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 Per què volen la independència?

O referendo do fim de semana na Catalunha ocorreu sob grande tensão e repressão. O governo espanhol não curtiu a ideia, avisou que ia reprimir e o fez, talvez com excesso de vigor.  Foram aproximadamente 2 milhões de votos, 92% dos quais a favor da independência. Dezenas de feridos, nenhuma mudança de jure.

O que está por trás desse tipo de movimento por independência que vemos dentro de alguns países? Por que ele se intensificou nos últimos 50 anos? Por que temos uns 200 países no mundo em vez de 2 mil ou 20?

Países grandes levam enormes vantagens econômicas sobre pequeninos. Primeiro, eles têm maior capacidade de se defender porque o contingente de pessoas influencia o poder militar (ainda que hoje menos que antigamente). Segundo, porque vários bens públicos fornecidos pelo governo são potencializados por escala. Por exemplo, é melhor que 200 milhões de pessoas repartam os custos de financiamento de um Banco Central ou de um Congresso Nacional do que dividi-los entre 10 milhões de pessoas. Talvez o mais importante: um país extenso permite que as pessoas se especializem em diversas áreas de produção em maior grau que em um país pequeno, justamente por conta da escala do mercado interno, que é grande. Num mundo com barreiras de todo tipo ao comércio entre países, tamanho importa! Melhor ser grande do que pequeno.

Mas há custos sociais associados à ampla extensão territorial e a muita gente diferente vivendo junto. Hábitos, culturas e preferências têm forte componente local. Identidade é mais regional que nacional (Mauro morre pelo Corinthians, mas não está nem aí para a seleção). Na Catalunha, o sentimento de pertencimento a uma comunidade com cultura e línguas diferentes da espanhola é forte. A prova da importância desse fator é empírica: os caras estão dispostos a ir para um tremendo pau por sua identidade local. Se a América Latina tivesse algum dia realizado o sonho bolivariano de união, e fôssemos, digamos, ali por 1850, um único país, teríamos seguramente testemunhado dezenas de guerras de independência desde então. O estranho na região é como o Brasil se manteve unido a despeito de tamanha extensão territorial, não o oposto!

O trade-off então é claro: ser pequeno gera custos econômicos importantes, mas há um benefício associado a uma identidade mais bem delineada. A decisão de quais bens públicos prover depende também da variável identidade.

Nos últimos 60 anos, esses movimentos separatistas vêm ganhando força. Temos muito mais (e menores) países do que no pós-guerra, mesmo sem contar com aqueles surgidos após a queda do império soviético. Éramos 106, e agora somos 194. Por quê? Os catalães não temem os custos econômicos de viver em um país pequeno?

Resposta: claro que sim, mas cada vez menos. O crescimento espetacular do comércio mundial desde os anos 1950 reduziu esse custo: você não está mais limitado a vender apenas para um (ex?) conterrâneo; vender para o vizinho já não é tão difícil ou custoso quanto antes. E em termos de proteção, há uma solução alternativa satisfatória: entrar para um clubinho qualquer, uma aliança com outros países, à la OTAN.

Não importa se você, leitor, ou nós aqui achemos que a Catalunha mais perde do que ganha. O que importa é que, dadas as preferências deles, está ficando menos custoso, economicamente, ser um país autônomo.

 

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