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10704857 - blossom and coins in hand Ter acesso ao mercado de crédito é crucial para quem quer começar um negócio ou para enfrentar adversidades financeiras temporárias. O setor financeiro tradicional, porém, tende a não chegar aos indivíduos mais pobres.

Nas últimas décadas, no entanto, iniciativas de microcrédito proliferaram pelo mundo (especialmente nos países em desenvolvimento), possibilitando que diversas pessoas pudessem se conectar ao setor.

A teoria econômica nos dá pistas de por que o setor financeiro tradicional não consegue chegar aos mais pobres – e por que iniciativas de microcrédito podem ocupar esse espaço.

Suponha, por exemplo, um banco financiando um empreendedor que quer abrir seu negócio. Se ele tiver sucesso, fica com todo o lucro depois de repagar o empréstimo. Entretanto, diante de  um eventual fracasso, o indivíduo pode não honrar suas obrigações, compartilhando o prejuízo com a instituição financeira. Em outras palavras, o banco é sócio do empresário, mas apenas na situação de fracasso do empreendimento. Como o fracasso não é um cenário tão ruim assim para o empreendedor, ele não tem tanto incentivo a se esforçar para que seu negócio dê certo, elevando a chance de calote.

Para mitigar esse risco, o banco pode requerer que o empresário ofereça bens como garantia – por exemplo, um imóvel. Em caso de calote, a instituição tem a opção de tomar o ativo para si. Dessa forma, o fracasso passa a ser mais penoso para o empresário, que faz mais esforço para evitar essa situação. Isso eleva a probabilidade de que a empreitada dê certo. O banco também pode recorrer a monitoramento, com vistas a verificar se de fato o empresário está realizando ações que condizem com o sucesso do negócio – aumentando, assim, as chances de repagamento do empréstimo.

Tudo isso, contudo, conspira para deixar os clientes mais pobres de fora do sistema financeiro. Primeiro, eles têm menos bens que possam servir de garantia. Segundo, o monitoramento é custoso para o banco; para valer a pena, o empréstimo tem que ser suficientemente grande – o que acaba excluindo pequenos tomadores.

Nos últimos 40 anos, tivemos mudanças bastante relevantes nesse cenário. Como mencionamos, iniciativas de microcrédito, que dão acesso a empréstimos para clientes mais pobres, cresceram rapidamente.

A experiência mais famosa é a do Banco Grameen, de Bangladesh, iniciada nos anos 1970. Hoje o banco possui mais de 9 milhões de clientes, especializando-se na concessão de empréstimos de pequeno valor. O banco dá preferência a mulheres, de modo que cerca de 97% dos empréstimos estão no nome de pessoas do sexo feminino - clique aqui para ver o estudo.  O sucesso do Grameen foi tamanho que o banco e seu fundador, Muhammad Yunus, receberam o Prêmio Nobel da Paz em 2006 - mais aqui.

Programas de microcrédito se espalharam por países em desenvolvimento em todo o mundo. Estima-se que hoje atendam mais de 200 milhões de pessoas. Apesar de focarem em clientes muito pobres, suas taxas de inadimplência não são elevadas - veja o paper.

Um dos instrumentos utilizados por diversas instituições de microcrédito são os empréstimos em grupo, que substituem em parte a exigência de garantia e monitoramento empregados pelo setor financeiro tradicional. Essa inovação possibilita que o dinheiro chegue aos clientes mais pobres e, ainda assim, assegura uma taxa de repagamento alta.

Basicamente, um grupo de pessoas da mesma comunidade recebe empréstimos individuais. Mas, se algum desses pequenos tomadores tornar-se inadimplente, todos os outros indivíduos do grupo podem sofrer sanções – por exemplo, não terem seus empréstimos renovados. Isso cria uma pressão da própria comunidade para que os emprestadores façam esforço para que seus negócios tenham sucesso – diminuindo os riscos de calote. Afinal, se um indivíduo não repagar, seus amigos ou parentes podem ficar sem financiamento.

Os laços comunitários ainda podem servir como substituto para o monitoramento que a instituição financeira realiza para aumentar a chance de repagamento. No caso, o monitoramento pode ser feito (de maneira muito mais efetiva e menos custosa) pelos próprios membros da comunidade. Eles têm interesse em que os negócios prosperem – para garantir que o seu próprio financiamento não sofra interrupções por causa de um colega inadimplente.

O microcrédito, entretanto, não é uma solução milagrosa. É apenas um de vários instrumentos a serem considerados por formuladores de política econômica no combate à pobreza.

Pesquisas acadêmicas recentes não encontram impactos significativos sobre a renda das pessoas financiadas ou a lucratividade de seus negócios - clique e leia o estudo.

O microcrédito, porém, cumpre o importante papel de conectar pessoas mais pobres ao setor financeiro. Se não resolve o problema da pobreza, pelo menos possibilita que as subidas e descidas de renda não sejam tão custosas para esses indivíduos.

Por exemplo, o acesso ao mercado de crédito permite poupar nos tempos de vacas gordas e reduzir a penúria nos tempos de vacas magras. Ou tomar emprestado em uma adversidade temporária, repagando a dívida quando a situação se normalizar.  

