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Todos estamos sujeitos a eventos inesperados que podem levar a dificuldades financeiras: um problema de saúde, perda do emprego (no caso do trabalhador), queda nas vendas (no caso do empresário) ou uma mudança inesperada no clima (no caso do agricultor). Em economia, esses eventos são chamados de “choques negativos”.

Um sistema financeiro bem desenvolvido pode fazer com essas situações sejam menos penosas. Por exemplo, na ocorrência de um choque do tipo, o indivíduo pode tomar um empréstimo, não precisando reduzir compras de seus itens de consumo mais essenciais. Em outras palavras, o crédito funciona como um seguro contra essas adversidades inesperadas.

Entretanto, em muitos países mais pobres, o sistema financeiro não é suficientemente desenvolvido, e poucas pessoas têm acesso a instrumentos que permitam limitar os efeitos dessas eventualidades. As pessoas acabam recorrendo a alternativas, como a ajuda de parentes e conhecidos (na forma de empréstimos ou até doações).

Mas essa alternativa é limitada. Se parentes e conhecidos morarem longe, terão dificuldade em mandar o dinheiro – sobretudo quando não se tem acesso ao sistema financeiro. A transferência física do recurso pode ser bem custosa, envolvendo gastos e tempo associados ao deslocamento, além do risco de roubo no trajeto.

Só que a tecnologia vem mudando esse quadro, com destaque para a disseminação de aparelhos celulares em todos os cantos do mundo. A África Subsaariana, por exemplo, é uma das regiões mais pobres do globo. E é justamente lá onde o “dinheiro móvel” se tornou mais popular, possibilitando transferir recursos entre usuários por meio de mensagens de celular.

No Quênia, essa tecnologia se disseminou de forma incrivelmente rápida. Em 2007, a principal companhia de telefonia do país celular criou um produto para realizar transferências de dinheiro entre pessoas – o M-PESA. Dez anos depois, estima-se que 97% dos domicílios do país tenham acesso à tecnologia.

Além disso, desenvolveu-se uma ampla rede de agentes, que podem receber dinheiro físico, trocando-o por créditos usados nas transferências de dinheiro; e para entregar dinheiro aos usuários, caso eles queiram “sacar”. Esses agentes incluem tanto lojas físicas da operadora, como outros pontos de comércio.

O arranjo permite que os indivíduos possam recorrer mais facilmente à ajuda de seus amigos e parentes em caso de adversidade. Numa série de artigos acadêmicos, William Jack, Tavneet Suri e coautores avaliam o impacto dessa tecnologia, com base em entrevistas com quenianos realizadas no período em que o sistema de transferências por celular se expandia. Para isso, coletam dados de pessoas que usavam e que não usavam a tecnologia, focando na ocorrência de choques negativos.

Os resultados são consistentes com a discussão acima. Especificamente, para os não usuários do M-PESA, há uma queda significativa do consumo quando acometidos por um choque adverso. Entretanto, para os usuários do M-PESA, essa variação no consumo é estatisticamente nula.

Isso indica que os usuários da tecnologia conseguem se proteger melhor de dificuldades inesperadas – ao contrário dos não usuários, que precisam reduzir consumo para fazer frente a gastos inesperados ou a reduções temporárias da renda.

No mecanismo sugerido, esse movimento ocorre porque os indivíduos em dificuldade recebem dinheiro de outras pessoas via celular. Isso também aparece nos dados: usuários do M-PESA, que reportaram choques negativos, também têm maior probabilidade de receberem transferências por meio da tecnologia.

Para mais detalhes, veja aqui as fontes consultadas, em inglês:

https://blogs.commons.georgetown.edu/billyjack/files/2014/03/Jack-Suri.pdf

https://blogs.commons.georgetown.edu/billyjack/files/2012/11/Jack-Ray-Suri.pdf

https://blogs.commons.georgetown.edu/billyjack/files/2012/11/Suri-Jack-Stoker.pdf

https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-economics-063016-103638

 

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Já pensou em transferir dinheiro por SMS? Na África já é realidade

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