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																					As mudanças climáticas são um problema real e urgente. Portanto, promover iniciativas focadas em mitigação e adaptação climática é um dos maiores desafios da atualidade. Mas como vamos fazer isso? E mais especificamente, o que é papel dos indivíduos, o que é papel das instituições privadas e o que é papel do governo?

Pode parecer uma pergunta trivial com uma resposta óbvia: cada um vai precisar fazer a sua parte. Mas vamos pensar no que isso realmente significa.

As decisões sobre emissões de carbono são resultantes das interações entre agentes econômicos, especificamente, da relação entre consumidores e firmas, o que inclui escolhas das empresas sobre como produzir e quanto produzir e decisões dos consumidores sobre o que e quanto comprar.

Tendo isso em mente, é nítido que previnir mudanças climáticas exige mudanças no comportamento individual. É algo que já se reflete em diferentes escolhas que algumas pessoas fazem nos dias de hoje: pagar mais caro por um produto se tiver certificação de origem sustentável, adotar uma dieta vegana ou vegetariana, ou até (como alguns amigos meus fazem) boicotar completamente viagens para lugares que dependem de avião e apenas utilizar meios de transporte de baixo carbono como trem, ônibus e bicicleta. A questão é que todo o mundo sabe que as iniciativas individuais – por mais bem-intencionadas que sejam – não são apenas insuficientes, mas muitas vezes insignificantes frente à magnitude do problema.

Uma ação das empresas, então, pode parecer mais relevante. Afinal, combater mudanças climáticas envolve repensar toda a cadeia de produção. Como comentamos anteriormente, são muitas as oportunidades que o setor privado tem de entrar nos novos mercados, principalmente o de carbono. Um exemplo é quando empresas compram créditos de carbono para compensar (em inglês, offset) a poluição gerada em suas atividades usuais.

Porém, isso também não vai resolver o problema climático. O principal desafio é que muitas vezes o mercado de offsets aparece hoje como uma forma de lavagem verde, ou em inglês, “greenwashing”. A lavagem verde ocorre quando empresas convencem os consumidores de que seus produtos ou serviços são mais ecologicamente corretos do que realmente são. Se as empresas compram créditos de carbono suficiente para compensar toda poluição gerada por suas atividades, podem alegar que seus produtos têm “emissão zero”, o que de fato os fazem parecer mais “verdes” para os clientes. Claro, esses créditos estão associados com projetos de compensação de carbono, que podem reduzir emissões ou aumentar o armazenamento de carbono quando bem executados. Mas o fato de as empresas comprarem esses créditos são soluções de curto prazo, pois não abordam de forma decisiva as principais fontes de emissão de carbono, como o uso de combustíveis fósseis. Também os créditos agem quase como se estivessem isentando empresas de culpa, o que pode ser problemático.

O problema do clima é, antes de tudo, um problema sobre externalidades, e então nem sempre é do interesse de empresas ou indivíduos tomar ações unilaterais. E, quando é, o impacto de iniciativas voluntárias isoladas é extremamente limitado.

Aí entra mais um agente econômico: o governo. É o governo que deve atuar para mudar as decisões de empresas e indivíduos em uma direção favorável ao clima, quer sejam usados ​​instrumentos baseados no mercado, políticas de comando e controle ou outros incentivos. Qual vai ser o mecanismo pelo qual as metas futuras vão se traduzir em ações? O governo precisa decidir qual meta climática é razoável, o que temos de fazer hoje para alcançá-la, pensar se existem obstáculos para essa ação, desenhar ações com o objetivo de superar esses obstáculos, identificar quem são os agentes que podem ser negativamente afetados por essas ações e, por fim, traçar mecanismos de compensação para minimizar perdas de bem-estar – isto é, minimizar a perda de utilidade dos agentes, ou, em outras palavras, evitar a perda de excedente dos consumidores e produtores.

É uma tarefa extremamente desafiadora que cabe aos nossos governantes eleitos. Porém, apenas a vontade governamental também não é suficiente para resolver o problema do clima. Tem de haver também uma maneira de medir o progresso, de analisar políticas a ações. E também de conseguir comparar alternativas na hora de escolher o melhor caminho para alcançar metas, ou seja, o caminho que tem o menor custo pela mesma efetividade. Aí entram os cientistas, incluindo economistas e outros pesquisadores. Além do papel de desenhar, avaliar e prever o impacto de políticas públicas, os cientistas e pesquisadores também são responsáveis por criar as novas tecnologias – incluindo instrumentos econômicos mais eficientes – para auxiliar na transição para uma economia de baixo carbono. É por isso que em outro textos desta coluna falamos bastante da importância da ciência e da inovação para a retomada verde da economia.

