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game of trhones-revolução industrial

Mais uma temporada de Game of Thrones terminou, montando o palco para a Grande Guerra entre vivos e mortos marcada para 2018. A série tem uma legião de fãs ao redor do mundo, e economistas não estão imunes ao seu apelo. Há artigos muito interessantes discutindo por que algo como a Revolução Industrial não ocorreu em Westeros – continente fictício em que ocorre boa parte da ação na série.

Westeros é, em larga medida, baseado na Europa medieval. Grande parte da população é pobre; há imensa desigualdade, com poder e recursos concentrados nas mãos de poucas famílias nobres. Quase não se observam avanços tecnológicos. Na verdade há até sinais de regressão tecnológica. Por exemplo, a técnica de fabricar espadas com aço valiriano perdeu-se com o tempo, não sendo mais conhecida nos tempos atuais da série.

Porém, ao contrário do que aconteceu na Europa Ocidental, Westeros está dessa mesma forma há muitos séculos. Amostra disso é o castelo de Winterfell, construído cerca de 8.000 anos atrás: continua de pé e abrigando uma das principais casas nobres do reino (Stark).

Na Europa Ocidental, a Revolução Industrial ocorreu no final do século 18. Desde então o mundo se alterou muito rapidamente. Passamos a observar ganhos substanciais de padrão de vida, queda na pobreza, aumento de salários reais e diversidade de produtos, como nunca antes vivenciados na história da humanidade. Hoje o mundo é um lugar bastante desigual, mas muito melhor para se viver do que há 200 anos.

Tudo isso graças à aceleração impressionante do progresso tecnológico. Ele propicia ganhos de produtividade, isto é, que se produza cada vez mais com as mesmas quantidades de insumos (trabalho, capital, terra etc), o que permite que o bem-estar material médio das populações se expanda ao longo do tempo.

Mudanças tecnológicas também introduzem novos produtos, que aumentam nossa qualidade de vida. Eletricidade, trem, telefone, rádio, máquina de lavar, internet, aquecimento central, etc., etc., etc. Nada disso existia 200 anos atrás.

Na fictícia terra de Westeros, entretanto, esse processo não aconteceu. O continente continua pobre; a vida do indivíduo médio é muito semelhante à de seus ancestrais de várias gerações atrás. Por quê?

O processo de inovação não ocorre no vácuo. Inventores e empreendedores se beneficiam do conhecimento acumulado para produzir coisas novas. É assim que a ciência e a tecnologia evoluem. Como dito por Sir Isaac Newton: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”.

Esse processo é potencializado pelo acesso ao conhecimento e informação. Não é o que ocorre em Westeros. Lá a imensa maioria da população é analfabeta. O conhecimento científico é monopólio dos meistres e arquimeistres. Meistres são treinados na Citadela (em Vilavelha) por arquimeistres, e depois de formados passam a servir casas nobres. Na Cidadela, o conhecimento está codificado em um conjunto imenso de livros, cujo acesso é bastante restrito.

Isso pôde ser visto na temporada que acabou de se encerrar. O personagem Samwell Tarly estava estudando na Citadela para se tornar um meistre. Mas havia livros que, mesmo para ele, estavam fora dos limites. Só arquimeistres tinham acesso a eles.

Ele acabou desobedecendo seus professores e pegou um livro restrito, onde aprendeu uma técnica para curar um personagem acometido de um mal terrível (escamagris). E, apesar de revelar a eficiência da técnica (contribuindo para o conhecimento), acabou sendo punido com tarefas enfadonhas, por causa da insubordinação.

Isso revela outro aspecto dessa sociedade, que perpetua a pobreza e estagnação. No mundo moderno, a descoberta de uma nova técnica é premiada com prestígio e riqueza. Em Westeros, o inovador recebe uma punição. Os incentivos ao empreendedorismo e inovação não são lá muito fortes.

Consequentemente, a ciência e a tecnologia não avançam. A capacidade de produzir da sociedade permanece estagnada. E o mundo, assim, não muda muito com o passar do anos.

Na série, a personagem Daenerys Targaryen quer “quebrar a roda”, acabando com séculos de guerras entre as casas nobres pelo poder e com a opressão da população mais pobre. Mas, para reduzir a pobreza, precisará ir além: terá de propiciar educação para a população e derrubar o monopólio do conhecimento por parte de meistres e arquimeistres.

Há artigos muito legais por aí (em inglês) sobre o tema. Dois deles foram usados como base para escrever este texto: o de Peter Antonioni * e o de Adam Ozimek**. Eles enfatizam o aspecto discutido acima (monopólio do conhecimento), mas ainda falam de outras coisas, como bancos, energia e dragões. Para quem tiver interesse, vale muito a pena.

