece só na Paulista e em ruas paralelas, mas em qualquer via alternativa que ligue dois pontos de uma cidade congestionada. Pronto. Temos aí uma lei geral sobre o trânsito. Economistas chamam isso de teorema.

O teorema aqui é: se houver congestionamento, caminhos alternativos ligando os mesmos dois pontos levarão o mesmo tempo para serem percorridos.

Você até pode retrucar:

 Ah, mas nem sempre diferentes caminhos nos tomam o mesmo tempo no trânsito!

Sim, é verdade. E isso ocorre, principalmente, por causa de eventos inesperados, como acidentes. Com o passar do tempo, o trajeto entre os dois caminhos tendem a durar o mesmo período.

Então a reposta para a pergunta inicial, se o trânsito na Paulista irá melhorar com a retirada de algumas linhas de ônibus, é negativa: não, não vai melhorar.

Por Rodrigo Moita, professor do Insper

VEJA TAMBÉM

Por que menos ônibus não significa menos trânsito?

A proposta da Prefeitura de São Paulo de reformulação do sistema de ônibus urbano ainda não é de todo conhecida. Nessas condições, qualquer previsão sobre seus efeitos é infrutífera. Mas duas coisas já podem ser adiantadas: (1) é uma tarefa extremamente complexa, se pensarmos no imenso número de linhas de ônibus que atendem milhões de usuários todos os dias; e (2), por isso, as consequências práticas da medida são inesperadas. Mas um fato foi noticiado: a reforma reduzirá o número de ônibus em circulação. O impacto da decisão foi negativo. Afinal, menos ônibus tendem a gerar maior lotação e desconforto para os usuários de transporte público. E para os motoristas de carro? Um dos argumentos para retirar alguns ônibus do tráfego é descongestionar ruas e avenidas – ônibus são grandes e ocupam bastante espaço, além de serem barulhentos e soltarem fumaça. Suponha, então, os efeitos da decisão na Avenida Paulista. Guardar ônibus nas garagens fará com que caia o tamanho do congestionamento nessa via? Para responder essa pergunta, simplifiquemos o problema. Considere que para ir de uma ponta à outra da Paulista podemos usar ela própria ou as seguintes alternativas: Rua São Carlos do Pinhal ou Alameda Santos (dependendo do sentido). Vamos ignorar todas as outras opções. Economistas chamam essas simplificações de “modelos econômicos”, usados para entendermos com mais clareza o funcionamento da economia. Quando o número de ônibus na Paulista é reduzido, sobra mais espaço para automóveis. Com mais trajeto livre, carros viajam mais rápidos, com menos paradas, e o tempo da jornada diminui – o que todo mundo gosta. Mas nada muda nas rotas alternativas. Elas demoram o mesmo tempo de antes. Os motoristas que trafegam por elas, reconhecendo que o trânsito na Paulista flua bem (o aplicativo Wase, por sinal, faz isso com competência), desviarão para lá. Quantos motoristas desviarão para a Paulista? Se muitos tomarem essa decisão, o trânsito na Paulista piora novamente. Quem sabe, fique até pior do que era... Na resposta para a pergunta sobre os efeitos da medida na Paulista está a chave para entender como funciona a cabeça dos motoristas e de todo o sistema de trânsito. Falar que o tempo gasto no trânsito diminui e que todos gostam disso é uma afirmação menos inofensiva do que parece. É razoável imaginar que os motoristas sempre tentem minimizar o tempo preso em seus carros. Logo, eles vão sempre procurar caminhos mais rápidos. Mas quantos desviam para a Paulista? Após a retirada dos ônibus, motoristas escolherão a avenida até que o tempo de viagem por lá suba – devido ao aumento do número de carros – e fique igual ao das ruas alternativas. A partir daí, motoristas perdem o incentivo para alterar seu trajeto para a Paulista. E o sistema, enfim, se equilibra. Isso não acontece só na Paulista e em ruas paralelas, mas em qualquer via alternativa que ligue dois pontos de uma cidade congestionada. Pronto. Temos aí uma lei geral sobre o trânsito. Economistas chamam isso de teorema. O teorema aqui é: se houver congestionamento, caminhos alternativos ligando os mesmos dois pontos levarão o mesmo tempo para serem percorridos. Você até pode retrucar: — Ah, mas nem sempre diferentes caminhos nos tomam o mesmo tempo no trânsito! Sim, é verdade. E isso ocorre, principalmente, por causa de eventos inesperados, como acidentes. Com o passar do tempo, o trajeto entre os dois caminhos tendem a durar o mesmo período. Então a reposta para a pergunta inicial, se o trânsito na Paulista irá melhorar com a retirada de algumas linhas de ônibus, é negativa: não, não vai melhorar. Por Rodrigo Moita, professor do Insper VEJA TAMBÉM
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