Sem que haja uma ação conjunta entre sociedade civil, empresas, governantes e universidades, não vamos ser capazes de resolver o problema do clima, a grande crise da nossa geração.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO

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Como resolver o problema do clima? Uma explicação do ponto de vista dos economistas

As mudanças climáticas são um problema real e urgente. Portanto, promover iniciativas focadas em mitigação e adaptação climática é um dos maiores desafios da atualidade. Mas como vamos fazer isso? E mais especificamente, o que é papel dos indivíduos, o que é papel das instituições privadas e o que é papel do governo?

Pode parecer uma pergunta trivial com uma resposta óbvia: cada um vai precisar fazer a sua parte. Mas vamos pensar no que isso realmente significa.

As decisões sobre emissões de carbono são resultantes das interações entre agentes econômicos, especificamente, da relação entre consumidores e firmas, o que inclui escolhas das empresas sobre como produzir e quanto produzir e decisões dos consumidores sobre o que e quanto comprar.

Tendo isso em mente, é nítido que previnir mudanças climáticas exige mudanças no comportamento individual. É algo que já se reflete em diferentes escolhas que algumas pessoas fazem nos dias de hoje: pagar mais caro por um produto se tiver certificação de origem sustentável, adotar uma dieta vegana ou vegetariana, ou até (como alguns amigos meus fazem) boicotar completamente viagens para lugares que dependem de avião e apenas utilizar meios de transporte de baixo carbono como trem, ônibus e bicicleta. A questão é que todo o mundo sabe que as iniciativas individuais – por mais bem-intencionadas que sejam – não são apenas insuficientes, mas muitas vezes insignificantes frente à magnitude do problema.

Uma ação das empresas, então, pode parecer mais relevante. Afinal, combater mudanças climáticas envolve repensar toda a cadeia de produção. Como comentamos anteriormente, são muitas as oportunidades que o setor privado tem de entrar nos novos mercados, principalmente o de carbono. Um exemplo é quando empresas compram créditos de carbono para compensar (em inglês, offset) a poluição gerada em suas atividades usuais.

Porém, isso também não vai resolver o problema climático. O principal desafio é que muitas vezes o mercado de offsets aparece hoje como uma forma de lavagem verde, ou em inglês, “greenwashing”. A lavagem verde ocorre quando empresas convencem os consumidores de que seus produtos ou serviços são mais ecologicamente corretos do que realmente são. Se as empresas compram créditos de carbono suficiente para compensar toda poluição gerada por suas atividades, podem alegar que seus produtos têm “emissão zero”, o que de fato os fazem parecer mais “verdes” para os clientes. Claro, esses créditos estão associados com projetos de compensação de carbono, que podem reduzir emissões ou aumentar o armazenamento de carbono quando bem executados. Mas o fato de as empresas comprarem esses créditos são soluções de curto prazo, pois não abordam de forma decisiva as principais fontes de emissão de carbono, como o uso de combustíveis fósseis. Também os créditos agem quase como se estivessem isentando empresas de culpa, o que pode ser problemático.

O problema do clima é, antes de tudo, um problema sobre externalidades, e então nem sempre é do interesse de empresas ou indivíduos tomar ações unilaterais. E, quando é, o impacto de iniciativas voluntárias isoladas é extremamente limitado.

Aí entra mais um agente econômico: o governo. É o governo que deve atuar para mudar as decisões de empresas e indivíduos em uma direção favorável ao clima, quer sejam usados ​​instrumentos baseados no mercado, políticas de comando e controle ou outros incentivos. Qual vai ser o mecanismo pelo qual as metas futuras vão se traduzir em ações? O governo precisa decidir qual meta climática é razoável, o que temos de fazer hoje para alcançá-la, pensar se existem obstáculos para essa ação, desenhar ações com o objetivo de superar esses obstáculos, identificar quem são os agentes que podem ser negativamente afetados por essas ações e, por fim, traçar mecanismos de compensação para minimizar perdas de bem-estar – isto é, minimizar a perda de utilidade dos agentes, ou, em outras palavras, evitar a perda de excedente dos consumidores e produtores.

É uma tarefa extremamente desafiadora que cabe aos nossos governantes eleitos. Porém, apenas a vontade governamental também não é suficiente para resolver o problema do clima. Tem de haver também uma maneira de medir o progresso, de analisar políticas a ações. E também de conseguir comparar alternativas na hora de escolher o melhor caminho para alcançar metas, ou seja, o caminho que tem o menor custo pela mesma efetividade. Aí entram os cientistas, incluindo economistas e outros pesquisadores. Além do papel de desenhar, avaliar e prever o impacto de políticas públicas, os cientistas e pesquisadores também são responsáveis por criar as novas tecnologias – incluindo instrumentos econômicos mais eficientes – para auxiliar na transição para uma economia de baixo carbono. É por isso que em outro textos desta coluna falamos bastante da importância da ciência e da inovação para a retomada verde da economia.

Sem que haja uma ação conjunta entre sociedade civil, empresas, governantes e universidades, não vamos ser capazes de resolver o problema do clima, a grande crise da nossa geração.

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