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Na semana passada escrevi sobre as soluções financeiras milagrosas que surgem em tempos de crise. Falei, em particular, dos cursos que prometem dinheiro por meio do day trade na Bolsa de Valores, isto é, quando se inicia e se encerra uma operação no mesmo ativo e no mesmo dia. Mostrei também que, na prática, a grande maioria dos investidores que se aventuram no day trade perde dinheiro. Contra números não há argumentos.

Mas às vezes podemos argumentar contra a forma como são utilizados. No site da B3, outras estatísticas parecem mostrar que o day trade não é tão ruim assim. 

De acordo com a B3, a fração de pessoas que ganha dinheiro com day trade gira em torno de 60%. Os números são calculados para o horizonte de um mês e são baseados nas operações realizadas nos meses de abril, maio e junho de 2019.

Posso apresentar pelo menos três argumentos que explicam por que esse número pode ser enganoso. Primeiramente, ele desconsidera o “disposition effect”: a tendência dos investidores a não realizarem trades com prejuízo. O disposition effect é um dos vieses comportamentais mais robustos e documentados na literatura acadêmica. Aqui, ele faz com que o investidor não realize o day trade com prejuízo, mas apenas os que forem vencedores – quando o day trade vai resultar em prejuízo, o investidor prefere continuar com o papel e finalizar a operação outro dia – muitas vezes com um prejuízo maior ainda. O número correto tem que levar em conta todos os day trades, realizados e não realizados.

(No mercado futuro, por exemplo, o disposition effect não é um problema, uma vez que o investidor é obrigado a realizar o prejuízo por causa do ajuste diário. Não à toa, a fração de investidores que ganha nesse mercado é a mais baixa, de acordo com a própria B3.)

Em segundo lugar, o período de um mês não é suficiente para eliminar os trades que deram certo por sorte. Para inferir a habilidade de um investidor, é necessário acompanhá-lo por um período mais longo – no mínimo um ano.

Finalmente, é necessário levar em conta as despesas com corretagem, emolumentos e impostos. No caso do day trade a alíquota é ainda maior: 20% sobre os ganhos. 


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Contra números (não) há argumentos

Na semana passada escrevi sobre as soluções financeiras milagrosas que surgem em tempos de crise. Falei, em particular, dos cursos que prometem dinheiro por meio do day trade na Bolsa de Valores, isto é, quando se inicia e se encerra uma operação no mesmo ativo e no mesmo dia. Mostrei também que, na prática, a grande maioria dos investidores que se aventuram no day trade perde dinheiro. Contra números não há argumentos.

Mas às vezes podemos argumentar contra a forma como são utilizados. No site da B3, outras estatísticas parecem mostrar que o day trade não é tão ruim assim. 

De acordo com a B3, a fração de pessoas que ganha dinheiro com day trade gira em torno de 60%. Os números são calculados para o horizonte de um mês e são baseados nas operações realizadas nos meses de abril, maio e junho de 2019.

Posso apresentar pelo menos três argumentos que explicam por que esse número pode ser enganoso. Primeiramente, ele desconsidera o “disposition effect”: a tendência dos investidores a não realizarem trades com prejuízo. O disposition effect é um dos vieses comportamentais mais robustos e documentados na literatura acadêmica. Aqui, ele faz com que o investidor não realize o day trade com prejuízo, mas apenas os que forem vencedores – quando o day trade vai resultar em prejuízo, o investidor prefere continuar com o papel e finalizar a operação outro dia – muitas vezes com um prejuízo maior ainda. O número correto tem que levar em conta todos os day trades, realizados e não realizados.

(No mercado futuro, por exemplo, o disposition effect não é um problema, uma vez que o investidor é obrigado a realizar o prejuízo por causa do ajuste diário. Não à toa, a fração de investidores que ganha nesse mercado é a mais baixa, de acordo com a própria B3.)

Em segundo lugar, o período de um mês não é suficiente para eliminar os trades que deram certo por sorte. Para inferir a habilidade de um investidor, é necessário acompanhá-lo por um período mais longo – no mínimo um ano.

Finalmente, é necessário levar em conta as despesas com corretagem, emolumentos e impostos. No caso do day trade a alíquota é ainda maior: 20% sobre os ganhos. 


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