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Como o microcrédito conecta os mais pobres ao sistema financeiro?

10704857 - blossom and coins in hand Ter acesso ao mercado de crédito é crucial para quem quer começar um negócio ou para enfrentar adversidades financeiras temporárias. O setor financeiro tradicional, porém, tende a não chegar aos indivíduos mais pobres.

Nas últimas décadas, no entanto, iniciativas de microcrédito proliferaram pelo mundo (especialmente nos países em desenvolvimento), possibilitando que diversas pessoas pudessem se conectar ao setor.

A teoria econômica nos dá pistas de por que o setor financeiro tradicional não consegue chegar aos mais pobres – e por que iniciativas de microcrédito podem ocupar esse espaço.

Suponha, por exemplo, um banco financiando um empreendedor que quer abrir seu negócio. Se ele tiver sucesso, fica com todo o lucro depois de repagar o empréstimo. Entretanto, diante de  um eventual fracasso, o indivíduo pode não honrar suas obrigações, compartilhando o prejuízo com a instituição financeira. Em outras palavras, o banco é sócio do empresário, mas apenas na situação de fracasso do empreendimento. Como o fracasso não é um cenário tão ruim assim para o empreendedor, ele não tem tanto incentivo a se esforçar para que seu negócio dê certo, elevando a chance de calote.

Para mitigar esse risco, o banco pode requerer que o empresário ofereça bens como garantia – por exemplo, um imóvel. Em caso de calote, a instituição tem a opção de tomar o ativo para si. Dessa forma, o fracasso passa a ser mais penoso para o empresário, que faz mais esforço para evitar essa situação. Isso eleva a probabilidade de que a empreitada dê certo. O banco também pode recorrer a monitoramento, com vistas a verificar se de fato o empresário está realizando ações que condizem com o sucesso do negócio – aumentando, assim, as chances de repagamento do empréstimo.

Tudo isso, contudo, conspira para deixar os clientes mais pobres de fora do sistema financeiro. Primeiro, eles têm menos bens que possam servir de garantia. Segundo, o monitoramento é custoso para o banco; para valer a pena, o empréstimo tem que ser suficientemente grande – o que acaba excluindo pequenos tomadores.

Nos últimos 40 anos, tivemos mudanças bastante relevantes nesse cenário. Como mencionamos, iniciativas de microcrédito, que dão acesso a empréstimos para clientes mais pobres, cresceram rapidamente.

A experiência mais famosa é a do Banco Grameen, de Bangladesh, iniciada nos anos 1970. Hoje o banco possui mais de 9 milhões de clientes, especializando-se na concessão de empréstimos de pequeno valor. O banco dá preferência a mulheres, de modo que cerca de 97% dos empréstimos estão no nome de pessoas do sexo feminino - clique aqui para ver o estudo.  O sucesso do Grameen foi tamanho que o banco e seu fundador, Muhammad Yunus, receberam o Prêmio Nobel da Paz em 2006 - mais aqui.

Programas de microcrédito se espalharam por países em desenvolvimento em todo o mundo. Estima-se que hoje atendam mais de 200 milhões de pessoas. Apesar de focarem em clientes muito pobres, suas taxas de inadimplência não são elevadas - veja o paper.

Um dos instrumentos utilizados por diversas instituições de microcrédito são os empréstimos em grupo, que substituem em parte a exigência de garantia e monitoramento empregados pelo setor financeiro tradicional. Essa inovação possibilita que o dinheiro chegue aos clientes mais pobres e, ainda assim, assegura uma taxa de repagamento alta.

Basicamente, um grupo de pessoas da mesma comunidade recebe empréstimos individuais. Mas, se algum desses pequenos tomadores tornar-se inadimplente, todos os outros indivíduos do grupo podem sofrer sanções – por exemplo, não terem seus empréstimos renovados. Isso cria uma pressão da própria comunidade para que os emprestadores façam esforço para que seus negócios tenham sucesso – diminuindo os riscos de calote. Afinal, se um indivíduo não repagar, seus amigos ou parentes podem ficar sem financiamento.

Os laços comunitários ainda podem servir como substituto para o monitoramento que a instituição financeira realiza para aumentar a chance de repagamento. No caso, o monitoramento pode ser feito (de maneira muito mais efetiva e menos custosa) pelos próprios membros da comunidade. Eles têm interesse em que os negócios prosperem – para garantir que o seu próprio financiamento não sofra interrupções por causa de um colega inadimplente.

O microcrédito, entretanto, não é uma solução milagrosa. É apenas um de vários instrumentos a serem considerados por formuladores de política econômica no combate à pobreza.

Pesquisas acadêmicas recentes não encontram impactos significativos sobre a renda das pessoas financiadas ou a lucratividade de seus negócios - clique e leia o estudo.

O microcrédito, porém, cumpre o importante papel de conectar pessoas mais pobres ao setor financeiro. Se não resolve o problema da pobreza, pelo menos possibilita que as subidas e descidas de renda não sejam tão custosas para esses indivíduos.

Por exemplo, o acesso ao mercado de crédito permite poupar nos tempos de vacas gordas e reduzir a penúria nos tempos de vacas magras. Ou tomar emprestado em uma adversidade temporária, repagando a dívida quando a situação se normalizar.  

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