 

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Game of Thrones: o inverno chegou, mas e a Revolução Industrial?

game of trhones-revolução industrial Mais uma temporada de Game of Thrones terminou, montando o palco para a Grande Guerra entre vivos e mortos marcada para 2018. A série tem uma legião de fãs ao redor do mundo, e economistas não estão imunes ao seu apelo. Há artigos muito interessantes discutindo por que algo como a Revolução Industrial não ocorreu em Westeros – continente fictício em que ocorre boa parte da ação na série. Westeros é, em larga medida, baseado na Europa medieval. Grande parte da população é pobre; há imensa desigualdade, com poder e recursos concentrados nas mãos de poucas famílias nobres. Quase não se observam avanços tecnológicos. Na verdade há até sinais de regressão tecnológica. Por exemplo, a técnica de fabricar espadas com aço valiriano perdeu-se com o tempo, não sendo mais conhecida nos tempos atuais da série. Porém, ao contrário do que aconteceu na Europa Ocidental, Westeros está dessa mesma forma há muitos séculos. Amostra disso é o castelo de Winterfell, construído cerca de 8.000 anos atrás: continua de pé e abrigando uma das principais casas nobres do reino (Stark). Na Europa Ocidental, a Revolução Industrial ocorreu no final do século 18. Desde então o mundo se alterou muito rapidamente. Passamos a observar ganhos substanciais de padrão de vida, queda na pobreza, aumento de salários reais e diversidade de produtos, como nunca antes vivenciados na história da humanidade. Hoje o mundo é um lugar bastante desigual, mas muito melhor para se viver do que há 200 anos. Tudo isso graças à aceleração impressionante do progresso tecnológico. Ele propicia ganhos de produtividade, isto é, que se produza cada vez mais com as mesmas quantidades de insumos (trabalho, capital, terra etc), o que permite que o bem-estar material médio das populações se expanda ao longo do tempo. Mudanças tecnológicas também introduzem novos produtos, que aumentam nossa qualidade de vida. Eletricidade, trem, telefone, rádio, máquina de lavar, internet, aquecimento central, etc., etc., etc. Nada disso existia 200 anos atrás. Na fictícia terra de Westeros, entretanto, esse processo não aconteceu. O continente continua pobre; a vida do indivíduo médio é muito semelhante à de seus ancestrais de várias gerações atrás. Por quê? O processo de inovação não ocorre no vácuo. Inventores e empreendedores se beneficiam do conhecimento acumulado para produzir coisas novas. É assim que a ciência e a tecnologia evoluem. Como dito por Sir Isaac Newton: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”. Esse processo é potencializado pelo acesso ao conhecimento e informação. Não é o que ocorre em Westeros. Lá a imensa maioria da população é analfabeta. O conhecimento científico é monopólio dos meistres e arquimeistres. Meistres são treinados na Citadela (em Vilavelha) por arquimeistres, e depois de formados passam a servir casas nobres. Na Cidadela, o conhecimento está codificado em um conjunto imenso de livros, cujo acesso é bastante restrito. Isso pôde ser visto na temporada que acabou de se encerrar. O personagem Samwell Tarly estava estudando na Citadela para se tornar um meistre. Mas havia livros que, mesmo para ele, estavam fora dos limites. Só arquimeistres tinham acesso a eles. Ele acabou desobedecendo seus professores e pegou um livro restrito, onde aprendeu uma técnica para curar um personagem acometido de um mal terrível (escamagris). E, apesar de revelar a eficiência da técnica (contribuindo para o conhecimento), acabou sendo punido com tarefas enfadonhas, por causa da insubordinação. Isso revela outro aspecto dessa sociedade, que perpetua a pobreza e estagnação. No mundo moderno, a descoberta de uma nova técnica é premiada com prestígio e riqueza. Em Westeros, o inovador recebe uma punição. Os incentivos ao empreendedorismo e inovação não são lá muito fortes. Consequentemente, a ciência e a tecnologia não avançam. A capacidade de produzir da sociedade permanece estagnada. E o mundo, assim, não muda muito com o passar do anos. Na série, a personagem Daenerys Targaryen quer “quebrar a roda”, acabando com séculos de guerras entre as casas nobres pelo poder e com a opressão da população mais pobre. Mas, para reduzir a pobreza, precisará ir além: terá de propiciar educação para a população e derrubar o monopólio do conhecimento por parte de meistres e arquimeistres. Há artigos muito legais por aí (em inglês) sobre o tema. Dois deles foram usados como base para escrever este texto: o de Peter Antonioni * e o de Adam Ozimek**. Eles enfatizam o aspecto discutido acima (monopólio do conhecimento), mas ainda falam de outras coisas, como bancos, energia e dragões. Para quem tiver interesse, vale muito a pena.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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