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							Quando o céu do cenário internacional é de brigadeiro, a economia brasileira por vezes patina, devido a nossos idiossincráticos entraves ao crescimento. Sobre esses não discutiremos hoje. O assunto é o céu revolto que caracteriza a economia mundial.

Sob uma perspectiva temporal mais longa, a economia mundial tomou três tabefes sonoros desde 2008. Primeiro veio a grande crise financeira, resultado de má regulação no mundo desenvolvido quase que inteiro; logo em seguida, tivemos a crise da dívida na Europa, que teve origem numa distorção de incentivos oriunda de uma união monetária mal-ajambrada, implementada na virada do século. O mundo então chegou a 2020 com endividamento estupidamente elevado e política monetária esgotada. Não havia espaço para choques, mas aí veio a Covid e depois a invasão da Ucrânia.

A resposta ao susto da pandemia foi sem precedentes. Lá no caldeirão do segundo trimestre de 2020, com PIB desabando, a percepção era de um cenário de fim de mundo, de colapso total e irrestrito, de alta probabilidade de uma reedição da Grande Depressão dos anos 1930. Bancos centrais entraram fundo no modo heterodoxo, adquirindo ativos privados para estimular o crédito e expandindo como possível a quantidade de moeda.

As autoridades fiscais incrementaram seus gastos de modo inédito. Por conta desses estímulos e também da natureza do choque adverso -- uma pandemia não afeta de modo relevante o potencial de crescimento da economia, apesar de paralisá-la no curto prazo -- já a partir do fim de 2020 a recuperação econômica se deu a uma velocidade não esperada. Com a chegada das vacinas em 2021, o passo dobrou, mas de modo geral, os governos seguiram em modo de pânico, pisando em todos os pedais de acelerador que encontravam pela frente. Resultado dessa falha de calibragem: uma alta brutal da inflação.

Esse cenário já estava bastante claro no meio de 2021, ou seja, um ano atrás. Com a invasão russa, os preços de diversas commodities se elevaram ainda mais, adicionando álcool à fogueira inflacionária que já sozinha ganhava musculatura. Em suma, a letargia dos bancos centrais, somada à insanidade de Putin, fez com que a inflação global saltasse de um pouco menos de 2% ali no meio de 2020 para perto de 9% em meros dois anos.

Combater a inflação é quase sempre um processo custoso, difícil. Justamente por isso atribuímos tanta importância em mantê-la sob controle, enjaulada. Da última vez que a fera fugiu da jaula, no começo dos anos 1980, os juros internacionais precisaram ir para mais de 10% para que ela voltasse a um nível mais civilizado. Mesmo que hoje a necessidade de ajuste seja menor, o fato é que lá atrás a dívida pública representava meros 30% do PIB. Hoje ela é de 100%. Um juro mais alto, ainda que não tão alto, vai dar dor de cabeça para a política fiscal.

Os mercados estão se dando conta desse cenário; estão começando a entender que inflação assim arraigada não vai embora sem sacrifícios. Essa incerteza em si já afeta investimentos e consumo, antes mesmo que se ministre o remédio amargo do juro alto. Para países emergentes como o Brasil, as consequências são menor crescimento interno e desvalorização cambial. Ou seja: atividade econômica fraca e prosseguimento das pressões inflacionárias. O pior de dois mundos.

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O cenário é ruim

Quando o céu do cenário internacional é de brigadeiro, a economia brasileira por vezes patina, devido a nossos idiossincráticos entraves ao crescimento. Sobre esses não discutiremos hoje. O assunto é o céu revolto que caracteriza a economia mundial.

Sob uma perspectiva temporal mais longa, a economia mundial tomou três tabefes sonoros desde 2008. Primeiro veio a grande crise financeira, resultado de má regulação no mundo desenvolvido quase que inteiro; logo em seguida, tivemos a crise da dívida na Europa, que teve origem numa distorção de incentivos oriunda de uma união monetária mal-ajambrada, implementada na virada do século. O mundo então chegou a 2020 com endividamento estupidamente elevado e política monetária esgotada. Não havia espaço para choques, mas aí veio a Covid e depois a invasão da Ucrânia.

A resposta ao susto da pandemia foi sem precedentes. Lá no caldeirão do segundo trimestre de 2020, com PIB desabando, a percepção era de um cenário de fim de mundo, de colapso total e irrestrito, de alta probabilidade de uma reedição da Grande Depressão dos anos 1930. Bancos centrais entraram fundo no modo heterodoxo, adquirindo ativos privados para estimular o crédito e expandindo como possível a quantidade de moeda.

As autoridades fiscais incrementaram seus gastos de modo inédito. Por conta desses estímulos e também da natureza do choque adverso -- uma pandemia não afeta de modo relevante o potencial de crescimento da economia, apesar de paralisá-la no curto prazo -- já a partir do fim de 2020 a recuperação econômica se deu a uma velocidade não esperada. Com a chegada das vacinas em 2021, o passo dobrou, mas de modo geral, os governos seguiram em modo de pânico, pisando em todos os pedais de acelerador que encontravam pela frente. Resultado dessa falha de calibragem: uma alta brutal da inflação.

Esse cenário já estava bastante claro no meio de 2021, ou seja, um ano atrás. Com a invasão russa, os preços de diversas commodities se elevaram ainda mais, adicionando álcool à fogueira inflacionária que já sozinha ganhava musculatura. Em suma, a letargia dos bancos centrais, somada à insanidade de Putin, fez com que a inflação global saltasse de um pouco menos de 2% ali no meio de 2020 para perto de 9% em meros dois anos.

Combater a inflação é quase sempre um processo custoso, difícil. Justamente por isso atribuímos tanta importância em mantê-la sob controle, enjaulada. Da última vez que a fera fugiu da jaula, no começo dos anos 1980, os juros internacionais precisaram ir para mais de 10% para que ela voltasse a um nível mais civilizado. Mesmo que hoje a necessidade de ajuste seja menor, o fato é que lá atrás a dívida pública representava meros 30% do PIB. Hoje ela é de 100%. Um juro mais alto, ainda que não tão alto, vai dar dor de cabeça para a política fiscal.

Os mercados estão se dando conta desse cenário; estão começando a entender que inflação assim arraigada não vai embora sem sacrifícios. Essa incerteza em si já afeta investimentos e consumo, antes mesmo que se ministre o remédio amargo do juro alto. Para países emergentes como o Brasil, as consequências são menor crescimento interno e desvalorização cambial. Ou seja: atividade econômica fraca e prosseguimento das pressões inflacionárias. O pior de dois mundos.

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