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Equilíbrios múltiplos

A presença de equilíbrios múltiplos pode justificar a implantação de políticas destinadas a incentivar a indústria.

Mas o que é isso?

Trata-se de um caso específico de falha de mercado – o chamado problema de coordenação. Isso porque diversas atividades industriais apresentam ligações fortes entre si na cadeia produtiva; e as ações das empresas de um setor afetam decisivamente outras atividades econômicas (novamente, há externalidades positivas).

Digamos que um empresário do ramo automobilístico pense em instalar uma fábrica em determinado país. Mas ele só se instala lá se houver fábricas de autopeças (caso contrário, teria de trazer essas peças de fora, o que aumentaria proibitivamente seus custos). O fabricante de autopeças tem um problema parecido: ele só se instala se tiver uma fábrica de carros para comprar seu produto.

Aqui há dois equilíbrios: o equilíbrio superior, em que tanto a fábrica de automóveis como a de autopeças se instalam no país; e o equilíbrio inferior, em que ninguém se instala.

O país de fato pode ficar travado no equilíbrio inferior: a fábrica de automóveis não se instala porque acredita que não haverá autopeças para abastecê-la; e a fábrica de autopeças não se instala porque acredita que não haverá demanda para sua produção.

Nesse caso, os retornos social e privado de instalar as duas ao mesmo tempo são altos. Mas o retorno privado da ação isolada (construir uma fábrica sem que a outra esteja em pé) é baixo ou até negativo. Ou seja, temos uma diferença entre retorno social e privado, o que justificaria o uso de política industrial.

Com apenas uma fábrica de automóveis e uma fábrica de autopeças, a solução desse problema é relativamente trivial. Não há grandes dificuldades envolvidas na hipótese de essas duas fábricas entrarem no seguinte acordo: entrar juntas no país. A situação fica bem mais complicada, no entanto, quando a viabilidade da indústria no país depende da entrada simultânea de várias fábricas de autopeças e várias fábricas de automóveis (e potencialmente de outros setores interligados ao setor automobilístico). Qual a probabilidade de que tantas empresas diferentes, muitas das quais competindo umas com as outras, firmarem um acordo? É bastante difícil que isso aconteça.

Aqui entraria o Estado, atuando para coordenar as ações das empresas para que elas se instalem. Em outras palavras, ele dá um “empurrão” (big push), que poderia conduzir o país do equilíbrio inferior para o equilíbrio superior.  Esse “empurrão” pode ser dado com o uso de subsídios ao investimento (potencialmente substanciais para mover a economia do equilíbrio inferior para o superior); ou por investimento industrial pesado realizado pelo próprio governo.

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